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Nanotecnologia põe Unicamp a um passo do pneu ecológico.

Produzir pneus possíveis de serem reprocessados, evitando seu descarte e conseqüente prejuízo ambiental. Esta é a meta ambiciosa de uma pesquisa em desenvolvimento no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob a coordenação do professor Fernando Galembeck. Segundo ele, para ser utilizada a borracha passa por um processo químico chamado vulcanização, que liga as cadeias poliméricas de uma forma que as torna inseparáveis, o que impede o reaproveitamento do material. Estudando as partículas que compõem a borracha, à luz da nanotecnologia, o grupo combinou látex e argila e criou um novo material nanoestruturado: uma borracha modificada, com as mesmas características da natural, mas com possibilidade de reciclagem.

Galembeck explica que a borracha, como sai da seringueira, se assemelha a um emaranhado de fios, que, com paciência, podem ser separados. No processo de vulcanização é como se fossem dados nós nesses fios, formando uma espécie de rede de pesca. "Com o nanocompósito com látex e argila, cria-se uma situação diferente das cadeias de moléculas", diz Galembeck. "É como se os fios fossem presos, mas com pequenos pedaços de chicletes, que podem se soltar", completa. Esse processo permite prensagem, moldagem, enfim, o reaproveitamento dessa borracha, evitando o descarte na natureza.

De acordo com o pesquisador, o projeto é bem ambicioso. "Nosso objetivo é chegar à produção de borrachas reprocessáveis de alto desempenho, que poderão ser usadas para a fabricação de pneus e outros artefatos de borracha". Ele lembra, no entanto, que o uso de um material novo nunca começa com aplicação de alto risco, como no caso dos pneus, cujo desempenho representa a diferença entre vida e morte. "É preciso saber primeiro como o produto vai se comportar em longo prazo, em dois ou cinco anos".





Fernando Galembeck e Heloisa Schumacher com amostras de borracha obtida sem vulcanização.

Créditos: Correio Popular (Campinas)



Nesse sentido, a primeira investida comercial da nova borracha, já patenteada, será em calçados. Os testes já foram iniciados em parceria com o Instituto de Pesquisas de Calçados de Novo Hamburgo (RS) e uma empresa calçadista, e em breve o produto entra no mercado. "O material para solado atende todas as propriedades exigidas pela indústria de calçados. Passamos agora a desenvolver o processo de fabricação em alta escala", adianta Galembeck, citando que até agora a produção é em escala piloto - de alguns quilos, maior que a quantidade de laboratório, mas menor que a industrial.

Com relação à durabilidade, pelos ensaios de abrasão a borracha modificada supera a resistência mínima exigida pela indústria, diz Galembeck. Segundo ele, como o processo de fabricação é mais simples e usa menos substâncias químicas que a produção atual de borracha, a expectativa é que o novo produto também traga vantagens econômicas, além da ambiental.


Resistência é a meta

O nanocompósito já tem comprovadas suas propriedades mecânicas. "Realizamos vários testes nesse sentido", diz o pesquisador. Entre eles, a verificação da resistência mecânica (força necessária para arrebentar um pedaço de determinado tamanho); a possibilidade de alongamento; a elasticidade; a resistência ao atrito, entre outros. O objetivo é chegar aos tipos diferentes de borracha que são usados na fabricação dos pneus. Galembeck informa que um pneu é feito com vários compostos de borracha: um para a banda de rodagem, outro para as laterais, e um terceiro para as camadas internas. "Assim, não precisamos desenvolver uma, mas borrachas de diferentes características e combinar esses compostos para chegar aos pneus".


Patente dá exclusividade de produção à parceria

A borracha modificada teve sua patente depositada em 2003, o que garante que pelos próximos 15 anos apenas os parceiros do estudo podem fabricar borracha por este processo. Nesses 4 anos, os estudos continuaram para cumprir as etapas e chegar a um produto que atenda as necessidades do mercado. Para chegar à produção de pneus, o processo deve demandar ainda entre 4 e 5 anos, pelo menos, conforme o professor Fernando Galembeck. Em paralelo, a pesquisa vai investir no desenvolvimento de embalagens para alimentos com o novo material, biodegradável. Tendência similar - uso de nanocompósito de plástico, em embalagens para alimentos -, já vem ocorrendo no Japão e Coréia. O processo que levou à descoberta do novo produto foi apresentado por Galembeck em meados de julho, na 59a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) (DM/AAN).


Saiba Mais

Nanotecnologia

Associada a diversas áreas da ciência, a nanotecnologia tem como princípio básico a construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos, em escala extremamente pequena. Para se ter uma idéia, um metro tem mil milímetros. Um milésimo de milímetro é o mícron, e o milésimo do mícron é o nanômetro, unidade que equivale, também, à bilionésima parte de um metro. A nanotecnologia é o processo que trabalha com os materiais em escala nanométrica, e que tem gerado resultados surpreendentes na produção de semicondutores, nanocompósitos, biomateriais, chips, entre outros. "Os nanocompósitos são como o brinquedo Lego, mas com peças nanométricas", resume o professor do Instituto de Química, Fernando Galembeck.


Nota do Managing Editor: esta matéria foi veiculada primeiramente no Jornal Correio Popular de Campinas, SP, www.cpopular.com.br, na rubrica Cenário XXI, em 27 de julho de 2007.

Nota do Scientific Editor: participa também do desenvolvimento deste projeto, a Dra. Márcia M. Rippel.


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