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ARTIGOS DE OPINIÃO
A ciência cidadã ? A "ciência cidadã" existe? É uma das questões transversais que parecem se colocar os cientistas pertencentes a disciplinas diferentes. Tenho encontrado, com surpresa, um traço em várias discussões tidas no Googleplex, na rubrica SciFoo, organizado por Tim O'Reilly (1). Há até um site que trata deste assunto (2). Isto começa por uma inquietação com educação. Ainda que os mais jovens se comportem face ao mundo que descobrem como pesquisadores testando todas as soluções possíveis, naqueles um pouco menos jovens "a ciência cessa rápido de ser "cool", doce. A motivação se evapora. As mídias, é claro, não ajudam quase nada. "Elas sufocam a curiosidade", estima Rusty Bromley, chefe da Myelin Repair Foundation, que se consagra à pesquisa de tratamentos para curar a esclerose múltipla. "Elas não encorajam as pessoas a colocar questões. Elas dizem "confiem em mim". Mas a dificuldade é mais profunda, segundo Luciano Floridi, filósofo da informação, que fez observar que "a maior parte das pessoas não "falam matemáticas". Ora, sem as matemáticas não se vai muito longe". Certo, certo, e portanto um professor do MIT, cujo nome não pude ler, observou que "Os grupos de auxílio para certas doenças olham com condescendência os médicos que "depois de tudo, não são senão generalistas" e sabem menos que eles sobre o mal que os afetam. PeerToPatent (3) é uma experiência concreta, que faz com que o público participe das pesquisas prévias à atribuição de patentes. Segundo Beth Noveck, uma das coordenadoras do Projeto, os responsáveis governamentais pela concessão de patentes não têm senão vinte minutos para a análise de cada uma e nem podem usar a Internet para tentar saber mais sobre o assunto. A associação se dedica, portanto, a reunir pessoas capazes de discutir as demandas, encontrar os documentos pertinentes, anotar e remeter às autoridades competentes para que decidam com conhecimento de causa a concessão. Melhor informar o público e fazê-lo participar de certos debates ou processos, conduzindo a tomadas de decisão pelas autoridades vem sendo cada vez mais admitido. Mas é difícil ir além. Somos vítimas de uma pretensa contradição entre democracia e expertise. "Não que as creia necessariamente incompatíveis", precisou-me Noveck, contudo, "mais as pessoas tendem a acreditar nisso". O mundo seria muito complexo para ser gerido democraticamente. Perigoso! Mas isso não é senão uma questão de expertise. No coração dessa problemática encontra-se a dificuldade de gerir verdadeiras discussões contraditórias. É por isso que Éric Drexler, apóstolo da nanotecnologia, pediu - durante um debate sobre a escolha colaborativa das orientações políticas -, a criação de um software "que seja também bom para mostrar as controvérsias, que pode ser a Wikipedia, que poderá ir "colecionando" fatos e opiniões". Eis aí um desafio interessante! Le Monde, 07 août, 2007 (Tradução - MIA). Veja mais: |
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