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Rede paulista de US$ 8 milhões ataca epilepsia.

Capitaneadas pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), quatro instituições devem começar, no início do ano que vem, um estudo sem precedentes. Elas pretendem esquadrinhar o cérebro humano em busca do que acontece ali em pessoas que sofrem de epilepsia.

O Projeto CInAPCe (sigla para Centro Integrado para Apoio à Pesquisa do Cérebro, além de uma brincadeira com a palavra "sinapse", que designa a conexão entre neurônios) tem um custo estimado em US$ 8 milhões.

O esforço atualmente envolve três universidades públicas, USP (Universidade de São Paulo), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), associadas ao IIEP (Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa) do Hospital Israelita Albert Einstein.

Sua execução passa pela compra de quatro máquinas de ressonância magnética de alto campo -com o dobro da potência dos aparelhos de hospital do Brasil-, cada uma orçada em uns US$ 2 milhões. Três delas serão financiadas pela Fapesp. A quarta foi comprada pelo Einstein, única instituição privada no projeto.




Cérebro Humano.

"É natural que isso aconteça, já que o hospital tem compromissos com a assistência, além da pesquisa", diz Edson Amaro Jr., pesquisador de neuroimagem do IIEP. "Mas houve uma decisão firme, e a máquina será usada 60% do tempo em pesquisa, e apenas 40% do tempo em exames clínicos".

A idéia é coletar imagens do cérebro e desvendar padrões de ativação característicos de epilépticos. Os dados serão analisados e trocados pelos institutos, e o intercâmbio será em alta velocidade, via Internet-2 (rede com banda larga voltada para pesquisa).


"Neuroxylella"

"Esse projeto é a nossa Xylella, por assim dizer", compara Carlos Alberto Moreira-Filho, diretor superintendente do IIEP, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e um dos coordenadores do CInAPCe. A Xylella fastidiosa, bactéria responsável pela doença do amarelinho nas plantações de laranja, foi o primeiro organismo cujo genoma foi seqüenciado no país, em 2000. Sua decifração colocou o país no mapa da genômica mundial e capacitou uma série de laboratórios a trabalhar em rede nos esforços de seqüenciamento.

Daí a comparação. Moreira Filho espera que o trabalho, além de fazer avançar o estudo da epilepsia em si, também sirva como modelo para outros estudos de neuroimagens em rede, procedimento que, segundo os pesquisadores, exige até mais poder computacional do que a genômica.




Mãos que "afagam" o cérebro (crédito do Instituto Nacional de Neurologia y Neurocirurgia - UNAM, México)

O IIEP, desde 2003, tem ampliado seus investimentos em pesquisa na área de neurociência. Foi quando foi criado, lá, o Instituto do Cérebro, programa que, nesse período, já recebeu investimentos de R$ 10 milhões e que responde não só pela participação no CInAPCe mas também por outras linhas de pesquisa.

Além de tentar entender como as diferentes funções cerebrais se distribuem pelo órgão por meio de técnicas de obtenção de imagens, os cientistas também conduzem um esforço na área de biologia molecular, procurando entender, por exemplo, a base genética dos tumores cerebrais.

Ao analisar a ativação dos genes do câncer, os cientistas vêem uma série de padrões inesperados, genes que estão sendo usados mais ou menos que o normal.


Etiqueta

"Cada tumor tem um padrão muito específico, nenhum é igual ao outro", explica Oswaldo Keith Okamoto, especialista em genômica e biologia celular do IIEP. Mas, ao comparar os padrões de todos, os pesquisadores esperam encontrar uns poucos genes anômalos que sejam comuns a vários tipos de tumor - seriam como "etiquetas" do câncer.

Com isso, haveria não só um alvo molecular para a realização de diagnósticos como também a possibilidade de usar essa informação de modo a instruir o sistema imunológico do paciente a identificar e destruir apenas as células cancerosas.

A expectativa de Moreira-Filho é a de que no futuro todas essas linhas de pesquisa se encontrem, para propiciar formas de tratamento que sejam minimamente invasivas e protejam o funcionamento do cérebro mesmo após uma cirurgia.

Folha de São Paulo, Caderno Ciência, 30 de novembro, 2005. Texto de Salvador Nogueira.


Nota do Managing Editor: as ilustrações desta matéria não constavam do texto original, foram obtidas em www.google.com.


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