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CULTURA DA QUÍMICA
Em nome dos pesquisadores. Exposição celebra o centenário da Academia Brasileira de Ciências no Museu do Amanhã, no Rio. Créditos: Pesquisa Fapesp
Nos primeiros anos, a instituição dedicou-se a promover conferências e a receber visitas de cientistas ilustres. Em 1925, por exemplo, Albert Einstein esteve no Brasil e participou de um encontro com membros da ABC no Rio. Um ano depois, a academia recebeu a cientista polonesa Marie Curie, ganhadora de dois prêmios Nobel e a primeira mulher a ser laureada. Tanto Einstein quanto Marie Curie se tornaram membros correspondentes da instituição. Em 1924, o Pavilhão da Tchecoslováquia, no Rio, foi cedido pelo governo brasileiro para se tornar a primeira sede própria da ABC... Créditos: AUGUSTO MALTA/ACERVO MIS RJ
A partir da década de 1920, a ABC dedicou-se a apoiar iniciativas de educação científica. Uma das primeiras ações foi participar, em 1923, da criação da Rádio Sociedade (atual Rádio MEC), a primeira emissora de rádio do país. Membro da academia na época, o médico, antropólogo e escritor Edgar Roquette-Pinto, um dos pioneiros da radiodifusão, convenceu a ABC a comprar equipamentos para montar a rádio no Rio. A emissora tinha um propósito educacional, com programas de literatura, música clássica e ciência. “Os fundadores da ABC argumentavam que, para conseguir o desenvolvimento do país, inclusive o econômico, seria necessário difundir a cultura científica”, conta Motoyama. ...decreto de 1934, assinado por Getúlio Vargas, reconheceu a academia como instituição de utilidade pública. Créditos: ACERVO ABC
Em 1924, a entidade participou da fundação da Sociedade Brasileira de Educação, que teve grande influência na criação do Ministério da Educação e Saúde, em 1930. Foi nessa época que a ABC começou a ganhar expressão política. Nos anos seguintes, liderou o movimento que reivindicou a criação, em 1951, do Conselho Nacional de Pesquisas, atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A proposta de criação do órgão foi elaborada por uma comissão da ABC presidida pelo almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, engenheiro formado pela Escola Polytechnica do Rio de Janeiro que realizou pesquisas em explosivos químicos. Álvaro Alberto esteve à frente da ABC em dois períodos: de 1935 a 1937 e de 1949 a 1951, ano em que deixou a entidade para assumir a presidência do recém-criado CNPq. Henrique Morize: primeiro presidente da ABC. Créditos: ACERVO ABC Também em 1951, meses depois, membros da ABC participaram da fundação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Pouco antes, em 1948, a academia havia apoiado a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Com o objetivo de representar diversas sociedades científicas do país, a SBPC passou a atuar em conjunto com a ABC na defesa dos interesses da comunidade científica. O trabalho de aconselhar órgãos do governo federal em assuntos científicos ganhou expressão na década de 1970, ainda durante o regime militar. Nesse período, o governo federal elaborou o primeiro e o segundo Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e reconheceu o papel da ABC como parte central do sistema de ciência e tecnologia do país. “A academia começou a emitir pareceres e a realizar estudos para o governo. Os recursos recebidos do governo passaram a contribuir para a manutenção da ABC”, conta Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP e presidente da ABC entre 1993 e 2007. Em sua gestão, Krieger deu novo fôlego a essa missão ao criar grupos de trabalho dedicados à elaboração de estudos e simpósios. Seus resultados foram publicados em livros, para consolidar o conhecimento em torno dos temas abordados e auxiliar gestores na condução de políticas públicas. Em 1923, diretores da ABC participaram da criação da Rádio Sociedade, que passou a funcionar nas dependências da academia. Créditos: ACERVO ROQUETTE-PINTO/ABL Em 2004, por exemplo, a instituição apresentou ao governo federal propostas para a reforma do ensino superior. Uma delas era privilegiar a interdisciplinaridade nas grades curriculares. O documento serviu de subsídio à criação de novas universidades federais. Em 2010, outro documento abordou a questão das águas ao analisar o funcionamento e a gestão dos sistemas hídricos no país. No campo da energia, especialistas ligados à ABC elaboraram diagnóstico sobre biocombustíveis mostrando que a produção do etanol de cana-de-açúcar não prejudicaria a segurança alimentar do planeta. O último trabalho foi publicado em 2014, sobre medicina translacional, que busca acelerar a interação entre a pesquisa de laboratório e a pesquisa clínica. Atualmente, a ABC tem 960 acadêmicos em seus quadros. Desse total, 535 são membros titulares, 198, correspondentes estrangeiros e 58, associados. Outros 167 são jovens cientistas que ficam ligados à academia pelo período de cinco anos e há dois membros colaboradores. A maioria dos acadêmicos atua nas áreas de ciências biomédicas, física, matemática e química. De acordo com o novo presidente da ABC, Luiz Davidovich, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IF-UFRJ), a instituição pretende ampliar seu contato com a sociedade. “Vamos investir em iniciativas de comunicação científica capazes de tornar a ABC mais conhecida. Queremos estar mais presentes na internet e nas redes sociais”. Em visita ao Observatório Nacional, em 1925, o físico Albert Einstein reuniu-se com membros da ABC. Créditos: ACERVO ABC Para Shozo Motoyama, o trabalho de divulgação científica da ABC poderia ser mais expressivo. “Para o brasileiro em geral, a ABC ainda é uma ilustre desconhecida. A National Academy of Sciences dos Estados Unidos tem um museu aberto à população, o Marian Koshland Science Museum, em Washington, com exposições que mostram ao público a relação entre a ciência e o cotidiano”, diz Motoyama. Outro desafio da ABC foi lembrado pelo matemático Jacob Palis, professor titular do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e presidente da ABC entre 2007 e maio de 2016. Em sua apresentação na cerimônia do centenário no Museu do Amanhã, no Rio, ele contou que uma das atuais prioridades da instituição é encorajar a atuação das mulheres na ciência. “Queremos descobrir mulheres para serem eleitas pela academia. A presença feminina deve ser mais marcante.” Hoje, a ABC abriga 826 homens e apenas 134 mulheres. Nota do Managing Editor - Esta matéria de autoria de Bruno de Pierro foi veiculada primeiramente na revista Pesquisa Fapesp, edição 244, de junho de 2016. |
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