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Medicamentos vindos das profundezas do mar: pesquisas se intensificam.
Dentro de alguns anos, as prateleiras nas farmácias poderão vir a sentir o "ar das profundezas": mesmo continuando a superfície da terra a passar pelo crivo, químicos e biólogos esquadrinham também as bordas do mar - e mesmo os abismos - à procura de novas moléculas, susceptíveis de serem transformadas em medicamentos. "Os oceanos - que ocupam mais de 70% da superfície da terra - constituem gigantescas "sopas moleculares", regurgitando substâncias com potencialidades terapêuticas múltiplas e variadas", sublinhou Christian Bailly, farmacêutico no Instituto de Pesquisas sobre o Câncer, em Lille (França), por ocasião do Congresso Eurocâncer, que acaba de ter lugar em Paris. Ainda assim, os mares abrigam os três quartos de diferentes formas de vida e um reservatório potencial de medicamentos quase virgem. Na mesma proporção que a variedade de situações ecológicas - atóis tropicais, fossas oceânicas, praias e marés - e sua antigüidade - três bilhões de anos contra 400 milhões de anos para a vida terrestre - fez com que se desenvolvesse uma biodiversidade extrema. Mergulhador explorando o fundo do mar a procura de novas espécies "Para sobreviver um longo tempo, reproduzir-se, defender-se, atacar ou colonizar seu espaço", salienta o Prof. Jean-Michel Kornprobst, químico, mergulhador e especialista em substâncias marinhas da Universidade de Nantes (França), os organismos que vivem sob a água precisam produzir substâncias cuja composição química é, com freqüência, radicalmente diferente daquela das moléculas terrestres. Ainda assim, permitiram fabricar 40% dos produtos utilizados em quimioterapia. Em razão de seu modo de vida, "fixados nas rochas, sobre plantas ou outros animais, esses organismos, incapazes de fugir diante dos predadores, desenvolveram outros métodos para frustrar seus inimigos", salienta Jozée Sarrazin, oceanógrafa da Universidade do Quebec, Montreal (Canadá). Esses organismos, e aqueles com os quais vivem associados, secretam substâncias tóxicas em alta concentração, repulsivas ou indigestas para seus agressores, que fazem delas "verdadeiras armas químicas", acrescenta ela. "As substâncias marinhas, freqüentemente armas defensivas, afiguram-se como bastante interessantes, principalmente em cancerologia", assinalou a pesquisadora Françoise Guéritte, do Instituto de Química de Substâncias Naturais, do CNRS. A primeira verdadeira descoberta, oriunda da profundezas do mar, remonta a 1951. Trata-se de uma esponja comum, Cryptothetya crypta, a qual percebeu-se conter substâncias químicas particularmente eficazes contra certas formas de leucemias agudas. A esponja, a qual é preciso buscar no fundo dos mares, e que os químicos felizmente conseguiram "copiar", é transformada em citosina arabinosina, ou Ara C. Com o passar dos anos, a farmacologia marinha tornou-se uma disciplina e numerosos países ocidentais abriram laboratórios, freqüentemente com sucursais ao longo dos mares mais exóticos. Exemplo de esponjas coloridas que podem conter substâncias com potencial aplicação farmacológica. Os oceanos já produziram um medicamento contra o herpes e uma família de antibióticos, as cefalosporinas. Os progressos conseguidos pelas técnicas de exploração do "planeta azul"- novos métodos de coleta, ferramentas de mergulho profundo e aquacultura - permitiram esse desenvolvimento. Contudo, constituem também um verdadeiro perigo para as profundezas marinhas, ameaçadas também por uma exploração desgovernada. A perspectiva de poder um dia desenvolver "medicamentos do mar" não deixa ninguém indiferente: "na Espanha, a empresa PharmaMar é proprietária de mais de 3000 compostos marinhos e prossegue com o desenvolvimento de algumas moléculas promissoras, das quais algumas já estão em testes com o homem", revela Christian Bailly. Nota do Managing Editor: Esta matéria foi elaborada a partir de informações veiculadas na Agência France Press, com tradução/texto de Maria Isolete Alves (MIA). As ilustrações apresentadas não constavam do texto original e foram obtidas no endereço http://www.google.com/. |
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