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NOVIDADES
A pele de rã descartada pela indústria alimentícia está salvando vidas e ajudando na cicatrização de feridas provocadas por queimaduras de segundo e terceiro graus. Pesquisadores do Laboratório de Toxicologia da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram um curativo biológico à base de pele de rã que dispensa até a adição de antibióticos. O próximo passo será sua aplicação em feridas crônicas de pacientes diabéticos. Resistente, antibacteriano e não oclusivo (impede a retenção de líquido), este tipo de curativo natural não é nenhuma novidade na medicina. A inovação criada no laboratório brasiliense está no processo de fabricação, armazenamento e aplicação do produto, que vem sendo utilizado com sucesso pela Unidade de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), principal referência deste tipo de atendimento na capital federal. Usualmente, o curativo de pele de rã é feito com pele fresca adicionada com antibióticos e que precisa ser mantido à baixa temperatura até o momento do uso. Com a nova técnica de desidratação desenvolvida em Brasília, a pele da rã não recebe antibióticos e pode ser estocada sem congelamento. A desidratação garante a durabilidade da pele, que pode ser utilizada a qualquer momento. Iniciado há quatro anos, o trabalho coordenado pela pesquisadora Elisabeth Schwartz estudou minuciosamente as propriedades físicas e biológicas da pele da rã da espécie Rana catesbeiana. Estudos morfológicos e patológicos comprovaram o poder antibacteriano e cicatrizante do produto. "Antes de ser utilizado em seres humanos, o produto passou por diversos testes laboratoriais", explica a pesquisadora. A pele de rã já vem sendo utilizada pelo HRAN para acelerar o processo de cicatrização em áreas doadoras para a cobertura de queimaduras de terceiro grau, caracterizadas por feridas profundas que podem atingir a derme e até mesmo os músculos. Nesses casos, é necessário retirar pedaços de pele humana - geralmente da panturrilha (batata da perna) e da parte interna da coxa - para enxertá-los nos locais onde a pele foi totalmente comprometida pelo efeito do calor. A aplicação do curativo em áreas doadoras reduziu o tempo médio de cicatrização de duas a três semanas para apenas oito dias e diminuiu o risco de infecção entre os pacientes. Mas quando a área de pele queimada é muito extensa, torna-se complicada a retirada da pele de áreas doadoras; não adianta tirar de um local, onde ficará faltando, para colocar em outro. Dentro de pouco tempo o HRAN estará aplicando a pele de rã diretamente nas queimaduras de grande extensão. A gravidade de uma queimadura não se mede somente pelo grau da lesão, mas também pela extensão da área atingida. São consideradas grandes queimaduras aquelas que atingem mais de 15% do corpo, no caso de adultos, e mais de 10% do corpo no caso de crianças com até 10 anos de idade. De acordo com os especialistas, metade das pessoas internadas com queimaduras são crianças de 0 a 15 anos, vítimas de acidentes domésticos. Até o final deste ano, Elisabeth Schwartz espera isolar in vitro os princípios ativos da pele de rã e concluir os estudos para a aplicação do produto em feridas provocadas pela diabete. O Protocolo Experimental com a UnB já está assinado, mas a continuidade da pesquisa depende de parcerias com setores farmacêuticos e hospitalares interessados em investir em um medicamento eficiente e de baixo custo. A matéria-prima para a continuidade dos trabalhos está garantida. Desde o início da pesquisa, a empresa Rander vem fornecendo gratuitamente toda a pele de rã necessária para a fabricação dos curativos. Agência Brasil - ABr, 07 de julho, 2003 (MC). |
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