|
ARTIGOS DE OPINIÃO
Uma disciplina submersa em seu sucesso Dado suas múltiplas imagens, a Química enfrenta problemas. Não só os químicos que trabalham nas interfaces deveriam reconhecer e celebrar suas raízes, mas também aqueles que atuam no seu centro têm muito que celebrar. O objetivo da Química de entender a forma e a função das moléculas e compreender como elas interagem está no centro da missão científica. Tal versatilidade, contudo, tem um preço: reconhecimento, ou, mais precisamente, a falta dele. O que é exatamente a Química? Uma disciplina que não está mais restrita às suas divisões clássicas: orgânica, inorgânica e físico-química. Além de territórios bem conhecidos como catálise, síntese orgânica, polímeros e ciência dos materiais, a Química se estendeu por áreas menos familiares: o uso de pequenas moléculas na "genética química", a seleção de candidatos a medicamento usando técnicas combinatórias e o desenvolvimento de novas técnicas analíticas que permeiam praticamente todas as áreas da ciência. A disciplina se tornou diversidade - somente a American Chemical Society tem, hoje, mais de 30 divisões, fato que torna impossível fazer generalizações a seu respeito. Definir Química, talvez, seja desnecessário. Contudo, a falta de timbre, de uma marca precisa e identificável tem feito com que Ela seja facilmente confundida. E vai-se além, quando se observa que, não raramente, aqueles que se dedicam à Química são, com freqüência, sub-reconhecidos. Esta é a raiz do cruel problema que enfrenta a imagem da Química. Os químicos têm permitido àqueles que estão do lado de fora a tarefa de caracterizar e definir o que é e o que não é Química. Para o público, a ciência Química é muito freqüentemente sinônimo da indústria com a qual compartilha o nome. Assim, Química, significa chaminés fumegantes e rios envenenados, e não medicamentos que salvam vidas e materiais da era espacial. Para muitos pesquisadores, burocratas e, crucialmente, para jovens cientistas, a Química é vista às vezes como disciplina madura, na qual o trabalho mais importante e estimulante acontece nas interfaces. Os químicos, por outro lado, contam uma história diferente. Falam excitadamente a respeito das promessas da eletrônica molecular, dos desafios representados pela necessidade de energia sustentável e das oportunidades de se gerar medicamentos fabricados sob encomenda, de acordo com a seqüência do genoma humano. A reputação da disciplina não é assunto trivial. Se a Química pretende alcançar, neste século, pelo menos a metade do que alcançou no século passado, terá que se empenhar para atrair os mais brilhantes dentre os jovens cientistas. E para lograr êxito, é importante cuidar da imagem. Além disso, a pesquisa básica, tanto na academia quanto na industria, precisa de uma injeção de adrenalina. A pesquisa Química na indústria vem sofrendo com o corte de orçamentos, e, nas Universidades, está sendo pressionada pelo crescimento contínuo do apoio à Biologia. Conforme o lamento típico de um químico: a "biologia, no momento. é simplesmente bem mais atraente para as pessoas". Contudo, os químicos e a Química nunca foram mais vitais para a Ciência e para a Sociedade que agora. À medida que as fronteiras entre as disciplinas científicas se tornam menos nítidas ( processo que segue num crescendo ), habilidades Químicas fundamentais como síntese e análise serão cruciais para as áreas interdisciplinares que surgem. De fato, os químicos estão migrando em número crescente para as fronteiras de sua disciplina no sentido de colaborar com biólogos, físicos, engenheiros e cientistas da computação. A pesquisa nessas fronteiras é dinâmica, fascinante e de enorme benefício potencial. Os químicos são essenciais em projetos como aqueles do uso de técnicas de imagem na pesquisa médica, ou para acompanhar o desenvolvimento e estudo do reconhecimento molecular usando células de membranas sintéticas. A análise Química do enovelamento de moléculas de proteínas e técnicas baseadas na espectroscopia de massas são necessárias dentro da genômica, e as técnicas de auto-montagem química estão movendo a locomotiva da nanotecnologia. Esse tipo de pesquisa interdisciplinar a um só tempo captura nossa atenção e oferece à Química uma oportunidade régia de polir sua imagem. Mas, antes disso, é urgente que os químicos aprendam a comemorar e a promover suas próprias realizações. A imagem pálida, desbotada apresentada pela Química tem várias razões. Uma delas é que as áreas rivais têm se apropriado de seus momentos mais brilhantes. Dentre mais de 20 áreas excitantes de Química Básica, nas quais se esperam descobertas revolucionárias temos: moléculas auto-replicantes, reagentes capazes de quebrar ligações químicas estáveis, catalisadores sob medida para reações específicas e eliminação do uso de solvente em várias reações. Tais desenvolvimentos implicam num aumento do rendimento da especificidade e da versatilidade das reações devendo, portanto, conduzir a "uma revolução silenciosa na Química". Todavia é fundamental, crucial mesmo, que os químicos divulguem essa revolução junto a seus alunos e à mídia em geral. Afinal de contas, as revoluções precisam ser ruidosas. Nota: Este texto é uma tradução livre de excertos do artigo publicado na Revista Nature, volume 411, p.399, de 24 de maio de 2001, gentilmente realizada pelo Prof. Paulo Sérgio Santos (Instituto de Química da USP), a convite do LQES. |
© 2001-2020 LQES - lqes@iqm.unicamp.br
sobre o lqes | políticas | link o lqes | divulgação | fale conosco