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ENTREVISTAS
Fernando Galembeck participa de Press Conference no Annual Meeting da American Chemical Society que está sendo realizado em Boston, EUA. Na última quarta-feira, 25 de agosto, Fernando Galembeck, professor do Instituto de Química da Unicamp e Coordenador do Inomat - Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Materiais Complexos Funcionais, participou de Press Conference, veiculada pela internet. As Press Conferences (PC) são realizadas pela American Chemical Society para divulgação das mais importantes contribuições apresentadas em seu congresso anual, neste ano, realizado em Boston, EUA. Participam do evento deste ano mais de 3000 pessoas. A American Chemical Society conta com mais de 180.000 afiliados em todo o mundo. O programa ACSLive foi transmitido, via Internet, pela USStream, com a seguinte chamada:
Galembeck vem trabalhando há vários anos com os efeitos do desbalanceamento de cargas que ocorrem em diferentes superfícies, sejam metálicas ou poliméricas. Estes estudos possibilitaram a consecução de um modelo que tem permitido explicar os efeitos de separação de carga da água (cátions e ânions) na superfície de vários metais. A prestigiosa revista Langmuir, da American Chemical Society, publicou, recentemente, on-line, o trabalho "Charge Partitioning at Gas-Solid Interfaces: Humidity Causes Electricity Buildup on Metals", no qual Galembeck, Ducati e Simões confirmam que "a atmosfera é um reservatório de cargas elétricas onde os íons OH- e H+ são transferidos para interfaces gás-sólido produzindo corrente elétrica". Créditos: LQES/OLA.
LQES - De onde partiu a idéia para trabalhar neste tema de pesquisa? Galembeck - O que me despertou para esse tema foram os resultados de microscopia eletrônica de transmissão e de microscopia de força Kelvin, obtidos nos últimos doze anos, que revelaram a existência de padrões de distribuição de cargas elétricas fixas, em polímeros, vidros e outros isolantes. Esses padrões eram então surpreendentes, porque vão contra a noção de eletroneutralidade, que faz parte do ideário transmitido nos cursos de ciências, desde a escola elementar até a universidade. Esses padrões de cargas e potenciais me levaram a re-estudar eletrostática, quando percebi grandes e inúmeras lacunas nos modelos e conceitos de uma área que eu julgava ser muito bem estabelecida. LQES - Quais as dificuldades iniciais deste projeto? Galembeck - A principal dificuldade inicial foi uma certa solidão intelectual, uma vez que se trata de uma área de pouca atividade. Também foi difícil enfrentar paradigmas errôneos. Tem sido difícil conseguir colaboração, seja entre os colegas professores, seja entre estudantes. Muitos estudantes se desinteressam de um assunto que pouco aparece nas revistas de alto impacto, ou que não faz parte das modas do momento. Por outro lado, isso foi compensado pelo incentivo de alguns amigos e pela grande dedicação de alguns estudantes. LQES - Em sua opinião, qual o trabalho e/ou pesquisador cujas idéias foram fundamentais para o desenvolvimento deste projeto? Galembeck - Foi muito importante eu ter lido artigos de Schein, Whitesides, Bailey e Crowley, enunciando com muita clareza as graves lacunas da eletrostática (Schein, na Science em 2007), que a noção de eletroneutralidade deve ser revista (Whitesides) e que não há clareza nem consenso sobre a natureza das entidades dotadas de carga, em isolantes (Bailey, Crowley). LQES - Por que, em sua opinião, este tema (eletricidade estática e suas consequências) ficou tanto tempo indiferente para químicos e físicos? Galembeck - De fato, para físicos, químicos, biólogos, médicos, engenheiros, agrônomos e muitos outros. Um fator importante foi a noção, entre muitos professores, de que essa área já estava terminada no fim do século 19. Outro fator é que algumas pessoas se satisfazem com respostas incompletas e parciais, sem exercerem seu espírito crítico. LQES - O trabalho recentemente publicado na Langmuir pavimenta uma grande estrada na direção da higroeletricidade. O que ainda falta ser feito para, efetivamente, sua proposta se transformar numa nova fonte de produção de eletricidade competitiva? Galembeck - Falta quase tudo. Só o que temos, nesse momento, é uma prova de conceito e um modelo científico que está se mostrando muito robusto. A higroeletricidade está onde a energia fotovoltaica estava, no início do século 20. Entretanto, o carvão e o petróleo não são tão baratos nem tão simpáticos hoje, como eram há cem anos. Além disso, a velocidade da evolução cientifica hoje é muito maior e temos muitas novas ferramentas conceituais e experimentais que poderão permitir um progresso rápido. LQES - Como o Brasil poderá se beneficiar deste desenvolvimento? Galembeck - Como sempre, o essencial é trabalhar, com foco e consequência. Vai ser necessária muita criatividade para inventar dispositivos eficientes, contando com toda a nanotecnologia e ciência de materiais contemporâneas. Água atmosférica, que é o insumo crítico, o Brasil tem muita. Assuntos Conexos: Charge Partitioning at Gas-Solid Interfaces: Humidity Causes Electricity Buildup on Metals, Telma R. D. Ducati, Luís H. Simões and Fernando Galembeck, no periódico Langmuir, online, DOI: 10.1021/la102494k. Entrevista concedida, pela Internet, ao Editor Científico do LQES (OLA). |
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