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Mutirão para colocar a inovação na agenda brasileira.


O diretor de Inovação da ABDI e diretor da ABC, Evando Mirra, disse na conferência A Inovação e o Desenho do Futuro (realizada durante a 59ª. Reunião Anual da SBPC, em Belém do Pará) que estratégias inovadoras podem ser aprendidas na escola. Para ensinar os jovens, que não têm o peso da inércia gerada pela postura conservadora, vai ser preciso envolver as ciências humanas - um mutirão, ele propõe.

"O ato de criar se adquire socialmente. Se se promove essa cultura, ela é educadora", afirma Evando Mirra. A introdução do tema na Reunião Anual veio de uma tomada de decisão da SBPC de ampliar a agenda, incorporando a discussão da inovação às questões de ciência e tecnologia, que não aparecia explicitamente nos eventos anteriores, explica.

Ao apresentar visões do problema de acordo com a indústria nacional, Mirra informou que a ABDI teve a parceria de Marcos Formiga, assessor da presidência da CNI, na montagem de parte do programa de uma série de mesas-redondas, algumas com empresários da Amazônia ou pesquisadores. "Este diálogo tem de ser alimentado", afirmou.

Conforme Mirra, o primeiro produto da presença dos debates sobre inovação na Reunião da SBPC é a problematização do tema. "Essa é uma aventura controvertida que exige cuidado, precisa ser encaminhada com prudência para que a transformação produtiva que desejamos seja eficaz". Além das palestras e discussões, Mirra destacou a realização da Expotec, mostra de empresas inovadoras indicadas pela CNI-ABDI, paralelamente ao evento da SBPC. "A idéia é colocar mais vozes, maior volume de informações para o público, com espaço para o contraditório".





Evando Mirra (ABDI).

Créditos: Agência CNI



Evando Mirra define inovação como a "introdução de novos processos, produtos e serviços no mercado e na prática social, para a solução de problemas cruciais que temos. Dito de outro modo: o conhecimento levado ao mercado e à prática social.

Inovações constituem resultados de processos coletivos de trabalho, que têm foco na empresa [mercado] ou no agente social. É um processo essencialmente coletivo".

Como um exemplo, Evando Mirra cita a solução do dilema do ancoramento das plataformas de petróleo da Petrobrás feito com correntes de aço. Nas profundidades de mais de 800 metros as correntes pesavam demais, a ponto de ameaçar arrastar para o fundo a estrutura da superfície. A solução foi encontrada numa empresa gaúcha, a Cordoaria São Leopoldo (CSL), que pesquisava fibras de poliéster de alto desempenho para fabricação de tênis, e desenvolvida em colaboração com o Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), CSL, FURG e UFRGS.

A inovação possibilitou avançar na profundidade e adicionou características vantajosas em diversos aspectos. A Petrobrás avançou também na robótica submarina, em que o Brasil é líder mundial. "O novo sistema de ancoramento hoje é usado em explorações de petróleo também no Golfo do México e Angola", disse Mirra. Para ele, o caso citado é também um exemplo dos resultados da integração do Cenpes numa rede com centros de pesquisa no país inteiro e com universidades. São 129 grupos de pesquisa, com os quais a Petrobrás já assinou mais de 3.600 contratos. "A inovação não se faz sozinho. É uma estratégia coletiva construída de forma conjunta", lembra.

A inovação responde por cerca de 50% do crescimento econômico de longo prazo dos países industrializados, cita Mirra, com base em estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). "As universidades têm participação estratégica nesse espaço: geração de idéias; formação de recursos humanos qualificados; parcerias; motivações e projeto acadêmico. Investimentos crescentes em conhecimento são a chave do desempenho econômico e de ganhos no campo social, e estão associados à emergência de uma sociedade mais interconectada, onde criação e aplicação do conhecimento tornam-se cada vez mais colaborativos", acrescenta.

As empresas mais inovadoras do mundo, observa Mirra, pertencem à área das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). A cultura inovadora no Brasil ainda é incipiente, assinala o diretor da ABDI. "As empresas que inovam e diferenciam produtos puxam a escolaridade para cima, são as que melhor pagam a mão-de-obra e onde a taxa média de permanência da equipe é maior." Pesquisa e desenvolvimento (P&D) criaram no Brasil uma agricultura tropical competitiva,tornaram o cerrado ideal para o plantio de soja, tornaram o país líder em biomassa energética, e transformaram Petrolina em prodígio horticultural, responsável pela quase totalidade exportada de uva e manga, disse Mirra. Outro exemplo citado é o do Ceará, que exporta rosas para a Holanda e Nova Iorque.

A Análise Computacional da Dinâmica dos Fluídos, projeto da Embraer apoiado pela Fapesp que envolve oito instituições e três empresas, é destacado por Mirra, entre outros esforços de inovação. Ele cita ainda as inovações da Marcopolo, que apostou pesadamente em ciência e tecnologia, hoje está implantada em 70 países e conseguiu vencer uma concorrência mundial, tornando-se fornecedora de ônibus para os peregrinos que vão a Meca. "Cerca de 3 milhões de islâmicos fazem a pé ou camelo o caminho a Meca uma vez por ano. A religião não permite que no trajeto nada os separe do contato com o céu, então a Marcopolo criou o ônibus sem teto. Para inovar é preciso entender os desejos, sonhos e necessidades do público-alvo", diz Evando Mirra.

A inovação no atual momento no Brasil tem componentes de incertezas e deve ser conduzida com cuidado, segundo Mirra. Ele recomenda estimular a controvérsia e o contraditório no tratamento do tema. Propõe incorporar nas escolhas estratégicas e nos processos decisórios as visões de sociedade e a opinião pública. Aconselha a lidar com a complexidade das interações locais, nacionais e internacionais com instituições de ensino e pesquisa, governo, empresas e indivíduos.

O eixo da organização jurídica está complicado para o ambiente da inovação. Todavia, o quadro geral é favorável. "Mudaram as nossas possibilidades. Existe um grande esforço coletivo de articulação e mobilização das competências e das vontades.

Estamos construindo um acervo notável de realizações e demonstramos que sabemos inovar. Atingimos um estágio inédito de competência científico-tecnológica e dispomos de massa crítica para sonhar mais alto. A grande transformação está em curso - e seu sucesso está ao nosso alcance", concluiu Mirra.


Nota do Managing Editor: esta matéria foi primeiramente veiculada no Boletim da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 11 de julho de 2007.

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