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NOVIDADES
Os EUA podem aprovar em 2005 a primeira droga étnica do mundo. Chamada BiDil, ela é indicada para o tratamento de insuficiência cardíaca congestiva, mas somente em negros. A BiDil foi um dos assuntos analisados em uma revisão sobre um dos temas mais polêmicos da ciência, a genética da raça. A revisão foi publicada num suplemento especial da revista Nature Genetics, uma das mais importantes do mundo. O suplemento reuniu artigos a respeito das implicações médicas e sociais de um número crescente de pesquisas que associam aspectos étnicos - que partem do princípio de que a cor da pele é um bom indicador de ancestralidade - à medicina e a investigações criminais. Nos EUA, esse tipo de pesquisa vem se tornando cada vez mais freqüente, criando em muitos grupos o receio de que variações genéticas associadas à medicina possam ser usadas em argumentações racistas. Essas pesquisas suscitam questões como a conexão entre a cor da pele e a saúde; e se haveria diferenças em relação a características mais complexas, como inteligência e comportamento. Pesquisadores norte-americanos investigam se populações - ou grupos raciais teriam pequenas variações genéticas que as tornariam vulneráveis ou resistentes a doenças ou que regulassem a ação de drogas. Segundo um dos artigos, de Sarah Tate e David Goldstein, da University College London, há pelo menos 29 remédios cuja eficácia variaria entre grupos raciais. Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos EUA e um dos pioneiros do Projeto Genoma Humano, admite que o tema é incendiário, mas afirma que é melhor estudá-lo com seriedade do que deixar espaço para que grupos racistas o façam. Muitos geneticistas argumentam, porém, que diferenças entre indivíduos são muito mais importantes do que as registradas entre populações. A medicina orientada por variações populacionais é vista como o meio do caminho até o objetivo final da farmacogenômica, que é o tratamento feito sob medida para o perfil genético de cada paciente. O Professor Sérgio Danilo Pena (http://www.abc.org.br/%7Espena), titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais e um pioneiro nos estudos de ancestralidade e genética no Brasil, considera uma grande tolice falar em genética racial. O DNA mostra que não há raças. Pior do que isso, é perigoso abrir espaço para discussões equivocadas, que só fornecem falsos argumentos a racistas, diz ele. Na Nature Genetics, Mildred Cho e Pamela Sankar - ambas da Universidade Howard, conhecida pela militância afro-americana - advertem contra o uso de informações fornecidas por estudos de ancestralidade em investigações criminais. Destacam que ancestralidade não tem relação direta com a cor da pele. Para elas, essas pesquisas podem ter conseqüências desastrosas. Jornal O Globo (Rio de Janeiro), 27 de outubro de 2004. |
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