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EDITORIAIS
Explosão Universitária O mais recente "espetáculo do crescimento" a que o Brasil assistiu foi o das faculdades privadas. Apenas entre novembro de 2001 e julho deste ano, as instituições particulares de ensino superior experimentaram um aumento de 45%. Isso significa que 544 novos estabelecimentos foram autorizados a operar, o que dá uma média de uma nova faculdade a cada 1,2 dia. Para efeito de comparação, entre 1998 e 2001, surgia uma instituição a cada 2,5 dias; entre 95 e 98, a cada 13,7 dias. Em princípio, a ampliação das vagas é bem-vinda. Tudo o que contribua para aumentar a escolaridade do brasileiro, que ainda é muito baixa para os padrões internacionais, tem pelo menos um lado positivo. Mas reconhecer essa obviedade não significa que se deva aplaudir sem reservas a proliferação de faculdades. A preocupação, como não poderia deixar de ser, é com a qualidade. Ainda que do ponto de vista exclusivo do aluno seja melhor cursar uma má escola do que escola nenhuma, as coisas se complicam quando se consideram também os impactos sociais. Um médico ou um advogado com graves deficiências de formação podem tornar-se ameaças públicas. Como as novas escolas são pagas, o próprio estudante pode estar sendo vítima de um conto-do-vigário, no qual paga muito para obter pouco. De resto, embora as instituições privadas tenham um papel a cumprir na educação, ele é apenas complementar ao das universidades públicas, que, em termos de produção científica, continuam líderes absolutas e incontestes: 90% da ciência feita no Brasil é obra de pesquisadores de instituições ligadas ao Estado. E as novas faculdades particulares dificilmente investirão em pesquisa básica, que é bastante cara e, em boa parte dos casos, não dá retorno financeiro. Ainda assim, o espaço para as instituições privadas é grande. É preciso, porém, que as autoridades estejam atentas para a questão da qualidade. Sofisticar métodos de avaliação, como o provão, é um imperativo. O espetáculo do crescimento por que passou o ensino superior precisará provar sua consistência, ou não terá passado de um truque de prestidigitação para, enganando muitos, encher os bolsos de poucos. Nota do Managing Editor: o editorial em questão foi publicado no jornal Folha de São Paulo, de 05 de agosto de 2003. |
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