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EDITORIAIS

Nada de Química. Nada de Física.
Editorial de Rudy M. Baum, Managing Editor da Chemistry & Engineering News. Publicado no C&EN, 3 de setembro, 2001

Talvez tenha chegado a hora de jogar a toalha! Mas... jogar a toalha, por quê? Estamos perdendo alguma batalha? Sim, aquela de convencer o grande público da significativa contribuição que a Química vem aportando ao bem-estar da humanidade!

Estou sendo por demais pessimista? Você acha mesmo? Então, veja estes dados! A reportagem de capa da Revista Time, 20 de agosto, é intitulada: O Melhor da Ciência e da Medicina na América. Nela, os editores "focalizaram os campos mais excitantes de pesquisa" e, então, procuraram pelos "homens e mulheres que estão fazendo as pesquisas de ponta nesses campos".

A Revista coloca em evidência 18 pessoas, nas seguintes áreas: biologia celular; origem humana; psicologia infantil; pediatria; genômica; cardiologia; oncologia; climatologia; ecologia; AIDS; astrofísica; paleontologia; engenharia biomédica; neurobiologia; morte celular; doenças da coluna e mecânica molecular.

Estaria faltando alguma coisa? Bem, sempre considerei que dois ramos de destaque na Ciência fossem a Química e a Física. No entanto, nenhum dos dois figura na lista.

Já sei, já sei. Você dirá que a Revista cita um astrofísico. Pergunto: a astrofísica é, no momento, o interesse central da Física?

O engenheiro químico Robert Langer mereceu destaque por seu revolucionário trabalho em "liberação de drogas". É muito grande nossa admiração por Bob Langer. Ficamos contentes que tenha tido seu trabalho reconhecido. Contudo, o artigo da Time sugere enfaticamente que os engenheiros químicos trabalham para companhias de petróleo, tendo o sucesso de Langer ocorrido porque o mesmo se distanciou da engenharia química. Na verdade, e isso é notório, seu sucesso realmente se deve a seu brilho como engenheiro químico e como químico.

Há 1 (hum) químico na lista: Carlos Bustamante, Professor de Química da Universidade da Califórnia (Berkeley). Ele é citado na categoria mecânica molecular pelo seu uso de laser e microscopia de força atômica, na manipulação física de DNA e proteínas. Observa-se, no entanto, quão notável é o esforço feito pela Revista para evitar o uso das palavras "químico" e "Química". Bustamante é identificado como um "investigador do Instituto Médico Howard Hughes", em Berkeley. Não se coloca, aqui, qualquer dúvida quanto à excelência da Instituição. Contudo, observe que a identificação de Bustamente, conforme feita, transforma o único químico do panteão da Time num "pesquisador médico".

Para a Time (e para a maioria de seus leitores), infelizmente, ciência, hoje, é apenas a Medicina.

Das 18 categorias identificadas na Revista como sendo os campos mais excitantes de pesquisa, pelo menos 6 são especificamente médicas. Outras 8 são biológicas - com ênfase primária no avanço das fronteiras da Medicina. O prêmio de "realização da geração" foi concedido ao mais influente biólogo do século 20: Edward O. Wilson, de Harvard. Somente 3 categorias - climatologia, astrofísica e mecânica molecular estão fora da arena de pesquisa biológica/biomédica.

Os 18 cientistas citados na Time são, certamente, dignos de reconhecimento. Meus argumentos não objetivam, de forma alguma, uma crítica negativa a qualquer esforço científico de primeira linha. Mas a Time, neste número, coloca duas equações destrutivas:

CIÊNCIA = BIOLOGIA

FRONTEIRA = PROGRESSO MÉDICO

Estou convicto de que nenhum cientista, inclusive aqueles reconhecidos pela Time, aceita qualquer dessas equações como verdadeiras.

Contudo, ao propo-las, a Time presta um desserviço à Ciência. Além disso, essa prestigiosa publicação prejudica a compreensão pública quanto à interconexão e dependência mútua entre as ciências básicas - especialmente a dependência da Biologia dos avanços da Química e da Física.

Não sei qual o melhor a ser feito neste caso! Mas acredito que, talvez, alguém devesse escrever uma carta ao editor da Time. Nós, aqui da Chemistry & Engineering News, certamente, não estamos jogando a toalha. Continuaremos noticiando todas as semanas aquilo que da melhor química está sendo feito nos Estados Unidos e em todo o mundo. Continuamos esperando que, finalmente, se compreenda que, uma boa parte da ciência de fronteira de nossos dias está sendo feita por químicos.

Rudy M. Baum, Managing Editor da Chemistry & Engineering News. Publicado no C&EN, 3 de setembro, 2001.


Nota: Este Editorial é uma tradução livre do Prof. Paulo Sérgio Santos, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, Colaborador do Website LQES.

Veja mais sobre a questão da Imagem da Química, na rubrica Pontos de Vista - Artigos de Opinião

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