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DIVULGAÇÃO

45 anos da pílula anticoncepcional.


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No meio da dificuldade, está a oportunidade" (Albert Sabin).



Desde o início da indústria farmacêutica, na segunda metade do século XIX, muitos dos medicamentos lançados proporcionaram mudanças expressivas no tratamento de diversas doenças, alterando a sua evolução, com significativa melhora da qualidade e da expectativa de vida. Mas muito poucos provocaram, desde o seu lançamento, tanto impacto no comportamento das pessoas, levando a debates e polêmicas, no âmbito científico, social, religioso, moral e ético, como a pílula anticoncepcional.

A primeira foi produzida e lançada nos EUA em 1960; a segunda, de origem alemã, no ano seguinte, na Europa e Austrália. A pílula continua sendo, até hoje, a primeira opção entre os métodos anticoncepcionais, em quase todo mundo. No Brasil, ela surgiu em 1962, sendo utilizada, segundo dados oficiais, por 21% das mulheres em idade reprodutiva, o que equivale, em números de comercialização de 2004, a mais de 11 milhões de usuárias.

Na época do lançamento da pílula anticoncepcional, havia entre os americanos um clima de euforia, pela retomada do crescimento econômico. Surgia uma nova geração de jovens, dispostos a se rebelar contra os valores, de uma sociedade que consideravam moralista e conservadora. Tinham muitos ídolos, surgidos nos anos 50, entre eles James Dean, no cinema, e Little Richard e Elvis Presley, no rock and roll, que difundiram com as suas atitudes um novo modelo de comportamento.

Surgida neste contexto, a pílula foi criticada por diversos setores da sociedade porque permitia mudanças no comportamento sexual, dando controle e maior liberdade às mulheres, alterando o quadro social e o processo natural de reprodução. Sua utilização acabou provocando avanços nos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, ampliando as possibilidades de realização de um efetivo planejamento familiar. Permitiu, ainda, uma maior flexibilização dos valores morais e o ingresso da mulher no mercado de trabalho.




Pílula Anticoncepcional.


Na aprovação, pela FDA (Food and Drug Administration), em 23 de junho de 1960, a pílula recebeu críticas da comunidade científica, temerosa da exposição das mulheres a riscos pela falta de uma avaliação adequada da segurança do produto. Mas significou o final de uma longa trajetória que se iniciara no começo do século XX, com os trabalhos do fisiologista austríaco Ludwig Haberland que, em 1922, demonstrava a possibilidade de se produzir "esterilização hormonal temporária", com a inibição da ovulação e da gravidez em animais férteis. Sendo identificado, posteriormente, o hormônio progesterona como o responsável pela ação.

Em 1939, Russell Marker, químico da Penn State University, que procurava fontes naturais para extração de progesterona, começou a pesquisar a raiz de uma planta usada pelos índios mexicanos e conhecida como "yam" ou "cabeza de negro". Com o desinteresse dos americanos pela descoberta, ele montou um pequeno laboratório farmacêutico no México para a pesquisa e produção. Após alguns anos, desiludido, abandonou a atividade, dedicando-se ao comércio de prata. Dez anos depois, o químico Carl Djerassi, que o substituiu, retomou as pesquisas, que permitiram, em 1951, que o jovem químico mexicano Luiz Miramontes completasse a síntese, por metodologia mais adequada, de uma nova progesterona, que era efetiva por via oral e que poderia ser usada em distúrbios menstruais, mas que ainda não tinha sido utilizada como contraceptivo em humanos.

Isto só ocorreu pela intervenção de Margaret Sanger, enfermeira, que defendia a necessidade de um controle da natalidade e que tinha sido responsável pela criação da primeira clínica de planejamento familiar nos EUA, em 1916, e de Katharine McCormick, filantropa e defensora da causa, que obteve recursos financeiros para as pesquisas. Em 1953, Gregory Pincus, bioquímico da Worcester Foundation for Experimental Biology, e John Rock, ginecologista da Harvard Medical School, iniciaram testes laboratoriais em humanos para avaliar a possibilidade de lançamento de um comprimido que impedisse a gravidez. Essa pesquisa teve a participação do químico Frank Colton e do laboratório responsável pela produção do primeiro produto, que apoiaram a iniciativa e promoveram a modificação na estrutura química da substância sintetizada no México, permitindo o seu uso na composição da primeira pílula anticoncepcional.




Cartela de pílulas anticoncepcionais.

As pesquisas em mulheres foram realizadas em Porto Rico, devido à descrença de alguns, à resistência de muitos e às restrições legais americanas. Mas confirmaram os estudos anteriores e o conceito, até hoje aceito, de que a progesterona teria ação inibidora da ovulação, impedindo a gravidez, e que combinada aos estrogênios manteria o ciclo menstrual regular.

Poucos medicamentos foram tão investigados e por tanto tempo como a pílula. A primeira teve a sua dosagem reduzida pela metade em 1961, devido aos efeitos colaterais. Em 1976, foram lançadas as de segunda e, em 1989, as de terceira geração, com dosagens cada vez menores. Em seguida, com descoberta de novos hormônios, foram lançadas pílulas com baixíssimas dosagens, que mantêm a eficácia, com menos efeitos adversos e riscos à saúde.

Hoje, utiliza-se o anticoncepcional hormonal, na forma combinada ou só com progesterona, em comprimidos usados por via oral ou via vaginal. E por outras formas e vias de administração, em produtos injetáveis, por adesivos colados à pele (patch), em anéis vaginais, por implantes subcutâneos e por dispositivos intrauterinos (DIU) com hormônio. E, mais recentemente, com o uso imediatamente após uma relação sexual desprotegida, a chamada "pílula do dia seguinte".


Nota do Managing Editor: este texto, de autoria de Odair Albano, ginecologista-obstetra e ex-secretário da Saúde de Campinas foi primeiramente veiculado no Jornal Correio Popular - SP, Seção Opinião, de 19 de agosto de 2005. Da matéria original não constavam ilustrações. As aqui apresentadas foram obtidas em www.google.com.

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