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Nanopartículas no centro da arena de debates : perigosas, ou não, à saúde ?


A nanotoxicologia francesa começa a ver mais claro. "Não há mais nenhum sentido em se falar do impacto das nanopartículas, é preciso estudar cada família. O problema é que não sabemos se elas são algumas ou algumas centenas", explica Eric Thybaud, responsável pelas Ciências da Vida no Instituto Nacional de Meio Ambiente Industrial e de Riscos (Ineris). O Ineris tem três anos de atividade desde as suas primeiras experiências de nanotoxicologia. Três anos passados administrando estudando as nanopartículas manufaturadas e seguindo seu percurso no organismo. Com resultados bastante disparatados.

"Escolhemos nos especializar nas vias respiratórias em função de nosso passado. O Ineris está na origem do centro de estudos e de pesquisas sobre minas de carvão da França", explica Vincent Laflèche, Diretor Geral. A respiração é o modo de exposição mais susceptível de produzir efeitos, considerando que os carbonosos são muito voláteis. Os pesquisadores estão também concentrados sobre dois grandes tipos peculiares de partículas: primeiro os nanotubos de carbono (50.000 vezes mais finos na espessura do que um fio de cabelo), "porque conhecem atualmente um grande desenvolvimento industrial, estaremos fortemente expostos", indica Philippe Hubot, diretor de riscos crônicos. O Instituto evoca as "associações de empresas" para justificar a escolha assim como sua experiência sobre o amianto, uma fibra a qual lembra os espaguetes de carbono.

Os pesquisadores começam também a trabalhar sobre os óxidos metálicos, entre os quais os famosos óxidos de titânio. Contudo o orçamento para estes assuntos continua derrisório porque uma centena de especialistas dispõe de dois milhões de euros (cerca de 5,2 milhões de reais) por ano para desbravar um matagal desconhecido. Esses números, todavia, não levam em conta as outras pesquisas sobre a toxicologia ambiental e as qualidades explosivas desses materiais tão reativos.


Uma questão de dose

Em suas primeiras experiências, os toxicólogos do Ineris se alarmaram com os efeitos deletérios dos nanotubos de carbono. "Iniciamos injetando fortes doses de até 5 miligramas na traquéia de animais. Os alvéolos pulmonares apresentavam, então, sintomas de inflamação, de fibrose, de granulose, etc. Retomamos nossas manipulações usando doses mais realistas." As concentrações se mostraram representativas das exposições as quais estão sujeitas o público, doses de 1 a 100 microgramas. Para o Ineris, o risco que se verifica na indústria pelos que manipulam estas substâncias é menos prioritário, porque os trabalhadores podem ser facilmente equipados com sistemas de proteção.

Em doses menores os nanotubos perderam seu efeito. "Mostramos que as partículas não passam para o sangue. Após a administração, as partículas atingem os alvéolos pulmonares e aí persistem sem ultrapassar a barreira para o sistema sanguíneo. É uma novidade tranqüilizadora", revela Eric Thybaud. Ao cabo de seis meses, portanto, apenas 16% de nanotubos estão ainda presentes. Os biólogos imaginam então que os macrófagos conseguem fagocitar os intrusos. Verdadeiro filtro de ar dos pulmões, cada um desses grandes glóbulos brancos se encontra na extremidade de um alvéolo, do qual ele se desembaraça das sujeiras que escaparam às barreiras precedentes no nariz, na boca, etc. Os pesquisadores constataram que os macrófagos conseguem "quebrar" os nanotubos em pequenos pedaços, mais facilmente digeríveis. Essa fagocitose provoca em seguida a morte da célula macrófaga. Esta é mais tarde expulsa do organismo pelo "elevador de muco". Para Eric Thybaud, esse fenômeno distingue claramente os nanotubos de carbono das fibras de amianto. Estas últimas provocam igualmente a morte dos macrófagos, mas é uma morte "suja", que faz explodir a célula e impede sua expulsão. Os biólogos não sabem explicar a diferença entre os dois, mas supõem que a natureza carbonada dos nanotubos facilite o despedaçamento, sendo o amianto, ao contrário, uma substância mais exótica para as células vivas.




"Macrófagos fagocitando os nanotubos de carbono.

Créditos: Les Echos



Em função das partículas

Esses primeiros resultados do Ineris, que em breve serão publicados, tendem, portanto, a subestimar o impacto dos nanotubos. Apesar de tudo, seus autores conservam-se prudentes. Um recentíssimo estudo escocês deixa entender o contrário. A equipe de Ken Donaldson, da Universidade de Edimburgo (Irlanda), descobriu que os nanotubos de grandes dimensões provocam nos ratos uma inflamação e lesões do mesotélio, a membrana que recobre os pulmões e a cavidade abdominal. Dois outros estudos internacionais sobre a sensibilidade do mesotélio às nanopartículas mostraram impactos que lembram o amianto. O Ineris relativisa esses estudos porque seus signatários injetaram diretamente as partículas nos órgãos, criando portanto o impasse sobre a questão da passagem de ar ao sangue. Esses resultados continuam, não obstante, realistas, porque a penetração de partículas pode se fazer por outros caminhos que não os pulmões, como a pele, o estômago, etc. Vários trabalhos também mostraram que elas podem passar do nariz ao cérebro, pelo nervo olfativo.

Todos esses fenômenos diferem fortemente segundo as partículas. O estudo escocês mostrou que os nanotubos curtos não afetam o mesotélio. O Ineris igualmente verificou se a instilação de pólen e de partículas aumenta o efeito alergênico. O óxido de titânio se revela neutro, enquanto um tipo particular de negro de fumo (esferas de algumas dezenas de nanômetros) agrava a reação alérgica de roedores. O instituto francês trabalha agora para tornar suas experiências mais realistas. Em alguns meses, seus pesquisadores terão desenvolvido uma técnica para simular a inalação nos animais em substituição à instilação líquida das nanopartículas. "Os protocolos experimentais são cada vez mais pesados, é preciso se especializar", estima Philippe Hubot. É por isso que vários laboratórios franceses como o CEA e o Instituto Nacional de Pesquisa e de Segurança decidiram harmonizar suas pesquisas. O CEA, implicado no desenvolvimento de células fotovoltaicas, vai, por exemplo, se concentrar no impacto do carbeto de silício. A especialização vai igualmente tocar os métodos, uma vez que o CEA fará valer sua expertise em imagiamento médico, em Saclay. O Ineris continuará a fazer testes in vivo, graças aos seus biotérios. Seus pesquisadores desejam também desenvolver os métodos de modelagem.

Les Echos (http://www.lesechos.fr/), 02 de julho, 2008 (Tradução - MIA).


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