Laboratório de Química do Estado Sólido
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ARTIGOS DE OPINIÃO

Pronunciamento do Professor Oswaldo Luiz Alves - Cerimônia de entrega do Título de Professor Honoris Causa na Universidade Federal do Ceará.



Em nome do Magnífico Reitor da Universidade Federal do Ceará  Professor  Henry de Holanda Campos gostaria de cumprimentar todos os Membros do Egrégio Conselho Universitário da UFC.

Em nome do Professor Antônio Gomes de Souza Filho, Pró-Reitor de Pesquisa da UFC, gostaria de cumprimentar todos os Professores da UFC, em especial aos Professores do Departamento de Física.


Senhoras e Senhores !

Que nossas primeiras palavras sejam de agradecimento ao Conselho Universitário da Universidade Federal do Ceará, na figura de seu Presidente, Prof. Henry de Holanda Campos, pela outorga do Título de Professor Honoris Causa. É uma honra imensa receber este reconhecimento de uma das melhores Universidades Brasileiras.

Para nós, reveste-se, também, de relevância ímpar a possibilidade de podermos estar aqui neste momento participando deste evento.

Não poderia deixar escapar esta oportunidade para fazer algumas considerações, construídas ao longo de nossa trajetória acadêmica, que teimosamente já passa de 45 anos.

Vivemos, Senhores, uma quadra altamente crítica em nosso país, na qual afloram, diariamente, problemas políticos, econômicos, éticos, de corrupção, de nepotismo , de intolerância racial e de gênero.

Todo este clima traz de volta a sombra do obscurantismo, que impacta sobremaneira a Ciência e o Conhecimento, obscurantismo cuja manifestação é tipificada  pelos movimentos anticiência que têm contaminado vários governantes, numa clara investida de desconstruir discursivamente a credibilidade da ciência. As mudanças climáticas, a negação das vacinas e, agora, a  negação do desmatamento da Amazônia, estão bem no centro destas posturas.

Menos ciência, menos tecnologia, menos inovação, menos humanidades, menos artes e menos educação, não tenho dúvida é o caminho mais curto que existe para  a estagnação social e o marasmo econômico.

A despeito de bravatas e desassossegos a sociedade brasileira, cada vez mais, vem compreendendo a importância vital da ciência, da tecnologia, das humanidades e da educação. Cada vez mais cresce a percepção de que o desenvolvimento cultural e material - capaz de sustentar um novo modo de vida, que permita inclusive o exercício da liberdade, da criatividade e da convivência humanizadora de nossas relações -, por exemplo, só têm a ganhar com a preservação e o cuidado com o meio ambiente. Desta compreensão, acreditamos, surge de forma cada vez mais clara, "... [uma] apropriação dos processos e produtos do conhecimento científico, tecnológico, artístico e intelectual por parte dos cidadãos". Este movimento foi visto em todo o Brasil hoje, nas manifestações que destacam a relevância das universidades públicas de ensino e pesquisa.


Sou um homem de ciência e de fé inquebrantável ! Esta foi e é uma das força-motoras que nutre minha perseverança  por todos estes anos.


Como podem os Senhores avaliar na atividade de pesquisa muitas vezes vale mais a transpiração do que a inspiração, entretanto, uma coisa fundamental são os “encontros”, encontros entre pessoas, encontros entre escolas de pensamento diferentes.  Não resisto a tentação de parodiar um dos nossos poetas maiores que dizia que a “vida é a arte dos encontros” e dizer, sem autorização, que a Ciência também.

E um destes encontros foi a ida ao meu Laboratório na Unicamp do inquieto e visionário Professor Josué Mendes Filho, que procurava um químico que sintetizasse os cristais para sua tese de doutoramento, pois tinha menos de um ano para finalizar. Deste encontro inicial, foram mais de trinta idas e vindas Campinas, Fortaleza, Campinas, alunos e estagiários pra lá e pra cá, inúmeras defesas de teses, trabalhos publicados, conhecimentos generosamente compartilhados sem condições ou restrições. Resumindo construiu-se uma relação profissional e madura entre nossas instituições , com muitos protagonistas, que dura até hoje e, não tenho dúvidas, continuará com as novas gerações.

Fazendo um esforço muito grande para conter a emoção, gostaria de dizer que Josué foi uma pessoa muitíssimo especial e que pessoas como ele deixam muito mais que saudades e lembranças...

Gostaria ainda de fazer um agradecimento especial aos meus colaboradores diretos, os alunos de pós-graduação, técnicos, pós-docs e iniciação científica, que trabalham no Laboratório de Química do Estado Sólido, do IQ-Unicamp, onde grande parte desta história aconteceu, e que, espero, continue acontecendo.

Transfiro, agora a palavra a um escritor de minha admiração, Fernando Pessoa que disse:

..."contribuo para engrandecer o universo, porque quem, vivendo, deixa (...) um verso, deixou mais ricos o céu e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e de haver gente".


Transpondo o pensamento do Poeta para a nossa prática, para a nossa vivência, é fácil compreendermos que:

Não importa de que natureza seja esse "verso": feito de palavras, moléculas, máquinas, edifícios, remédios, bens culturais, bens ambientais, valores humanos, valores sociais... Não importa.

O que importa mesmo é fazermos a nossa parte, deixando também um "verso", que testemunhe nosso esforço e nosso trabalho!


Finalizando dois super agradecimentos.

O primeiro vai para os meus pais, que tiveram a responsabilidade direta pelo nosso despertar para a Ciência e a Química, quando num longínquo Natal dos Ano 50, nos deram como presente o famoso e “objeto do desejo” o “Laboratório Químico Kiel”.

O segundo vai para a minha esposa, Maria Isolete, que por razões especiais, não pode estar aqui presente. Com sua generosidade administrou e administra todas as minhas faltas, que não são poucas, as quais nunca poderei pagar. A ela o meu grande amor!

Gostaria de terminar, estas palavras agradecendo mais uma vez a Universidade Federal do Ceará por esta homenagem, que certamente ficará marcada em nossa vida.

Realmente valeu a pena !


Fortaleza, 13 de agosto de 2019.



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