Laboratório de Química do Estado Sólido
 LQES NEWS  portfólio  em pauta | pontos de vista | vivência lqes | lqes cultural | lqes responde 
 o laboratório | projetos e pesquisa | bibliotecas lqes | publicações e teses | serviços técno-científicos | alunos e alumni 

LQES
lqes news
novidades de C&T&I e do LQES

2021

2020

2019

2018

2017

2016

2015

2014

2013

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

2004

2003

2002

2001

LQES News anteriores

em foco

hot temas

 
NOVIDADES

Médica dos EUA denuncia fraude em publicação científica.

É prática comum de empresas farmacêuticas recrutar pesquisadores, supostamente imparciais, para assinar estudos que estes não realizaram, com o objetivo de ocultar interesses por trás dessas publicações. Agora, alguém resolveu denunciar um caso e abrir a questão ao debate público.

Adriane Fugh-Berman é médica e pesquisadora na Universidade Georgetown, em Washington, nos EUA. Em meados do ano passado, ela foi contatada por uma empresa de comunicação médica vinculada a uma companhia farmacêutica, com uma proposta.

A dita companhia propôs que ela assinasse um artigo de revisão (tipo de estudo mais importante nas ciências médicas, pois reúne resultados de diversas pesquisas paralelas e faz um balanço de tudo que foi investigado sobre o tema). O assunto era a interação de ervas com warfarin, um famoso anticoagulante com uma longa história nos EUA, único de uso oral aprovado pela FDA (agência que regula fármacos no país).


Interesse

A proposta, feita por e-mail, dizia explicitamente que o estudo havia sido financiado por uma certa companhia farmacêutica, que não tinha nenhuma droga no mercado concorrente do warfarin, nem nenhum produto derivado de ervas. Intrigada, Fugh-Berman pediu mais informações.

Poucos meses depois, em 24 de agosto, ela voltou a ser contatada. A empresa de comunicação havia enviado um rascunho do estudo, já assinado por ela, para que ela fizesse as modificações que achasse necessárias, de preferência até o dia 1º de setembro.

Sobre o interesse da farmacêutica pelo estudo, a empresa de comunicação disse a Fugh-Berman: "Embora não haja promoção de nenhuma droga nesse estudo, a companhia quer preparar o palco para novos anticoagulantes que não estão sujeitos às inúmeras limitações do warfarin".

A pesquisadora da Georgetown não aceitou ceder seu nome para a publicação da pesquisa. E a história teria provavelmente morrido aí, não fosse uma coincidência.

Outro cientista mais permissivo foi encontrado pela empresa para assinar o estudo. O trabalho, então, foi submetido para publicação no "Journal of General Internal Medicine", revista científica americana com "peer-review", sistema em que outros cientistas, independentes, são chamados a avaliar o conteúdo dos trabalhos antes da publicação.

"Por coincidência, eu fui chamada a avaliar esse artigo, uma versão revisada, mas reconhecível, do manuscrito que antes havia sido enviado a mim", escreve Fugh-Berman, num artigo que saiu ontem nessa mesma revista.

"Ao saber de suas estranhas origens, os editores do "Journal" rejeitaram o trabalho e incentivaram uma discussão internacional sobre "ghostwriting" por empresas de comunicação entre os membros da Associação Mundial de Editores Médicos, alertando-os para o fato de que estudos submetidos podem não reconhecer apropriadamente financiamento de corporações e/ou co-autoria."

No artigo publicado, os editores do "Journal of General Internal Medicine" alteraram o manuscrito de Fugh-Berman, com autorização dela, para omitir os nomes das companhias envolvidas no caso, supostamente porque seu objetivo não era fazer uma denúncia mas sim abrir um debate.


Nomes aos bois

Em entrevista à Folha, a pesquisadora de Georgetown revelou os nomes. A empresa de comunicação médica era a Mx Communications, e a companhia farmacêutica era a AstraZeneca. Ambas têm sede no Reino Unido.

Fugh-Berman considera o problema sério. Ao encerrar seu artigo, diz: "Duvido que eu seja convidada novamente para ser uma autora de mentirinha, mas certamente há outros médicos que estariam dispostos a propagandear essas enganações".

No fim, o novo anticoagulante da AstraZeneca ganhou aprovação para alguns casos na França, mas foi vetado para uso nos EUA.

Embora tenha ocultado os protagonistas do caso, o "Journal of General Internal Medicine" entrou de sola na questão. Afinal de contas, a estratégia usada pelas farmacêuticas solapa a confiabilidade que se pode ter em resultados, mesmo quando publicados por revistas com "peer-review".

Usando um pesquisador "imparcial e independente" como autor, as empresas evitam a obrigatoriedade imposta por muitas publicações científicas de declarar interesses financeiros ligados à pesquisa. Periódicos que se consideram sérios não podem gostar disso. O "Journal of General Internal Medicine" não gostou.

"Nesta edição, Fugh-Berman descreve um caso grosseiro de comportamento antiético por um autor, um fabricante farmacêutico e uma companhia de educação médica", afirma o editorial da revista.

Em resposta ao caso, o "JGIM" decidiu enrijecer sua política editorial, especificando que qualquer pessoa ou companhia que teve influência no texto ou no conteúdo de um artigo deve ser identificada.

E a Associação Mundial de Editores Médicos ampliou seu foco para cobrar não só a responsabilidade dos autores, mas as dos que encomendam esses artigos e as empresas que os redigem e arregimentam os "ghostwriters".

Nota do Managing Editor: Este texto foi publicado no Jornal do Meio Ambiente, de 19 de abril de 2005.

<< voltar para novidades

 © 2001-2020 LQES - lqes@iqm.unicamp.br sobre o lqes | políticas | link o lqes | divulgação | fale conosco