Laboratório de Química do Estado Sólido
 LQES NEWS  portfólio  em pauta | pontos de vista | vivência lqes | lqes cultural | lqes responde 
 o laboratório | projetos e pesquisa | bibliotecas lqes | publicações e teses | serviços técno-científicos | alunos e alumni 

LQES
pontos de vista
artigos de revisão

artigos de opinião

editoriais

entrevistas

divulgação geral

divulgação LQES

 
DIVULGAÇÃO

Em suas pálpebras, cor e brilho das asas das borboletas !


Quando se trata de vender novidade, à indústria cosmética não faltam promessas. Mas a maquiagem "fotônica" que a L'Oréal vem desenvolvendo rompe com os procedimentos químicos tradicionais.

A L'Oréal busca reproduzir o processo natural de "interferência", esses reflexos luminosos encontrados, por exemplo, nas asas de certas borboletas e escaravelhos, ou sobre as plumas dos pavões. Para tanto, a gigante dos cosméticos prepara uma nova linha de maquiagem baseada em nanopartículas, ao invés de pigmentos.




A L'Oréal pesquisa a reprodução do processo natural de "interferência", os reflexos maravilhosos que observamos nas asas de certas borboletas.
(Foto Bernard Brault, La Presse)


Se essas cores luminosas nunca puderam ser reproduzidas (embora tão velhas quanto o mundo), deve-se ao fato de as mesmas não serem apenas refletidas, como as outras cores do mundo animal. Tais cores são criadas por interferência, princípio conhecido desde Isaac Newton, só recentemente compreendido em profundidade.

"Os pigmentos reenviam uma cor porque absorvem todas as outras", explica Patrícia Pneau, diretora de comunicação do laboratório da L'Oréal em Paris. "Enquanto que na interferência não há absorção; essa organização das estruturas da matéria que permite filtrar certos comprimentos de onda".

Um pouco de informação se impõe. "Nas asas de uma borboleta azul, não há qualquer pigmento azul, mas as escamas formadas de estruturas assemelham-se a árvores de Natal, continua Pineau. Entre os ramos dessas "árvores", há um espaço exatamente da mesma dimensão que o comprimento de onda do azul".


As árvores de Natal enchem os olhos.

Para aqueles que, na escola, dormiram durante as aulas de ciências físicas, as cores que compõem a luz do dia correspondem cada uma a um comprimento de onda preciso (entre 400 e 800 nanômetros no campo perceptivo humano).

O objetivo da L'Oréal é, portanto, reproduzir essas minúsculas "árvores de Natal" sobre as pálpebras, as unhas, ou lábios - medindo a distância entre os ramos, segundo a cor desejada.

"Podemos criar essas estruturas com micas, silícios, polímeros ou cristais líquidos. O importante é que elas conservem um arranjo de lamelas perfeitamente regular, diz Pineau. Obtêm-se, assim, efeitos de iridescência (que refletem as cores do arco-íres) ou brilhos metálicos, sem que se utilizem partículas de metal, que são tóxicas. Os objetos obtidos são tão pequenos - inferiores ao mícron -, que poder-se-á mesmo fazê-los aderir sobre os cílios, que são de algumas dezenas de mícrons".


Cores... incolores.

Fato extraordinário: os novos produtos de "maquiagem fotônica", da L'Oréal, serão incolores, qualquer que seja a cor que ela crie sobre a pele.

"Quando se vê o produto, ele é branco. Isso é o que realmente espanta. A cor aparece somente quando produto é aplicado. Trata-se do mesmo princípio das opalas que, quando esmagadas, tornam-se um pó branco. A opala só revela suas cores quando organizada num cristal".

A L'Oréal tira essa nova tecnologia das pesquisas de Peter Vukusic, um físico da Universidade de Exeter (Reino Unido), que se especializou nas cores do mundo animal. Foi ele quem estabeleceu a correspondência entre o comprimento de onda de cada cor e as estruturas formadas na superfície da pele.


"Uma diversidade extraordinária".

"As pesquisas permitiram compreender melhor como as borboletas produzem suas cores únicas, explica ele. Elas são capazes de uma diversidade óptica extraordinária. Ao longo de sua evolução elas desenvolveram um grande número de estruturas diferentes, o que explica essa maravilhosa gama de cores de suas asas".

"Produzir esse efeito com o auxílio de nanoestruturas é um desafio tecnológico para o homem, concorda Vukusic. Mas as borboletas o fazem há milhões de anos!".

Segundo Pineau, a nova linha de maquiagem "fotônica" será oferecida ao mercado a partir de 2006, depois de submetida a uma série de testes clínicos. Mas, como não são todos que irão querer parecer-se com uma borboleta, as boas e velhas linhas de maquiagem baseadas em pigmentos permanecerão.

"Os novos produtos terão profundidade e brilho espetaculares, mas alguns continuarão a preferir as cores mate. Aliás, as duas coabitam na natureza, a começar pela asa da borboleta, porque, ainda que em cima de suas asas seja estrutural, na parte de baixo está o marrom, que é pigmentar".

Além da maquiagem, as cores por "interferência" encontraram ainda poucas aplicações comerciais, porque fica caro reproduzi-las. As primeiras patentes foram depositadas por instituições financeiras para proteger cartões de crédito. É dessa forma que o "pequeno pássaro" de seu cartão Visa produz suas cores.

Roupas poderão, no futuro, produzir esses tipos de cores. A empresa japonesa Morphotex também depositou patentes para têxteis, cujas fibras formam estruturas necessárias para criar o efeito. As fibras dos têxteis - se tomadas separadamente -, serão brancas!


Cyberpresse, 25 novembre, 2005 (Tradução - MIA).

 © 2001-2020 LQES - lqes@iqm.unicamp.br sobre o lqes | políticas | link o lqes | divulgação | fale conosco