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NOVIDADES
Misturar duas soluções fáceis de preparar, e deixar ferver: eis a incrível receita para fabricar nanotubos, que os pesquisadores do Grupo da Matéria Condensada e Materiais (GMCM), de Rennes (Laboratório do CNRS, na Universidade de Rennes-I, França) acabam de encontrar, inspirando-se na natureza. Se os industriais já sonham com utilizá-la para produzir, sem esforço, materiais bastante sofisticados, essa descoberta, publicada em 2007, na revista Nature Materials, oferece um esclarecimento sobre um fenômeno até aqui não compreendido, observado nos organismos marinhos. Tudo começa no ano 2000. Na Faculdade de Farmácia de Châtenay-Malabry, França, Franck Artzner e Maïté Paternostre estudam um peptídeo - espécie de peptídeo-proteína -, já utilizado pela indústria farmacêutica: o lanreotídeo. Mostram que, particularmente este, em solução, forma espontaneamente nanotubos. Ocorre-lhes, então, utilizá-los para tentar reproduzir um modo de síntese freqüentemente observado na natureza: aquele pelo qual os organismos marinhos (diatomáceas, esponjas, etc.) constroem estruturas de silício bastante complexas e notavelmente rígidas, a partir de certas proteínas e de óxido de silício solúvel em água. Um mecanismo pouco conhecido. Os pesquisadores colocaram, então, em contato, uma solução de lanreotídeo e outra de silicato. Observaram algo bastante estranho: as moléculas de lanreotídeo se juntaram formando um andaime para construir nanotubos de silício. Cada nanotubo se construiu, estágio por estágio, como um arranha-céu. Resultado desse processo de "andaime dinâmico": cada nanotubo, formado de duas paredes de silício concêntricas, situadas de um lado e de outro de uma parede de peptídeo, apresenta um diâmetro de 29 nanômetros e um comprimento de 2 a 3 micrômetros. Os tubos se juntam por feixes cujo comprimento atinge 3 centímetros! E o crescimento do edifício é virtualmente ilimitado. "Em particular, tudo se passa em condições de temperatura, de pressão e química moderadas, compatíveis com a vida. Quando a síntese de nanotubos de carbono exige que se faça o vácuo e se atinja temperaturas superiores a 1000 oC", sublinha Franck Artzner, que dirigiu os trabalhos. Os nanotubos apresentam, entre outras características, uma notável homogeneidade. Organização hierárquica de nanotubos observados por microscopia eletrônica (barra superior: 100 nm) e com luz polarizada (barra inferior: 1 mm). Créditos: Emilie Pouget (CNRS)
As aplicações desses "auto-ordenamentos biomiméticos" permitem augurar sínteses sem esforço? São promissoras, embora distantes. Os pesquisadores sonham com fabricar, por exemplo, facilmente, minúsculas redes de fibras ópticas. Os biólogos marinhos, particularmente, mostram-se bastante interessados: "Criamos um modelo simplificado que faz pensar que o andaime dinâmico é desenvolvido nos organismos marinhos", avança Franck Artzner, que começa a desenvolver uma colaboração com os laboratórios europeus de biologia marinha. CNRS (http://www2.cnrs.fr), consultado em 21 de outubro, 2007 (Tradução - MIA). Nota do Scientific Editor: o trabalho que deu origem a esta notícia, intitulado "Hierarchical architectures by synergy between dynamical template self-assembly and biomineralization", de autoria E. Pouget, E. Dujardin, A. Cavalier, A. Moreac, C. Valéry, V. Marchi-Artzner, T. Weiss, A. Renault, M. Paternostre e F. Artzner foi publicado na revista Nature Materials, volume 6, p. 434-439, em 2007. |
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