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China é o país que produz mais artigos científicos no mundo. Brasil é o 12º.


Um estudo apresentado pela National Science Foundation (NSF) dos Estados Unidos apontou que a China é o país que mais produz artigos científicos no mundo, em termos de números absolutos, ultrapassando o gigante norte-americano. O relatório Science & Engineering Indicators 2018 foi publicado ontem, 18 de janeiro, destacando que os norte-americanos mantêm a liderança em muitos aspectos da produção científica, mas vêm perdendo espaço na competição mundial, especialmente para os países em desenvolvimento.

O Brasil aparece em 12º lugar entre os países com maior número de trabalhos publicados, com 53 mil artigos em 2016 – os chineses, no mesmo ano, tiveram 426 mil publicações. Além da China, a Índia, Coreia do Sul e Rússia – países que integram os Brics – figuram entre as dez nações que mais publicam artigos científicos no mundo. A Índia está terceiro lugar, com 110 mil artigos, ultrapassando o Japão, em número de produção científica.

O relatório foi destaque também na revista Nature, que observou uma tendência entre os países em desenvolvimento, que estão intensificando seus investimentos em ciência e tecnologia, de seguir uma direção ascendente nesse cenário. No entanto, conforme ressaltam, os Estados Unidos continuam sendo uma potência científica mundial, com pesquisas de alto nível de qualidade e impacto, formando o maior de número de doutores em ciência e tecnologia, além de ser, ainda, o principal destino de pesquisadores internacionais.

O que mais chama a atenção, no entanto, é o crescimento da China nos últimos 10 anos. Em 2006, o país tinha aproximadamente 190 mil artigos publicados, e em 2016 conquistou a liderança mundial com mais de 426 mil, um aumento de quase 125%. Segundo o estudo, o governo chinês vem ampliando gradualmente os investimentos em CT&I, e atualmente destina cerca de US$ 408 bilhões por ano em ciência e tecnologia (nos EUA, os investimentos giram em torno de US$ 500 bi, valor que não mudou muito nos últimos anos, segundo o relatório).

O Brasil, no mesmo período, também teve um aumento significante, de 89%, no número de artigos publicados, porém está muito aquém das economias emergentes que figuram entre os dez maiores, e os investimentos em ciência e tecnologia vêm caindo severamente nos últimos dois anos, deixando o sistema científico nacional à beira de um colapso.

Para o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, esse estudo reafirma o que a comunidade científica tem dito sempre: que o desenvolvimento científico e tecnológico depende do investimento continuado, permanente, e que é fundamental definir prioridades nacionais, como a China define em alguns setores. “Os países que estão apostando em investimento continuado e permanente, com política consolidada, estão avançando. O Brasil teve um início nisso e, embora com muitas dificuldades, estava em um processo crescente. Mas, infelizmente, estamos vendo uma desconstrução disso agora, o que é muito grave”, lamenta.

Segundo ele, o exemplo da China mostra por que o país está avançando rapidamente, e, em breve, atingirá o mesmo patamar dos países desenvolvidos também em termos de qualidade e impacto científico. “Tem uma crítica nesse relatório que a ciência (chinesa) ainda não atinge a qualidade europeia e dos Estados Unidos, e é verdade. Só que eles vão chegar lá em breve. Eles começam colocando bastante recursos, fazendo muita pesquisa, envolvendo muita gente e, depois, a qualidade – que deve ser uma preocupação permanente – vai aumentando”, enfatiza.

Paulo Artaxo, professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP e considerado um dos pesquisadores brasileiros mais influentes e mais citados no mundo, concorda que falta ao Brasil a visão estratégica da China para crescer. “O Brasil está investindo menos de 2% do que a China investe em C&T, por conta das diferentes visões sobre o que é o desenvolvimento de um país”, afirma.

A falta de investimento, de planejamento estratégico, está atrasando o desenvolvimento do País e o colocando, cada vez mais, em uma posição de menos importância no cenário mundial. Segundo o cientista, isso é consequência da atual conjuntura política nacional. “Tínhamos uma visão estratégica do desenvolvimento científico do País, da formação de cientistas, inclusive como maneira de subir a renda da população mais desfavorecida. Isso foi invertido pelo novo governo, que não tem o menor interesse em promover programas de distribuição de renda, de desenvolvimento científico e tecnológico, em apoiar universidades e institutos de pesquisa. Porque, realmente, o setor financeiro, que domina completamente a agenda política e econômica brasileira, não tem interesse nenhum nesse sentido”.

Artaxo afirma que é preciso que a sociedade reaja e exija politicas que fortaleçam o desenvolvimento econômico, científico e social do Brasil. “A sociedade brasileira tem que realmente reagir contra isto. Estamos vendo o País se enfraquecendo em todos os sentidos, econômico, social e científico, sem que haja uma reação da sociedade”.

Daniela Klebis – Jornal da Ciência. Posted: Jan 19, 2018.


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