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A divulgação científica no Brasil

A ciência e a tecnologia permeiam, hoje, a vida de todos nós. A resolução dos graves problemas sociais e econômicos que afetam nosso país tem nelas um pré-requisito indispensável. Para a cidadania, é importante que cada um tenha a oportunidade de adquirir conhecimento básico sobre a ciência e seu funcionamento que lhe possibilite entender o seu entorno, ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho e atuar politicamente com conhecimento de causa.

A divulgação científica tem um papel importante neste contexto. Na formação permanente de cada pessoa, no aumento da qualificação geral científico-tecnológica e na criação de uma cultura científica no âmbito maior da sociedade. Tem, ainda, um papel complementar ao ensino formal de ciências, reconhecidamente deficiente em nosso país. Muitos países do mundo têm estabelecido, nas últimas décadas, políticas e programas nacionais e locais voltados para a popularização da C&T. O Brasil não dispõe ainda de uma política ampla com esse objetivo, embora já tenham surgido iniciativas localizadas ou programas específicos para áreas determinadas.



O Físico Ildeu de Castro Moreira é o atual diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia. Crédito: Murilo Gontijo/UFMG


As últimas duas décadas têm sido um período rico em experiências de divulgação científica, embora o país ainda esteja longe de ter uma atividade abrangente e de qualidade nesse domínio. Como exemplos, temos as reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a criação de dezenas de centros e museus de ciência, a presença mais constante da ciência na mídia, entre outros. Apesar desse esforço acentuado, estamos ainda longe de uma divulgação científica de qualidade que atinja amplos setores da população.

Um número muito pequeno de brasileiros, menos de 1% da população, visita algum centro ou museu de ciência a cada ano. Na mídia impressa e televisiva, via de regra, a ciência é apresentada como um empreendimento espetacular, no qual as descobertas científicas são episódicas e realizadas por indivíduos particularmente dotados. As aplicações da C&T ganham ênfase, mas o processo de sua produção, seu contexto, suas limitações e incertezas são usualmente ignorados, assim como as interfaces entre ciência e cultura. A participação organizada de cientistas, professores e alunos universitários nessas atividades, embora crescente, ainda é rara, desorganizada e com pouca valorização institucional. Do ponto de vista da formação de profissionais na área de comunicação em ciência, as iniciativas são ainda incipientes.

O estabelecimento recente de um departamento no Ministério da Ciência e Tecnologia voltado para a popularização e a difusão da C&T, ligado à Secretaria de C&T para a Inclusão Social, é um passo que, se consolidado, poderá contribuir para o estabelecimento de ações de popularização que estejam nacionalmente articuladas. Alguns objetivos gerais para orientar uma política nacional começam a ser desenhados: aumentar a apreciação coletiva do valor e da importância da C&T; estimular a capacidade criativa e de inovação, em especial dos jovens; proporcionar uma maior presença da C&T brasileira nos meios de comunicação; contribuir para a melhoria e atualização do ensino das ciências; estimular o uso e a difusão da C&T em ações de inclusão social; estimular que as atividades de divulgação científica incorporem também as ciências sociais; promover uma maior interação entre ciência, cultura e arte, valorizando os aspectos culturais e humanísticos da ciência; estimular a participação popular no debate sobre os impactos resultantes da C&T.

Em função dessas linhas gerais, diversas ações estão sendo propostas e começam a ser implementadas. Elas serão objeto de discussão constante com entidades e instituições científicas e tecnológicas e da área da divulgação científica. Entre elas, destacamos a criação de um Fórum Nacional de Popularização de C&T - com o objetivo de articular os setores dos governos e da sociedade civil para a formulação e implementação de políticas e ações na área -, e o estabelecimento da Semana Nacional de C&T, que ocorrerá pela primeira vez no Brasil, em caráter experimental, de 18 a 24 de outubro.

