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ENTREVISTAS
"A propósito da Nanotecnologia : aplicação prática e novas posturas de atuação dos profissionais da área de exatas e tecnológicas". FK - O conhecimento científico avança de maneira cada vez mais veloz, impulsionado, em grande parte, pelas novas tecnologias. Ouvimos falar de nanotecnologia, inteligência artificial, física molecular, etc., imaginando de que maneira tais conhecimentos serão aplicados na prática. Na sua opinião, como esses avanços influenciarão a atuação dos profissionais da área de Ciências Tecnológicas e Exatas? OLA - Esta pergunta merece uma resposta longa. Minhas primeiras observações vão na direção de enfatizar alguns aspectos que me parecem importantes para situarmos bem o problema. Hoje em dia, principalmente nos países desenvolvidos, às vezes não fica muito clara a linha demarcatória entre ciência e tecnologia, dado que em muitos casos ambas são desenvolvidas quase que concomitantemente. Entretanto, é claro que existem diferenças inexoráveis, ligadas às naturezas intrínsecas dos empreendimentos científicos e tecnológicos. Existem inúmeros exemplos da geração de tecnologia através de um grande aporte científico. Talvez, um dos exemplos mais emblemáticos tenha sido a descoberta do laser no início dos anos 60, quando ninguém concebia que esta maravilhosa fonte de luz tivesse qualquer utilização prática. Hoje, graças à tecnologia de laser, outras tecnologias foram desenvolvidas ou incrementadas, tais como as telecomunicações com transmissão a altas taxas, a fotônica, o diagnóstico médico de precisão, o aprisionamento de átomos e moléculas pela luz, entre outros. Se no passado vivemos a revolução agrícola e a industrial, hoje temos uma abrangente revolução multidisciplinar que está mudando o mundo. Já sentimos a virada causada em nossas vidas pela Tecnologia da Informação (computadores, telefone celular, Internet, etc.), em muito ajudada pelos grandes avanços das Ciências dos Materiais e da Nanotecnologia. Ao mesmo tempo em que a Biotecnologia revoluciona o estudo dos seres vivos, as Ciências dos Materiais e a Nanotecnologia estão permitindo a construção de dispositivos eletrônicos com performances impensáveis. Quando falamos em "novas tecnologias", a questão da multidisciplinaridade é fundamental, na medida em que elas refletem a necessidade de colaboração, sempre crescente, de especialistas de múltiplas especialidades para a resolução, da melhor forma possível, de um problema complexo. No caso das Nanotecnologias, por exemplo, das quais estou mais próximo, é muito comum assumirmos que se tratam do "encontro" da Química, Física, Biologia e Engenharia. Por ser tecnologia, está presente, como elemento não menos importante, o setor produtivo. Já existem vários produtos de nosso dia-a-dia que incorporam, por exemplo, os resultados da Nanotecnologia. Vão desde artigos esportivos (raquetes, bolas de tênis), passando por cosméticos (protetores solares), tecidos bactericidas, até chips de computadores, memórias flash (pen-drive), próteses absorvíveis, kits de diagnóstico, etc. Muitos de nós ainda não percebemos que estamos no meio desta revolução e, conseqüentemente, no meio de suas incertezas e sucessos. Certamente, muitas outras coisas virão, sobretudo ligadas às ciências da vida e ao desenvolvimento de materiais avançados. Fica claro que os profissionais que vão atuar nas áreas das novas tecnologias deverão incorporar os valores da mudança. Considerando a velocidade do desenvolvimento científico e tecnológico que, em princípio, pode ser medido pelo volume de trabalhos científicos produzido a cada ano e pelas realizações tecnológicas, certamente enfrentaremos mudanças de paradigmas e rupturas. Como dissemos, isto faz com que as novas habilidades (profissões) tenham que privilegiar a muldisciplinaridade, aliada a uma forte formação básica, que permitam que os profissionais possam ser sempre re-treinados, capazes de absorver os novos conhecimentos e, especialmente, capazes de identificar novas oportunidades de pesquisa básica, tecnológica e de desenvolvimento de produto. É evidente que tudo isso somente faz sentido quando se está dentro de um ambiente em que há a busca incessante da excelência acadêmica e/ou profissional. FK - Peço que o senhor se identifique - nome completo, instituto e universidade a que pertence, pesquisa em que está envolvido e o vínculo com a SBPC. OLA - Sou Professor Titular do Instituto de Química da Unicamp, Coordenador Científico do Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES) e Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências. Estamos desenvolvendo pesquisas na área de materiais nanoestruturados (nanotubos inorgânicos e nanopartículas) e sistemas químicos integrados. Além disto, temos coordenado várias atividades nacionais e no âmbito do Mercosul, relacionadas com a Nanociência e Nanotecnologia, promovidas pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Nota do Managing Editor: esta entrevista, realizada pela jornalista Frideriki Karathanos, serviria de base para uma matéria produzida pela Agência Folie Comunicação, que seria veiculada no Caderno Vestibular 2006, de uma universidade privada da cidade de São Paulo. Segundo a jornalista, o projeto não avançou, razão pela qual concordou com sua publicação pelo Boletim Eletrônico LQES NEWS. |
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