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Resíduo é matéria-prima para sustentabilidade no mercado.


O presidente da Cetrel, empresa responsável pelo tratamento e disposição final dos efluentes e resíduos industriais do Polo Industrial de Camaçari e pelo monitoramento ambiental de emissão em todo o complexo e sua área de influência, o economista Ney Silva está convencido de que não existem resíduos e, sim, matérias-primas a serem transformadas. Ele fará a defesa dessa tese na 2ª Conferência da Indústria Brasileira do Meio Ambiente (Cibma), de 19 a 21 de maio em Salvador.

"Estaremos na 2ª Cibma e vamos levar a nossa contribuição", disse ao lembrar que atualmente a Cetrel é modelo tanto no tratamento e reúso da água quanto na emissão de gases. "Vamos discutir os novos rumos e as preocupações ambientais da indústria brasileira" afirmou.

A Cetrel investe 7% do seu faturamento em pesquisa e inovação tecnológica. Recentemente teve renovada a licença ambiental do polo - que está sob sua responsabilidade - por mais oito anos, pelo órgão ambiental da Bahia.

"O modelo da Cetrel inspira tanta confiança que os órgãos ambientais renovam uma licença por oito anos, o que não é muito comum no restante do País", comemora Ney. Nos últimos 30 anos a empresa foi pioneira e acumulou a experiência de tratar os efluentes líquidos das empresas do polo, monitorar emissões e ainda controlar os resíduos em águas subterrâneas.

Se no passado havia um passivo ambiental enorme na região, Ney lembra que hoje já existem resultados. Como a recuperação de rios e melhorias com o tratamento e lançamento dos efluentes no mar. "Mas o meu sonho é fazer com que essa água lançada ao mar, no emissário, volte para ser reaproveitada", afirma.

Com três décadas de trabalho em soluções ambientais, a empresa vive agora, segundo seu presidente, um novo momento.

"Descobrimos que se a Cetrel continuasse como estava, ela acabaria, porque as empresas hoje se preocupam em produzir cada vez menos emissões". "Assim, no lugar de esperar a chegada dos resíduos e tratá-los, a Cetrel decidiu ajudar as empresas a reduzir suas emissões e também a aproveitar o que é descartado".


Projetos de inovação

Com essa meta, segundo Ney Silva, realizou-se um convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) - e começaram a surgir os projetos. E se a empresa surgiu no passado com o objetivo de corrigir os danos ambientais causados pela indústria, que lançava seus efluentes diretamente no rio Capivara, por exemplo, hoje inova descobrindo ser possível transformar bagaço de cana em uma componente plástico, que pode substituir a madeira, investe em parcerias e fortalece a inovação.

Surgiram os chamados biocompósitos e protótipos para suas diversas utilizações em móveis e utensílios. De empresa de soluções ambientais, ela passou a ter como objetivo uma empresa "comprometida com o futuro". A partir de quarta-feira, dia 14/04, a empresa passa a ter nova logomarca e vai mudar até sua razão social.

Em convênio com a Finep e universidades no exterior, passou a pesquisar as diferentes formas de materiais para transformar os resíduos em negócios. "Na Alemanha, o governo paga 70 euros por uma tonelada de lixo. Assim, as empresas já começam ganhando" explica Ney, lembrando que no Brasil há um longo caminho desde a coleta seletiva, feita de forma mais ampla somente em Porto Alegre.

Há três anos começou em seus laboratórios a pesquisar diferentes tipos de aproveitamento dos rejeitos. E segundo o presidente da empresa, os resultados e testes das pesquisas são animadores.

Das cinzas do incinerador surgiram asfalto, tijolo e revestimentos para pisos e banheiros. Do bagaço da cana e uma mistura de polietileno, uma inovação surgiu no ano passado e, junto com a Braskem, a Cetrel está fabricando os biocompósitos, um componente plástico usado para fabricar desde cadeiras, bancos e recipientes diversos, até manequins.

A aplicação é bem abrangente. Vai do PVC, já usado pela construção civil, a material mais ecoeficiente para decoração, isolamento acústico, tubulação, cercas, decks de piscina, infraestrutura, alternativa em substituição à madeira in natura.

Para Ney, entretanto, o projeto mais ambicioso da Cetrel está nas pesquisas para a produção de biogás a partir do vinhoto da cana. Por um acordo de pesquisa e cooperação com a Universidade de Ghent, na Bélgica, a Cetrel faz parte hoje do projeto colaborativo The Sustainable Carbon Negative Biorefinery of the Future (A refinaria sustentável do futuro com emissão zero de carbono) entre diversas universidades europeias para identificação de novas tecnologias na transformação de material orgânico em energia limpa.

As pesquisas estão adiantadas e, segundo Ney Silva, há um protótipo em uma usina da Paraíba com previsão de resultados para o segundo semestre desse ano. Foi a partir desse projeto que surgiu uma parceria com a empresa dinamarquesa Novozymes, líder na produção de enzimas, para melhorar o processo de geração do biogás.

CNI (Confederação Nacional da Indústria).


Nota do Managing Editor: esta matéria foi primeiramente veiculada no Portal da CNI, em 14 de abril de 2010.


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