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ARTIGOS DE OPINIÃO

Contemporaneidade no mundo acadêmico.


O Brasil é um país de urgências. São tantas questões inadiáveis para endereçar que esquecemos outras tantas e, com isso, deixamos de discutir temas que transcendem uma visão mais imediatista. Tome-se como exemplo o ensino superior. Há quem pense ser secundário discutir a qualidade da formação universitária enquanto há crianças sem acesso à merenda no ciclo fundamental. Não temos mais tempo a perder com esse tipo de sofisma. Precisamos tratar de toda a formação do brasileiro, do ensino básico ao superior, sem preconceito ou doutrinas que nortearam esse debate nos últimos anos. Muito mudou desde o século 20 – a revolução tecnológica veio para ficar.

Essa agenda pertence tanto ao aluno quanto ao professor, verdadeiros arquitetos e engenheiros de uma nação. Nunca na História da humanidade a educação foi tão importante para fazer as nações avançarem em sua base científica e se diferenciarem na criação de riqueza. Vemos algumas sociedades presas a opiniões e conceitos do passado, sem um olhar para o futuro, o futuro de um planeta mais algorítmico, mais competitivo, mais integrado pela tecnologia, e não mais só pelas forças políticas. Sociedades que prosperam com equilíbrio socioambiental e econômico têm na ciência a sua grande mola transformadora. Países como a Índia e a própria China entenderam isso de forma contundente.

Devemos lembrar, por exemplo, que em menos de cem anos dobramos o nível de expectativa de vida de cada um de nós. Não me estranharia sermos capazes de dobrar de novo neste século. A revolução que se dará no campo biotecnológico e da nanotecnologia, como instrumento de gestão de saúde, será transformadora, assim como aquela a que já assistimos em diversas indústrias. Esse movimento traz consigo um furor transformacional jamais visto em séculos passados.

Constata-se, portanto, que o capital foi substituído pelo saber e este, quando perseguido como projeto de nação, produz saltos qualitativos e em velocidade jamais vista. O investimento no saber, na pluralidade do pensamento e da investigação científica, ditará as nações que terão maior chance de permanecer na liderança socioeconômica e política do planeta, além de atrair e formar o melhor talento. Nada melhor para um país do que poder criar, reter e atrair os melhores do mundo.

Estudantes brasileiros estão entre os melhores em olimpíadas internacionais de matemática por causa de escolas 100% focadas em excelência. Ao mesmo tempo, constatamos a debilidade científica em sua formação básica. Não é mais uma tarefa do Estado per se, mas sem ele tampouco teremos chances duradouras. E é no desenho público x privado que poderemos encontrar soluções. Nós, brasileiros, não nos podemos dividir num debate público x privado. Temos de avançar num projeto de nação, calçado em ambos os ensinos, consolidando a valorização da ciência, dos valores éticos, da pluralidade e do respeito.

Precisamos, sim, falar da importância da universidade pública, assim como falar de como seremos capazes de financiá-la. Falar do nosso anseio por universidades privadas originando cientistas e profissionais altamente desejados tanto aqui como fora do Brasil. O século 21 tem pressa!

Há avanços. Conseguimos aumentar em mais de 60% o número de jovens matriculados no ensino superior em uma década, de acordo com os números do Ministério da Educação. Para um contingente de 8 milhões de alunos inscritos nos cursos, temos mais de 1 milhão de novos profissionais chegando ao mercado de trabalho a cada ano. A qualidade dessa mão de obra, bem como a sua capacidade de compreender a realidade que a espera e atender às necessidades da sociedade são fatores decisivos para o desenvolvimento do nosso país. Contudo também devemos discutir as novas profissões, que já são uma realidade nesta sociedade pós-digital.

Neste mundo em que as ocupações repetitivas serão quase integralmente absorvidas pela robótica e pela inteligência artificial, o desafio de criação de emprego e geração de renda ganha contornos novos e mais complexos. O Brasil simplesmente não pode ficar alheio a esse debate.

Há mais de 20 anos o Grupo Santander elegeu o ensino superior como principal foco dos seus investimentos de cunho social, uma decisão baseada em estudos que apontaram o apoio às universidades como uma das maneiras mais efetivas de contribuir para o desenvolvimento de um país. Temos focado esforços no apoio ao intercâmbio internacional de alunos e professores. Enxergamos nessa vivência uma poderosa ferramenta para a inserção do País no cenário geopolítico global, já que esses profissionais em formação trazem para casa uma nova visão do mundo em que vivemos.

Por isso em 2014, no 3º Encontro de Reitores Universia, conseguimos reunir no Rio de Janeiro 1.050 dirigentes de instituições de ensino superior de todo o mundo para discutir as tendências do ensino superior. Em maio deste ano uma nova mobilização será feita, desta vez na cidade de Salamanca, na Espanha. E o nosso Brasil estará representado por uma comitiva formada por uma centena de reitores de instituições públicas e privadas, de todos os portes e regiões.

Trata-se de uma oportunidade fantástica para as universidades brasileiras discutirem o que há de mais contemporâneo no mundo acadêmico. Queremos que esse seja o início de uma onda de mobilização social pelo desenvolvimento do ensino superior e da ciência no País, um caminho para mudanças profundas e significativas em toda a sociedade. Que construamos uma sociedade que celebre o saber científico. Que os cidadãos aspirem a ser estudiosos, cientistas, professores e que isso seja um sinal de um Brasil moderno no sentido mais amplo da palavra – moderno e humanista, com projeto de nação que vê no seu talento o seu grande diferencial.

Velocidade, amigos(as), porque o Brasil tem pressa.

Artigo de Sergio Rial. O Estado de São Paulo. Posted: Mar 02, 2018.


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