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ENTREVISTAS

Sobre as nanotecnologias...



BM - No mês passado, o Nobel de Química premiou três pesquisadores da área de nanotecnologia. Nesse contexto, a área assumiu certo protagonismo midiático. Esse protagonismo se reflete também no âmbito científico? Porquê?
Alves
: Efetivamente, o Prêmio Nobel colocou ainda mais em evidência as nanotecnologias, desta vez aquela relacionada com as chamadas "máquinas moleculares". De modo geral, as nanotecnologias vêm fazendo parte, quase que diariamente, de notícias apresentando novos produtos (eletrônicos, cosméticos, fármacos, etc.), novas funcionalidades (tratamento de água, agentes bacterianos, vacinas, etc), novas soluções tecnológicas em função de seu desenvolvimento acelerado em todo o mundo. Para se ter uma idéia, recentemente (novembro) tivemos um evento em São Paulo (NanoTrade Show) no qual foram apresentados novos produtos, produzidos por empresas nacionais e estrangeiras, que incorporam as nanotecnologias. É ainda, no âmbito científico que as nanotecnologia têm mostrado suas grandes potencialidades, potencialidades estas que rapidamente se tornam concretas, passando a fazer parte efetiva de nossa vida quotidiana.


BM - Quais as facilidades e dificuldades encontradas no estudo da nanotecnologia em química? Existem barreiras no desenvolvimento dos projetos de pesquisa?
As dificuldades são as inerentes ao próprio desenvolvimento científico e tecnológico, ou seja, no caso do Brasil, ligadas à descontinuidades de financiamento. Neste momento, a ciência brasileira passa por uma "quase paralisia", em função de cortes importantes de financiamento, que criam dificuldades no desenvolvimento dos projetos, principalmente aqueles de longa duração. O Brasil possui facilidades laboratoriais, expertises, facilidades instrumentais de grande porte para a realização das pesquisas e desenvolvimentos na área, entretanto, temos muitos problemas ligados à falta de foco e governança dos programas existentes. Apesar disto, o Brasil tem uma participação importante nas nanotecnologias, no que tange à produção acadêmica internacional.


BM - Como as pesquisas na área de nanotecnologia evoluem no Brasil? Em algum momento, assumem protagonismo internacional? Estão conectadas com redes de pesquisadores de outros países?
Complementando a questão anterior. Estão sendo realizadas pesquisas no Brasil, reconhecidas internacionalmente em várias áreas das nanotecnologias, tais como nanosensores, nanotubos de carbono, grafeno e derivados, nanotoxicologia, entre outras. Os laboratórios mais importantes do Brasil têm relações com vários grupos de ponta do exterior, sobretudo Estados Unidos, Comunidade Européia, Japão e China. Com relação à China há até mesmo um Laboratório Brasil-China de Nanotecnologia, localizado no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, SP.


BM - Que impacto têm os estudos sobre nanotecnologia na Química em geral? De que maneira, isso se estende para outros setores da sociedade?
De um ponto de vista bem amplo, as nanotecnologias não aconteceriam sem o concurso da Química, pois o "coração" desta plataforma de conhecimento está ligada ao domínio da obtenção e processamento de nanomateriais. Sem os nanomateriais fica difícil falar das nanotecnologias, uma vez que grande parte dos nanomateriais são produzidos em laboratórios/plantas de produção de diferentes tamanhos e complexidades, onde o domínio do conhecimento químico é crítico. A extensão para a sociedade vem em produtos para higiene pessoal, cosméticos, fármacos, terapias para câncer, antibacterianos, próteses, eletrônica embarcada em automóveis e aviões, materiais para construção, fotônica, telefonia celular, calçados, têxteis especiais, para ficar apenas nestes.


BM - Hoje, um dos projetos de pesquisa que o senhor vem desenvolvendo estuda as Interações da Nanoestruturas com Biossistemas. Como funciona este estudo? Quais são os objetivos do projeto? A que resultados ou conclusões pretende chegar?
Estamos trabalhando em grande profundidade no estudo de nanomateriais (desenvolvimento de estratégias de síntese e processos) de várias famílias: nanotubos de carbono, quantum-dots, nanopartículas metálicas, grafeno e derivados) visando a obtenção de materiais de alta pureza para a realização de testes de interação com biossistemas (bactérias, células, organismos aquáticos, entre outros). Tais estudos visam, sobretudo, avaliar a toxicidade, a genotoxicidade (modificação genética após a exposição), gerando dados científicos que permitam aos legisladores elaborar a regulação das nanotecnologias. O NanoBioss (Laboratório de Síntese de Nanoestruturas e Interação com Biossistemas), situado no IQ-Unicamp, é um dos laboratórios do Programa Sisnano que fazem parte do Cluster NanoReg da Comunidade Europeia (CE) que conjuntamente com a OCDE trabalha na regulação das nanotecnologias no espaço da CE. No NanoBioss estudamos os efeitos de vários nanomateriais, especialmente aqueles que são usados em formulações comerciais, com foco sofre os efeitos sobre diferentes órgãos em colaboração com um grupo dinamarquês. Os resultados destes estudos são cotejados com outros laboratórios do Cluster e, quando da confirmação, que temos uma avaliação robusta (reprodutível em vários laboratórios e com a mesma metodologia), os resultados são enviados aos legisladores para as discussões que podem levar a normas, regulamentações e decretos. Este tipo de trabalho se enquadra naquilo que tem sido denominado "Ciência para a Regulação" (do inglês Science to Regulation).


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