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ARTIGOS DE OPINIÃO
Retrospectiva e perspectiva de ensino e pesquisa em química O desenvolvimento da Química, enquanto ciência e indústria, em nosso país pode ser atestado pela sua contribuição ao PIB nacional e pelo crescimento da atividade de pesquisa. Não se pode traçar, mesmo que rapidamente, uma retrospectiva da Química em nosso país sem consideramos o impacto e conjunção de dois fatores. O primeiro diz respeito à implantação do programa de formação de recursos humanos, via pós-graduação, na década de 60 e o segundo, já mais recente, década de 80, o PADCT - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Antes do Programa PADCT, houveram, várias iniciativas, contudo, o destaque é colocado por conta de que o mesmo, que existe até hoje, efetivamente teve um papel fundamental sobre a Química brasileira. A presença deste Programa e a manutenção de sua continuidade de financiamento ajudou a formar a base científica da área, grande parte das facilidades científicas instaladas e a capacitação de recursos humanos. Não podemos deixar, ainda, de destacar, que o PADCT, que apesar de todas as dificuldades bem conhecidas da sua implantação, baseava-se num modelo que contemplava, ao mesmo tempo, a expansão da Química e uma forma descentralizada de fazê-la. É importante mencionar também o importante papel desempenhado pelas Sociedades Científicas, SBQ, ABQ, ABEQ, ABEPOL [1], que além de organizarem a comunidade, promoverem a discussão das políticas de C&T, deu a Química brasileira a visibilidade necessária, através da realização de congressos anuais, simpósios, etc. A Química tem dado uma contribuição importante ao crescimento da produção científica brasileira. Considerando o período 1981/1993, segundo dados publicados por de Meis e Leta [2], dos 47.184 trabalhos publicados a Química contribuiu com 8,4 % (3.976), a Física com 18,2% ( 8.568) e a Engenharia com 6,5% (3.069). Comparando com a contribuição destas áreas, em termos do número de trabalhos no mundo para o mesmo período, teríamos : Química 11,4% , Física 10,0% e Engenharia 10,5% . Como ocorre com outras áreas do conhecimento, a maior parte desta atividade desenvolve-se na região sudeste do país que contribuiu com cerca de 79,2%. SDentro desta rápida retrospectiva acreditamos ser oportuno algumas observações sobre o ensino de química de graduação. Tratam-se de colocações de um não-especialista, mas fruto de algumas reflexões que temos tido a oportunidade de fazer em função de nosso envolvimento em atividades que procuram detectar novas oportunidades de pesquisa e tendências da química para além de 2000. Uma questão que julgamos deve ser colocada nesta oportunidade é a seguinte : Em que medida os cursos de química atuais preparam os estudantes para o emprego ? Ou ainda, de que maneira nossos cursos permitem uma adaptação de seu temperamento, suas aptidões, seu conhecimento e a natureza de sua profissão ? Tais questões não são colocadas in abstracto mas dentro de um contexto econômico, social, político e cultural bastante duro e desfavorável, e por que não dizer, às vezes dramático. Países como o Brasil tem a necessidade de engajar-se num processo de evolução acelerada, que permita mudar em médio prazo ( 10 anos talvez) mais do que nos cinqüenta, cem e quem sabe nos quinhentos anos precedentes. Este processo não passa a margem da Universidade, pois se espera, inclusive, que uma parte importante deste processo ocorra dentro deste espaço. Desta maneira o ensino, de maneira geral, deverá passar por uma mutação, onde de elitista e altamente minoritário, se converta em ensino de massa. Ainda mais uma palavra sobre este assunto. No Brasil não temos, já há bastante tempo, uma Política Industrial nem uma Política Universitária, claras e duráveis, ou seja : uma espécie de objetivo nacional permanente. A falta destes instrumentos, no limite cria sérios problemas para várias atividades e, especialmente, para a Química. Não nos esqueçamos que o grande contigente de formados em Química ainda atua no setor produtivo e, que a cada especialidade da Química temos associado um setor industrial. Na maior parte dos países o crescimento do ensino superior de um lado e a evolução dos empregos, de outro, são dois fenômenos a priori autônomos que se manifestam, cada um, com a sua própria dinâmica. O primeiro é comandado pela elevação do nível de vida da população [ Eu não estudei