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“Imaginando o futuro”, Reunião Magna da ABC debate os avanços na Ciência e discute crise no País.


Em um país mergulhado em uma crise econômica, social e política profunda, é cada vez mais difícil pensar em perspectivas para o futuro. Difícil, porém urgente e necessário. Não por acaso, este é o tema que a Academia Brasileira de Ciências (ABC) escolheu para sua Reunião Magna de 2018: Imaginando o Futuro. O evento se realiza esta semana, de 8 a 10 de maio, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e reúne cientistas do Brasil e do mundo para discutir estratégias para o desenvolvimento do País por meio da ciência e da tecnologia.



Logo da Reunião Magna da ABC 2018.

Créditos: ABC


A Reunião Magna tem como objetivo debater os avanços tecnológicos em curso no País e no mundo, as perspectivas da ciência para as diversas áreas e seus possíveis impactos na sociedade. Na programação, conferências e discussões trazem as últimas novidades na área da saúde, bioeconomia e tecnologia que podem trazer melhorias na qualidade de vida da população. Mas um tema pujante permeou todas as sessões do evento: a desvalorização da ciência como área estratégica da economia e da nossa sociedade e os severos cortes orçamentários, que inviabilizam qualquer projeto de impacto no País.

“Estão cortando investimentos em ciência e educação, são cortes no futuro do Brasil. Mas temos que continuar a imaginar soluções para os desafios futuros, para o desenvolvimento social, mobilidade, meio ambiente, saúde, etc.. E tudo isso depende dos avanços científicos”, afirmou José Boisson de Marca, coordenador geral do evento.

Conforme destacou o presidente da ABC, Luiz Davidovich, o orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) corresponde a 40% do de 2013, corrigido pela inflação. “O contingenciamento afetou severamente diversos laboratórios do País. Se excluirmos a Comunicação, pois em 2013 não havia ainda a fusão dos ministérios, o orçamento de 2018 é apenas 1/3 de cinco anos atrás”, calculou. Soma-se a esse cenário, a acelerada desindustrialização do País. “Sem indústria fenece a economia; sem inovação fenece a indústria; sem ciência, não há inovação”, disse, apontando os exemplos da China e da Coreia que, ao contrário do que tem feito o Brasil, apostam fortemente na valorização da ciência como parte da estratégia de alavancar a indústria, a economia e o bem estar social de suas nações.

Davidovich ressaltou a responsabilidade da comunidade científica de reverter esse “processo temerário” que afeta o futuro do País. “É preciso impedir o desenvolvimento desse ovo de serpente, antes que seja tarde demais. O futuro será mais próximo se participarmos de sua construção”, concluiu.


Imaginando o futuro

Nos três dias de debates, foram abordados exemplos bem sucedidos e propostas para investir em C&T de forma a criar impactos que sejam relevantes socialmente e que tenham fôlego para o longo prazo. Um dos modelos apresentados foi a política científica da Comissão Europeia, que das dez prioridades gerais que estabelece, sete estão relacionadas com pesquisa e inovação. Um dos maiores programas de pesquisa é o Horizon 2020, onde já foram investidos, em sete anos, mais de 80 bilhões de euros. “Não interessa a pesquisa incremental. O programa está focado em pesquisas de fronteiras”, conta Andrzej Jajszczyk, do Conselho Europeu de Pesquisa (ERC), um dos “building blocks” da política europeia de pesquisa.

Na Coreia do Sul, o governo estabeleceu como prioridade promover inovações econômicas, renovar a fundação nacional de ciência e a realização da felicidade nacional. Para isso, elencou estratégias para o avanço científico do país, entre eles, a expansão do investimento na área – que deve chegar a 5% do PIB nacional -, o desenvolvimento tecnológico estratégico, promoção da indústria 4.0 e a criação de empregos, conforme contou Jan Moo Lee, presidente da Universidade Nacional de Soul. O orçamento previsto para CT&I no País em 2018 é da ordem de U$ 70 bilhões. “A Coreia do Sul pretende chegar ao topo dos maiores países do mundo em pesquisa e desenvolvimento”, disse.

Sobre o bem estar da sociedade, o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, confirmou que o debate mundial vem reforçando a necessidade de empregar os benefícios das pesquisas na vida das pessoas. “É uma tendência em instituições do mundo mostrar os efeitos sociais de seus trabalhos. Nós gostaríamos que a pesquisa que se faz no Brasil gerasse impactos em três dimensões: social, econômica e intelectual. O sistema nacional de CT&I deve criar condições para realizar esses três efeitos na nossa sociedade”, pontuou.

Brito Cruz mostrou o crescimento contínuo da ciência no Brasil, com impacto internacional, mas ponderou que falta no País um planejamento de longo prazo. “As universidades brasileiras fazem muita coisa, mas a instabilidade nos investimentos que promovem a relação dessas instituições com a indústria abala a credibilidade das empresas para investir em inovação”, afirmou.

O evento contou ainda com a participação de Mariana Mazzucato, considerada uma das mais importantes pensadoras da inovação no mundo. E segundo a economista italiana e professora da Universidade de Sussex, para que a economia cresça, o Estado precisa mudar o raciocínio de simplesmente facilitar a inovação: o financiamento público deve adotar missões que criem ondas de expansão, e que induziam investimentos das empresas em pesquisas. “As organizações públicas precisam pensar em suas missões na sociedade. Devem estimular o interesse das empresas em investir. Devem pensar na próxima geração de investimentos. E precisam engajar a sociedade toda nesse processo”, recomendou.