Outra proposta são ações integradas com o MEC, que colaborem para a melhoria, desde o nível fundamental, do ensino das ciências; um programa de apoio a centros e museus de ciência com várias vertentes, além do fortalecimento dos atuais, com itinerância nacional das exposições (Programa Ciência Móvel); o desenvolvimento, em parceria com TVs e rádios estatais e comunitárias, de programas de divulgação científica; a criação de um portal dedicado à popularização da C&T; ação junto às universidades e agências de fomento para valorização das atividades de divulgação científica; estímulo à criação de cursos de formação/qualificação para comunicadores da ciência e jornalistas científicos; apoio a programas estaduais de popularização da ciência.

Ampliar e melhorar a qualidade da divulgação científica no país, para que esta contribua para um maior interesse pela ciência e para a criação de uma cultura científica, é uma tarefa grande que só ocorrerá se for transformada em um processo coletivo amplo, que envolva sociedades científicas, instituições de pesquisa, universidades, governo, cientistas, comunicadores, educadores e estudantes.


Semana Nacional de Ciência e Tecnologia

Um decreto do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 9 de junho de 2004, estabeleceu a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia, a ser comemorada no mês de outubro de cada ano, sob a coordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia e com a colaboração das entidades nacionais vinculadas ao setor. Neste ano, a Semana ocorrerá no período de 18 a 24 de outubro. O objetivo é criar e consolidar no Brasil um mecanismo - que já vem sendo utilizado com êxito em vários países do mundo, como Reino Unido, Espanha, França, África do Sul e Chile - que mobilize a população em torno dos temas e da importância da ciência e tecnologia e contribua para a popularização da ciência de forma mais integrada nacionalmente.

Durante esta Semana instituições de pesquisa científica e tecnológica, universidades, centros e museus de ciência e tecnologia, escolas dos vários níveis, sociedades e associações científicas e tecnológicas, além de outras entidades e grupos, realizarão atividades de divulgação científica e tecnológica voltadas para o público escolar e para o público geral. Um aspecto importante dessas atividades é contribuir para que a população possa conhecer e discutir os resultados, a relevância e o impacto das pesquisas e de suas aplicações.

A proposta de realizar no Brasil uma Semana Nacional de Ciência e Tecnologia já vem feita há tempos por sociedades científicas, centros e museus de ciência, instituições e grupos voltados para a divulgação científica. A idéia é iniciá-la já neste ano, ainda que em caráter experimental, e buscar com que ela venha a se transformar em uma tradição no país. A colaboração e a participação ativa dos governos estaduais e municipais e das instituições de pesquisa e ensino regionais e locais, assim como de entidades científicas e tecnológicas, serão decisivas para o êxito da iniciativa.

As atividades da Semana serão as mais variadas, com eventos diversos ocorrendo em locais públicos e comunitários, em centros culturais e museus, em universidades e instituições de pesquisa, em casas legislativas e praças públicas: 'dias de portas abertas' de instituições de pesquisa e universidades; ida de cientistas às escolas; festivais e feiras de ciência; oficinas para o público; atividades unindo ciência, cultura e arte (teatro, cinema, circo, música etc); noites de astronomia; exibição de filmes e vídeos científicos em locais públicos; palestras e discussões públicas sobre temas científicos de interesse geral; entrevistas, debates e documentários nos jornais, rádios e TVs, etc.

As sociedades científicas e entidades da área tecnológica, as universidades e escolas, os institutos de pesquisa, as secretarias estaduais e municipais de C&T e de educação, as fundações de amparo à pesquisa, comissões de C&T das casas legislativas, fundações e entidades ligadas à área de C&T, e outros órgãos governamentais e da sociedade civil estão sendo convidados a participarem ativamente da organização e das atividades da Semana. A coordenação das atividades está sendo articulada pelo Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia, da Secretaria de C&T para a Inclusão Social do MCT. Contatos no MCT: Brasília: (61) 317.7826; semanact2004@mct.gov.br; José Luiz Barros: jbarros@mct.gov.br; Ana Beatriz Lacerda: alacerda@mct.gov.br. Rio de Janeiro: (21) 2555.0736, Ildeu Moreira: imoreira@mct.gov.br e ildeu@if.ufrj.br. A secretaria executiva da Semana será efetuada pelo escritório da Academia Brasileira de Ciências em Brasília.

Nota do Managing Editor: Matéria primeiramente veiculada pela revista Minas Faz Ciência, número 18, março a maio de 2004.

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