mais meu filho já está na faculdade...] e o segundo pela adaptação dos diferentes setores da produção ao progresso tecnológico e as necessidades do consumo crescente. Se analisarmos detidamente como todos estas coisas se imbricam veremos que os acordos entre a Universidade e a economia estão ficando cada vez mais comuns. Várias agências de financiamento têm colocado, como premissa para enquadramento de projetos, o relacionamento com o setor produtivo. Apesar de ser prática corrente nos países desenvolvidos, ainda é incipiente em nosso país. Uma das causas deste prenúncio de mudança, de um lado, é que as indústrias não podem mais produzir de forma economicamente competitiva sem pessoal altamente qualificado, com forte formação básica, que dominem processos conceituais de técnicas cada vez mais especializadas e sofisticadas. De outro lado, a Universidade que dada a insuficiência de recursos, encontra neste relacionamento formas legítimas de obtenção de recursos extra-orçamentários. Além disto, tem-se observado que cada vez mais o professor tornasse um pesquisador ( com cobrança de produtividade e tudo ) e tende, por conseqüência, ensinar quase sempre, a sua própria especialidade. Estas colocações leva-nos a entender que, em termos de perspectiva, dado que a sociedade moderna depende cada vez mais da ciência, é necessário que ao químico moderno seja dada uma formação que o leve à uma polivalência técnica, que lhe permita acompanhar, ao longo de sua carreira, os rápidos e profundos progressos da ciência e tecnologia e as complicações advindas do desenvolvimento. Alguns estudiosos deste assunto tem colocado que o ensino contemporâneo deve armar o homem para a sociedade em mutação. Polivalência, e aqui acrescentamos multivariação, e cultura geral, devem encarnar-se nos valores da mudança. Nos parece, também, que estes devem ser alguns dos aspectos que devem nortear as estruturas curriculares. Revisar nossas atitudes enquanto professores nos parecem também urgente dentro do contexto de promovermos, a todo custo, a integração das diferentes áreas da Química na direção da abrangência. No que diz respeito as perspectivas para a pesquisa em Química, o otimismo moderado de alguns anos atrás está cedendo lugar à uma profunda apreensão. As continuadas mudanças nos altos escalões da Ciência e Tecnologia do país somada a uma política de freqüentes contingenciamentos fizeram com que as as principais agências de fomento, CNPq e FINEP, praticamente ficassem paralisadas desde outubro de 1998, desativando as modalidades de auxílios aos projetos de pesquisa. Tal situação que até o momento perdura, tem feito com que vários grupos de pesquisa pelo país estejam em situação muito difícil, perdendo capacidade de pesquisa e competitividade. Nos estados onde as FAPs estão operando a situação é um pouco melhor. São Paulo e a Fapesp são a grande exceção neste panorama de dificuldades. Desta maneira uma perspectiva favorável não só para a Química , mas para toda a ciência brasileira, passa por uma retomada urgente do financiamento à pesquisa em bases duradouras. Todo o esforço de anos de investimento já configurou uma massa crítica significativa de pesquisadores e grupos de excelência em Química, prontos para responder demandas importantes para o desenvolvimento do pais. Quase todas as Universidades brasileiras fizeram grande esforço na capacitação e ampliação de seus quadros docentes, valendo-se de formação tanto no Brasil quanto no exterior. São jovens pesquisadores: recém doutorados e pós-doutorados, chegados ou não do exterior, sobre os quais foram feitos importantes investimentos, e que neste momento precisam ser financiados para poderem dar sua contribuição ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional. Finalizando, do ponto de vista estritamente científico e tecnológico, uma perspectiva extremamente interessante e instigante está na utilização, por parte dos químicos brasileiros, das facilidades da radiação síncrotron existente em operação no Laboratório Nacional de Luz Sincrotron em Campinas, SP [3]. A utilização das diferentes linhas de luz poderá aportar resultados científicos e tecnológicos altamente significativos no estudo de polímeros, catalisadores, cerâmicas, sensores, biomateriais, meio ambiente, entre outros. Referência e Notas [1] L. de Meis e J. Leta, O Perfil da Ciência Brasileira, Ed. UFRJ (1996) |
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