O aquecimento do clima está invariavelmente presente na pauta das discussões ambientais. A questão que constantemente se levanta é: como resolver ou contornar o problema? Em direção a uma resposta, pesquisadores surgiram com a idéia de fertilizar os oceanos com ferro. Idéia sedutora é verdade, mas que apresenta alguns obstáculos, na opinião de um grupo de pesquisadores liderados por Maurice Levasseur, da Universidade de Laval, Quebec (Canadá), do Departamento de Biologia.

Visando a desembaraçar a atmosfera de seu excesso de dióxido de carbono, o enriquecimento dos oceanos com ferro favoreceria o crescimento de populações de algas microscópicas que fixam o carbono em sua biomassa. O acréscimo de ferro, elemento cuja baixa concentração constitui um freio demográfico importante, levaria ao desenvolvimento das algas que, finda sua curta vida, iriam se sedimentar no fundo do mar, imobilizando para o futuro importantes quantidades de carbono.

Uma superfície de 64 Km², no centro do Golfo do Alaska, foi o campo de testes dessa hipótese. Trinta e sete pesquisadores canadenses, americanos, japoneses e neozelandeses promoveram a fertilização desse "espaço" com ferro. O previsto se deu: as populações de algas subiram nos dias que se seguiram à aplicação do ferro, contudo, somente 8% do carbono assimilado pelas algas tomou o caminho das profundezas oceânicas. O carbono restante permaneceu nas camadas superficiais do mar, ou voltou para a atmosfera, após a degradação das algas pelos predadores e bactérias.

Um fator limitante pode vir a esconder um outro, conforme levantou o estudo. Doze dias após o acréscimo de ferro no mar, cessou a explosão demográfica das algas! O motivo foi a falta de outra espécie química: o silicato. Segundo Maurice Levasseur, o "ferro é um elemento essencial para as algas, como as concentrações requeridas são ínfimas, o enriquecimento dos oceanos com ferro não é impossível, mas, por outro lado, para manter o efeito do ferro, seria necessário acrescentar também silicato. Em razão das quantidades implicadas, a coisa é economicamente impensável".

Embora tenha sido um duro golpe à idéia de fertilizar os oceanos com ferro para estabilizar a temperatura terrestre, ela não deve ser totalmente descartada. Não obstante, será necessário que se conheçam todas as conseqüências de semelhante medida sobre os ecossistemas e o clima.

Revista da Universidade de Laval, vol. 39, n. 26. (Tradução/Texto - MIA)

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