Homenagens e mobilização política

O presidente da ABC apresentou uma das iniciativas da Academia para influenciar na política nacional, um documento de 12 páginas direcionado aos candidatos à Presidência da República que se apresentarão para as eleições de outubro próximo. A Academia elenca propostas para promover a ciência, a tecnologia, a economia e a qualidade de vida no Brasil – elementos que para serem efetivos, devem caminhar juntos. “Nosso olhar está direcionado para o futuro, ajudando a formular uma agenda para o desenvolvimento nacional. Tem sido uma luta árdua na defesa da ciência e da tecnologia brasileira”, afirmou Davidovich, ressaltando a parceria da ABC com a SBPC em ações intensas junto ao governo para reverter o quadro crítico da ciência brasileira.

“O cientista vive de sonhos. E o Brasil precisa sonhar mais. Sonhar e realizar. Sonhar e trabalhar para que o sonho se realize”, disse Davidovich, durante a cerimônia de posse dos novos 16 membros da Academia, na quarta-feira, 9.

O professor de história da cultura e da arte da Unicamp, Jorge Sidnei Coli Junior, foi agraciado com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, a mais importante honraria em CT&I no País, entregue durante a celebração dos novos acadêmicos. A láurea foi concedida por suas contribuições na área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes ao longo de sua carreira. Em um emocionado discurso, defendeu o fortalecimento da universidade pública e gratuita e o “destino humanista das universidades”. “Em um país com tão fortes desigualdades sociais e ainda mais em momentos de incertezas tão pronunciadas com as que atravessamos, para que serve a história da arte? Serve para que possamos ter uma apreensão complexa e profunda da humanidade e da sua cultura. A história da arte ensina a lidar com o não dito, com a incerteza constante e as articulações mais finas. Nem as artes, nem as humanidades e nem a cultura são supérfluas. É por elas que damos sentidos às coisas e é graças a elas que o conhecimento e a ciência deixam de ser meros instrumentos para integrar um processo humanístico”, declarou.

Para um país ser realmente grande, observou o professor laureado, é essencial que exista um investimento nas ciências e na tecnologia contínuo e forte, e, da mesma forma, que se invista também das humanidades: “É preciso que essas humanidades cheguem aos universos mais frágeis da nossa sociedade, e isso só ocorrerá com o fortalecimento e a expansão de uma universidade pública gratuita, capaz de desenvolver e implantar de modo significativo as práticas de inclusão social”.

Alícia Kowaltowski, professora titular do Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP) e nova acadêmica, discursou em nome dos recém-empossados e também falou do compromisso de seus colegas em um momento em que – não apenas no Brasil mas em todo o mundo – o valor da ciência vem sendo questionado. “A ciência, quem tem a curiosidade como matéria-prima, é a mais humanas das atividades. Temos a responsabilidade de ajudar a melhorar a educação científica no País. Se não se compreende a importância da ciência, não temos o apoio da população”, afirmou.

Homenageado na Reunião Magna da ABC com a Medalha Henrique Morize, o matemático e ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências, Jacob Palis, lembrou ao ministro do MCTIC, Gilberto Kassab – presente à cerimônia – seu compromisso de conseguir que o orçamento para área chegasse a 2% do PIB nacional. “Ele prometeu, cumpriu e, depois, perdeu. Vamos ajudá-lo a conseguir de novo”, disse o cientista, sob aplausos da plateia.

O presidente do CNPq, Mario Neto Borges, defendeu que o Brasil tem potencial de ser uma grande nação, se tiver a CT&I como seu vetor de desenvolvimento a longo prazo. “Uma nação só é soberana se tem educação e ciência, tecnologia e inovação de qualidade. Quando tem recursos, a ciência é capaz de solucionar problemas e gerar desenvolvimento”.

Para o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, a Reunião Magna da ABC deste ano foi bastante proveitosa, debateu assuntos científicos de vanguarda e apresentou discussões e propostas importantes para as políticas públicas em CT&I e educação no Brasil. “Muitos cientistas das diversas áreas do conhecimento e de várias regiões do País foram laureados ou ingressaram como membros da ABC, mostrando a vitalidade da ciência brasileira. Com o tema de ‘Imaginando o futuro’, a reunião trouxe contribuições significativas também para a construção do futuro em nosso país que, é bom frisar, não está dado”, declarou.

Moreira também ressalta o papel estratégico da ciência no enfrentamento da crise que vem abatendo o Brasil. “Nosso país vive um momento de retrocesso grave em muitos domínios, em particular no apoio à ciência e à educação pública de qualidade, e há que se buscar coletivamente um projeto de nação que promova o desenvolvimento sustentável e com menos desigualdades. E a educação, a ciência e a tecnologia têm um papel essencial dentro disto”.

By Daniela Klebis – Jornal da Ciência. Posted: Maio 10, 2018.


Nota do Manager Editor: A ilustração apresentada não consta da matéria original e foi adicionada pela Editoria do Boletim.



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