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NOVIDADES
Para aqueles aos quais a palavra artemísia remete apenas ao licor de nome absinto, extraído de uma de suas variedades (artemisia absintho), que já foi bastante cantado em prosa e verso, pode surpreender a informação de que um dos componentes da planta era, e é, utilizado pelos chineses como remédio antiimpaludismo, antimalária. Pois é: cientistas ingleses conseguiram penetrar nos segredos desse velho remédio chinês, que poderá se constituir em uma arma eficaz para vencer as resistências surgidas no tratamento dessa doença. O impaludismo, paludismo ou malária, como é mais conhecida a enfermidade, é uma infecção que acomete o homem e outros mamíferos, e também aves e anfíbios, causada por protozoários do gênero Plasmodium, do qual são conhecidas aproximadamente 50 espécies. Trata-se de um flagelo que tem feito, no mundo, quase um milhão de mortes por ano. Os cientistas vêm tentando cercar a doença e, há alguns anos, têm olhado com grande interesse para a artemisina, um componente da Artemisia annua ("qing hao"), erva tradicional na China. A artemisina é considerada como um potente antiimpaludismo, ainda que as resistências aos tratamentos clássicos, como a cloroquina, venham se desenvolvendo mais e mais, principalmente na África. Na Faculdade de Medicina do Hospital Saint-George, em Londres, Reino Unido, Sanjeev Krishna e seus colegas descobriram o mecanismo que envolve esse tratamento tradicional, cuja história remonta à noite dos tempos, tendo tido início por volta de 340 d.C. Conta-se que um escriba taoísta redigiu um "Manual de Tratamentos de Emergência", do qual consta a receita de uma infusão, à base de artemísia, uma planta aromática, para combater a febre. Li Shizen, um sábio chinês, doze séculos depois, entendendo que o remédio poderia ser usado contra os sintomas da malária, o inclui numa compilação que tornar-se-ia clássica na história da medicina chinesa. Não obstante à história de sucesso do medicamento, foi apenas em 1972 que os cientistas chineses voltaram seu interesse a esse remédio tradicional, extraindo seu componente ativo, ao qual deram o nome de artemisina. Até o presente, pensava-se que o contato da substância com o parasita do impaludismo fazia com que a mesma liberasse radicais livres, os quais atacavam e destruíam a membrana celular do parasita. Os pesquisadores britânicos apresentam explicação diferente, sugerindo que o mecanismo que se dá é bastante complexo e muito sofisticado. A artemisina age, de fato, bloqueando a ação de uma enzima (PfATP6), essencial para bombear o cálcio de e para as células do parasita. É sabido que, para seu motor molecular, todas as células complexas têm necessidade desse bombeamento. Inicialmente, a equipe de Krishna infectou ovos de rã que tinham exposto paralelamente à artemisina. Concluiu, então, que a enzima PfATP6 não age senão sobre o parasita do impaludismo, bloqueando sua bomba de cálcio. Ensaios bioquímicos deverão ser feitos no sentido de confirmar ou não essa descoberta, até agora restrita à observação científica. Em caso positivo, que é o que a medicina aguarda ansiosamente, novas pistas para a luta contra a malária serão abertas, menos sensíveis às mutações do parasita, mutações que estão na origem das resistências surgidas em várias regiões. BBC: http://news.bbc.co.uk. (Tradução/Texto - MIA) |
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