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Você, que ainda não tem qualquer informação sobre o que seja uma cirurgia endoscópica "transluminal", realizada por vias naturais, com certeza sabe o que é um endoscópio e para que serve. Posto isto, vamos por partes, informando que "transluminal", como você já deve ter inferido, é relativo a luz e, nesse contexto, "luz" significa um orifício ou interior oco de um órgão. Pois é, estamos agora no caminho certo para entender um grande passo dado na medicina: a realização de uma intervenção cirúrgica sem nenhuma cicatriz e, no caso, sem qualquer dor pós-operatória! Sonho de muitos, realizado pela primeira vez, mundialmente, com sucesso, por uma equipe francesa liderada pelo Professor Jacques Marescaux. A paciente, jovem de 30 anos, foi submetida à cirurgia para retirada da vesícula biliar, feita sem qualquer incisão na pele e passando por um orifício natural, nos hospitais universitários de Estrasburgo. Conforme Marescaux, "o sucesso da operação significa o coroamento de três anos de pesquisa, no quadro do Projeto Anubis". Para ver o interior do corpo e aceder à vesícula, os cirurgiões foram auxiliados por imagens transmitidas por um computador. Serviram-se de um endoscópio leve, equipado com uma câmera e munido de longos instrumentos (1,50m), que foi introduzido na paciente, por via vaginal, para a realização da colecistectomia (extirpação da vesícula). Para se ver livre das dores provocadas pelos cálculos biliares da vesícula, bem esclarecida sobre os limites da nova técnica, a paciente aceitou participar, tendo sido informada que, em caso de falha, seria operada pelo método convencional, informa Marescaux, presidente do IRCAD - Institut de Recherche contre les Cancers de l'Appareil Digestif. (Instituto de Pesquisa contra os Cânceres do Aparelho Digestivo). A intervenção foi realizada com sucesso e, no pós-operatório, a paciente não sentiu qualquer dor, mas, por prudência, ficou internada por 48h. Batizada como Operação Anubis, essa "première" cirúrgica foi apresentada em Las Vegas, no Congresso da Sociedade Americana de Cirurgia Endoscópica (SAGES). Cirurgiões Bernard Dallemagne, Silvana Peretta, Jacques Marescaux e o gastroenterologista Dimitri Coumaros que participaram da intervenção cirúrgica sem cicatriz. Créditos: AFP
Tratou-se de uma operação mista, transvaginal e transabdominal, com a ajuda de três trocartes laparoscópicos (hastes pontudas contidas em cânulas e com cabo que atravessam a parede ventral). Marescaux observa que, na experiência americana, instrumentos cirúrgicos como tesoura e pinça foram utilizados através do ventre e, não, por via vaginal, o que representa uma experiência ainda agressiva, com os riscos inerentes à travessia da parede abdominal (infecção, úlceras cutâneas, hérnia pós-operatória, etc.). Tais cirurgias são realizadas mediante o insuflamento com gás, necessário à distensão do ventre para realização da operação. No caso da paciente francesa, nessa etapa foi utilizada apenas uma pequena agulha de 2 mm, que foi passada através da parede abdominal. Outros orifícios como estômago, uretra, reto podem ser úteis na nova cirurgia transluminal. As vantagens potenciais desse tipo de operação são inúmeras, dentre elas estão a facilidade de acesso a determinados órgãos (principalmente em caso de obesidade), a ausência de traumatismos da parede abdominal, além daquela a qual poderíamos chamar de vantagem "cosmética", uma vez que a cirurgia não deixa cicatrizes. Conforme o Professor Marescaux, "o estômago e a vagina cicatrizam bem mais depressa que a pele". Um cirurgião em Nova Iorque (EUA) e uma paciente em Estrasburgo foram, em 2001, os "atores", cada qual em sua posição, da primeira operação de telecirurgia transatlântica. Literalmente a-pai-xo-na-do por seu métier, Marescaux diz ser "evidente" que, um dia, "mini-robôs teleguiados, sem fio, farão uma parte do trabalho". CiberPress (http://www.cyberpresse.ca), consultado em 08 de maio de 2007 (Tradução/Texto - MIA). |
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