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ARTIGOS DE OPINIÃO

Capital nacional, no front da P&D



Competitividade

Empresas com capital nacional investem em média 45% a mais que as multinacionais em pesquisa e desenvolvimento. O dado surpreendeu até os dirigentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (Ipea) que coordenaram o estudo denominado "Inovação, padrões tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras", que envolveu dados de 72 mil empresas.

"Esse estudo é surpreendente e alentador", diz Mario Sérgio Salerno, diretor do Ipea. "Significa que os empresários brasileiros estão se engajando na corrida pela inovação".

Na opinião de Salerno, os empresários brasileiros já percebem os ganhos maiores nas empresas inovadoras, pois esses investimentos produzem de fato maior rentabilidade e posição competitiva no mercado local e também mundial.

De acordo com o estudo, iniciado em janeiro e concluído este mês, 79% das indústrias estrangeiras não são inovadoras nem diferenciam seus produtos. Uma das possibilidades é que, em vários casos, elas reproduzam no Brasil os produtos que são desenvolvidos pelas matrizes lá fora.

Para o presidente do Ipea, Glauco Arbix, "é flagrante que há uma nova geração de empresários que não aceitam mais a condição de sócios secundários ou de subserviência de grandes empresas". Em sua opinião, essa nova camada está disposta a diminuir a distância entre eles e os grandes empresários.

As multinacionais, no entanto, não atrapalham as brasileiras. "Ao contrário, fazem com que as de capital nacional se esforcem ainda mais para criar processos inovadores", afirma o diretor-adjunto do Ipea João Alberto De Negri.

Na liderança desses processos estão as empresas instaladas na região que os pesquisadores chamam de manchas industriais, que em São Paulo vão de Santos a Ribeirão Preto, passando, entre outras cidades, por Campinas e Sorocaba. É onde está a maior concentração de empresas do grupo de elite e onde se pagam os melhores salários. Fora de São Paulo, as regiões metropolitanas de Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio são as mais dinâmicas.

Mas ainda é preciso ressaltar que os investimentos das empresas brasileiras em inovação são poucos, comparados aos competidores internacionais.


Exportações

Mesmo com o recorde de exportações a ser batido este ano, o que o Brasil vende lá fora ainda carece de maior valor agregado, e esse também é um dos desafios do Ipea. Segundo De Negri, apenas 30% das exportações brasileiras são de produtos de média e alta intensidade tecnológica. A maior parcela é de commodities primárias e produtos de baixo custo. Nas exportações mundiais, essa categoria de produto responde por 50% dos negócios.

Ainda assim, 30% são importantes e confirmam que não é um sonho achar que o Brasil pode se inserir cada vez mais no mercado mundial, ressaltam os técnicos do Ipea, instituto ligado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

O Ipea calcula que há 18 mil empresas vendendo seus produtos em diversos países. Pela média de vendas, um acréscimo de 2,4 mil exportadoras nesse universo representaria saldo extra de US& 1,3 bilhão à balança comercial brasileira. Esse valor equivale ao que o País ganharia se todas as barreiras impostas pelos Estados Unidos e Europa aos produtos nacionais fossem suspensas. "A eliminação das barreiras tarifárias é menos factível do que a possibilidade de novas empresas participarem desse mercado", afirma De Negri.

Para exportar também é preciso ser inovador, ressaltam os técnicos. A Alpargatas, dona da marca Havaianas, por exemplo, esbanja criatividade com designs que vão da simples sandália colorida a versões cobertas de pérolas que fazem sucesso no exterior. A empresa também montou competente rede de distribuição em vários países e partiu recentemente para a personalização de seus produtos.

Outro exemplo é o de fabricantes do tradicional pão de queijo mineiro, que desenvolveram um produto especial que não altera o sabor mesmo após longo período de congelamento. O produto também vem ganhando adeptos no exterior. Já a Sabó, uma das poucas multinacionais brasileiras, criou um sistema de vedação de autopeças que resultou em ganho de mais de 30% de produtividade.


Conhecimento

"Inovação não é só alta tecnologia, mas todos os processos ligados ao conhecimento", afirma Arbix, reforçando que quem investe em inovação está sendo bem remunerado.

Na opinião do presidente do Ipea, o Brasil tem capacidade e estrutura para modificar o perfil da indústria brasileira e garantir resultados para o longo prazo, criando um círculo de crescimento. Para ele, a ampliação das exportações vai além da discussão cambial. Ele diz entender as fortes pressões de alguns setores em relação ao câmbio "porque somos prisioneiros do curto prazo".


Categorias

Como são classificadas as empresas

Grupo A: São as empresas que inovam e diferenciam produtos e obtiveram resultados de competitividade, lucratividade e exportações acima das concorrentes.Encontram-se muito perto do padrão internacional. Das 1,2 mil empresas desse grupo, 743 são de capital nacional, 394 estrangeiras e 63 mistas. As mais competitivas estão no eixo São Paulo-Sul. Só em pesquisa e desenvolvimento interno gastam em média R$ 1,9 bilhão ao ano, de acordo com dados de 2000, o último disponível pelo IBGE. Os salários médios nesse período eram de R$ 1.254,00.

Grupo B: São especializadas em produtos padronizados, mas a estratégia é mais focada na redução de custos, ao invés da criação de valor. Podem ser inovadoras em processos produtivos, mas não em produtos. Se diferenciam menos e agregam menor conteúdo tecnológico em relação ao grupo A. Das 15.311 empresas dessa classificação, 13.876 são nacionais, 1.243 são estrangeiras e 192 são mistas. Os gastos anuais em pesquisa e desenvolvimento interno ficam próximos a R$ 1,6 bilhão. Funcionários recebiam salários médios de R$ 749,00.

Grupo C: São as que não diferenciam produto e têm produtividade menor. Do total de 55,4 mil empresas desse grupo, 55,1 mil são de capital nacional, 214 são multinacionais e 111 são mistas. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento não passam de R$ 200 milhões ao ano. Pagam os salários mais baixos, em média de R$ 431,10, levando-se em conta trabalhadores com os mesmos níveis.

Nota do Managing Editor: Essa matéria, de autoria de Cleide Silva, foi veiculada no jornal O Estado de São Paulo, Caderno B3, Economia, em 12 de dezembro de 2004.

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