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Obra de Spix e Martius serve de alerta 200 anos depois. Inspirados pelas expedições de Alexander von Humboldt à América Latina realizadas nos primeiros anos do século 19, o zoólogo Johann Baptist Spix e o botânico Carl Friedrich Philipp Martius percorreram durante três anos mais de 10 mil quilômetros das paisagens brasileiras, começando no Rio de Janeiro, passando por São Paulo, Ouro Preto, Salvador, atravessando Minas Gerais, o sertão do Nordeste e explorando a bacia amazônica. Spix e Martius: alemães criaram a base usada até hoje em pesquisas sobre fauna, flora e etnologia brasileiras.
Ainda hoje, 200 anos depois, seu legado é base para estudos culturais, históricos e naturais. Ele também serve como alerta para a conservação do meio ambiente. Os aventureiros alemães testemunharam a atividade mineradora em Minas. Composta de painéis desmontáveis, mostra itinerante percorre cidades brasileiras e alemãs.
Bolle é um dos autores da exposição itinerante Viagem de Spix e Martius pelo Brasil, que celebra os diversos aspectos da longa caminhada dos exploradores alemães, além de traçar paralelos com o Brasil atual. A exibição pode ser vista deste sábado (10/08) até o próximo dia 26 na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, seguindo depois para São Paulo e Curitiba. Paralelamente, uma réplica da mostra percorre cidades da Alemanha, onde, depois de uma temporada em Berlim, os painéis devem seguir para o sul do país, em cidades e datas a serem confirmadas. Os 21 banners que compõem a mostra realizada pelo Instituto Martius-Staden e o Colégio Visconde de Porto Seguro unem o presente, com fotos atuais das paisagens, ao que foi testemunhado por Spix e Martius no século 19. "A ideia foi fazer uma exposição de baixo custo, com painéis desmontáveis, que chega em mais lugares com menos investimento", explica a historiadora Karen Macknow Lisboa, curadora da exibição. Ela é ainda enriquecida com o acervo original dos lugares por onde passa, como em Berlim, no primeiro semestre deste ano. Ao ocupar a biblioteca do Instituto Ibero-Americano, os murais foram acompanhados por mostruários com originais das obras dos aventureiros alemães mantidos pela instituição. Mineração em Minas Gerais, de "Viagem pelo Brasil", de Spix e Martius: alemães alertaram para perigo ao meio ambiente.
Entre os suvenires transportados para a Europa, 6.500 plantas e sementes, 2.700 insetos, 85 mamíferos, 350 pássaros, 150 anfíbios e répteis, além de 116 peixes e 2.700 insetos, exemplares preparados e alguns mesmo vivos incluindo seres humanos. A dupla chegou na Alemanha com duas crianças indígenas, de duas tribos distintas, uma menina e um menino, que morreram meses após o desembarque na Europa. "Eles levaram seis índios da Amazônia, dois deixaram no Brasil, dois morreram durante a travessia do Atlântico", lembra a historiadora Karen Macknow Lisboa. Índígena da etnia maxuruna, retratado em livro dos aventureiros alemães.
Parte da coleção etnológica brasileira dos exploradores ainda pode ser vista em museus de Munique. Artigos de caráter etnográfico, como máscaras indígenas, adereços, armas e outros utensílios se encontram no Museu dos Cinco Continentes, também na capital bávara. O material foi usado como base para a produção de uma série de estudos sobre botânica e zoologia brasileiras, publicados nos anos seguintes. O relato da jornada em três volumes, Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil), está entre as primeiras dessas obras. Martius foi responsável pelo lançamento da maior parte dos livros. Mesmo com saúde abalada nos anos seguintes, Spix finalizou alguns trabalhos importantes, contendo descrições de espécies de animais tropicais. Mas parte de sua contribuição foi impressa após ele ter morrido, em 1826, quase seis anos após deixar o Brasil, de doença adquirida nas matas tropicais. Exuberância brasileira
Das mais de 3 mil espécies de animais catalogadas pela primeira vez pelos naturalistas alemães, algumas acabaram sendo batizadas em homenagem aos pesquisadores. Um exemplo é o nome científico da ararinha-azul, que homenageia Spix: Cyanopsitta spixii. Atualmente considerada extinta na natureza, a espécie (a mesma do personagem principal da animação da Disney Rio) só é encontrada em cativeiro. Primeira edição de "Reise in Brasilien" exibida em Berlim: em alguns lugares, mostra é acompanhada por material original.
"O objetivo da nossa viagem era conhecer esses lugares, ver o que continua existindo e registrar as transformações que ocorreram", destaca o pesquisador. Radicado no Brasil desde 1966, o alemão Willi Bolle e tem se dedicado há anos a pesquisar a topografia cultural da metrópole São Paulo, passando pelo sertão, até a Amazônia. "Nesse sentido, o trajeto é praticamente o mesmo, e no meio do percurso descobri que os meus inspiradores foram Spix e Martius." A mobilidade da exposição também permite que ela seja emprestada gratuitamente a escolas, para realização de ações pedagógicas. Mais informações podem ser obtidas com o Instituto Martius-Staden. Deutsche Welle. Acessado: Agosto 20, 2019.
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