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Ciência na Rede

Uma das principais características do método científico é a ampla troca de informações entre pesquisadores. Ninguém, é claro, entrega ao laboratório rival o segredo que pode levar a um Prêmio Nobel, mas, uma vez concluído o experimento ou feita a descrição do achado - e requeridas as eventuais patentes - , é praxe submetê-los a publicação por um periódico de prestígio e auditado, ou seja, com o controle de qualidade que se chama de "peer review" (revisão pelos pares). Enquanto a pesquisa não é publicada, ela não existe para o mundo científico

É essa rápida troca de conhecimentos que permite o avanço da ciência. O experimento publicado logo é repetido por outros grupos que trabalham na mesma área. Se houver erros no original, são grandes as chances de ele ser detectado. Pequenas variações na repetição podem levar a novas conclusões. Muitas vezes, um determinado achado é a peça que faltava para completar a pesquisa de outro grupo. É a publicação que integra os vários centros de pesquisa e dá organicidade à comunidade científica.

Como não poderia deixar de ser, o advento da Internet trouxe importantes repercussões para o mundo da ciência. Com facilidades como o correio eletrônico, nunca foi tão fácil - e barato para um pesquisador trocar impressões com um colega em outro país ou continente. O meio das publicações científicas também foi afetado. Surgiram, nos últimos anos, uma pletora de novos títulos eletrônicos, que aliam a maior agilidade à redução dos custos com papel, impressão e distribuição.

Questiona-se, também, o modelo de negócios das publicações. Os principais periódicos costumam cobrar - e muito - para ser lidos. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), por exemplo, gasta cerca de US$ 20 milhões anuais para colocar os principais "journals" à disposição dos pesquisadores brasileiros em seu portal na Internet. As publicações alegam - não sem fundamento - que têm custos muito elevados para manter equipes de editores especializados e cientistas que julgam o mérito de todos os trabalhos que lhe são submetidos pelos autores.

O argumento não convence a todos e já surgiram alternativas como "PloS", sigla para "Public Library of Science", ou biblioteca pública de ciência. É uma publicação que nada cobra para ser lida. A idéia é especialmente sedutora para países pobres com o Brasil, cujos laboratórios e instituições de pesquisa nem sempre dispõem das centenas de dólares para assinar uma revista. No plano nacional, a Fapesp (Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo) mantém o portal Scielo (www.scielo.br), que dá acesso gratuito a 120 publicações brasileiras.

Infelizmente não existe almoço gratuito. "PloS", a exemplo de seus congêneres, tem custos que precisam ser cobertos. Assim, ela cobra cerca de US$ 1.500 dos autores para publicar um texto. Ainda não se sabe ao certo se esse é um modelo viável. Mesmo na hipótese de sê-lo, cabe lembrar que a taxa pode ser proibitiva para muitos pesquisadores do Terceiro Mundo. Trata-se, porém, de uma iniciativa que merece apoio e incentivo. No mínimo, por estar mais de acordo com a filosofia do método científico, que é a de dar a maior publicidade possível a experimentos e achados de pesquisadores.

Nota do Managing Editor: Este editorial foi primeiramente publicado no jornal Folha de São Paulo, de 28 de março de 2004 e tem sido replicado por diferentes órgãos de comunicação.

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