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ARTIGOS DE OPINIÃO

Os 60 anos da SBPC, artigo de Marco Antonio Raupp.

Marco Antonio Raupp, matemático, doutor pela Universidade de Chicago (EUA), é o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Foi diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do Laboratório Nacional de Computação Científica.

"No dia 8 de julho de 1948, cerca de 60 pessoas, atendendo a convite dos Drs. Paulo Sawaya, José Reis e Maurício Rocha e Silva, reuniram-se no auditório da Associação Paulista de Medicina para cuidar da fundação da sociedade destinada a lutar pelo progresso e pela defesa da ciência em nosso país."

Essa foi a abertura do artigo publicado na primeira edição da revista "Ciência e Cultura", em janeiro de 1949, anunciando a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC.

Era um momento da história da humanidade marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial, e por todo o planeta as nações tomavam consciência da necessidade imprescindível de incentivar a ciência para promover o desenvolvimento social e econômico.

A SBPC também foi criada com a preocupação de discutir a função social da ciência, como lembrou um dos fundadores, José Reis: "Quando a fundamos, Maurício Rocha e Silva, Paulo Sawaya, Gastão Rosenfeld e eu, discutimos muito essa questão e decidimos incluir entre as funções da SBPC a necessidade de criar ou difundir essa consciência social entre os cientistas brasileiros".

Permanecemos firmes no propósito de atuar como consciência crítica da sociedade. Para tanto, devemos refletir e adotar posicionamentos sobre os desafios que a ciência brasileira tem de enfrentar nos próximos anos.

Nas últimas seis décadas, o Brasil desenvolveu um sistema forte de pós-graduação e pesquisa e, com isso, nossa ciência já tem papel de destaque no cenário internacional. No entanto, essa base científica, por peculiaridade do desenvolvimento da nossa sociedade, resultou relativamente separada das demandas da atividade econômica e do processo de inclusão de regiões como Amazônia e semi-árido.

Entendemos que os desafios atuais devem ser considerados à luz das principais características e paradigmas estabelecidos entre as duas últimas décadas do século 20 e a primeira década deste século 21: a globalização; o desenvolvimento sustentável; e a economia do conhecimento.

Os componentes ou pilares básicos desses processos, necessários a qualquer país determinado a enfrentar os desafios e inserir-se no novo cenário internacional com vantagem competitiva, são: a educação de qualidade massificada e disseminada pelo país; a fluência entre a geração de conhecimento e sua transformação em bens com valor econômico; a interdependência da sustentabilidade econômica com a ambiental e a sociopolítico-cultural; e a competitividade das empresas referenciada no mundo global.

Os desafios colocados às atividades de ciência e tecnologia no país devem ser equacionados com legislação atualizada e políticas públicas que abram caminho para uma nova fase de desenvolvimento. Eis os desafios que hoje norteiam as ações da SBPC:

- revolução educacional de grande escala e em todos os níveis, buscando qualidade, universalização, profissionalização, criatividade e flexibilidade;

- superação das desigualdades regionais, promovendo a ocupação plena, racional e bem distribuída do território, com atividades educacionais e de pesquisa e desenvolvimento, ocupação esta estratégica e preparada para a incorporação das novas fronteiras do desenvolvimento, com especial referência à Amazônia;

- promoção da inovação nas empresas, superando o fosso ainda existente entre universidade e setor produtivo;

- criação de uma rede metrológica e de padrões ampla, com base científica e capacidade de promover qualidade entre as relações da exportação/importação e produção/consumo.


Vivemos um bom momento, animados pelas iniciativas do governo federal, o Plano Quadrienal da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Plano de Desenvolvimento da Educação, além de diversas iniciativas semelhantes nos Estados. A SBPC certamente exercerá sua capacidade de mobilização e engajamento para colocar a comunidade científica do país como protagonista desses novos tempos.

Em outubro de 1949, quando foi realizada a 1ª Reunião Anual da SBPC em Campinas (SP), apenas 104 cientistas e amigos da ciência participaram do evento. Esse primeiro encontro marcou a forma como a SBPC se pronunciaria sobre os diversos eventos científicos nacionais.

Neste mês de julho, retornamos a Campinas, onde realizamos na Unicamp a 60ª Reunião Anual da SBPC. Com um público estimado em 10 mil pessoas, sabemos que já trilhamos um bom caminho.

No entanto, algumas décadas de luta ainda serão necessárias para colocar a ciência brasileira não somente em pé de igualdade com as nações mais avançadas, mas sobretudo a serviço do desenvolvimento socioeconômico do país.


Nota do Managing Editor: este artigo, de autoria de Marco Antonio Raupp, foi primeiramente veiculado no jornal Folha de SP, em 20 de julho de 2008.


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