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NOVIDADES
O tema parece de ficção científica: aconteceu durante os dias 30 e 31 de julho e 1 de agosto o primeiro encontro da Rede Iberoamericana de Biofabricação (Rede Biofab). A biofabricação, ou engenharia de tecidos, é um campo de pesquisa novo, voltado para área de medicina regenerativa, que visa criar materiais substitutivos biológicos - como tecidos, órgãos e ossos - para serem usados em procedimentos médicos, tornando possível a substituição de tecidos defeituosos ou faltantes. No evento, realizado no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), foram apresentados estudos sobre culturas de células in vitro, materiais biocompatíveis e biodegradáveis, como cerâmica, polímeros e metais, bem como softwares para reconstrução e manipulação de imagens médicas e prototipagem rápida, ou impressão tridimensional, aplicada na medicina. Caracterizando-se por sua multidisciplinaridade, a biofabricação é sustentada por três pilares: a cultura de células, a engenharia de materiais e a prototipagem rápida para medicina. A primeira, dentro das ciências biológicas, pesquisa métodos de reprodução de células fora de seres vivos (in vitro). Já a segunda, no caso da biofabricação, estuda e elege materiais biocompatíveis, que não oferecem risco à saúde do homem, e podem ser biodegradáveis, ou seja, que gradativamente são absorvidos pelo corpo. Por fim, a prototipagem rápida para medicina, que no seu ciclo completo, atua com softwares que convertem imagens de exames clínicos, como ressonância magnética e tomografias, em modelos virtuais 3D. Esses modelos podem ser impressos em máquinas de prototipagem rápida, que depositam milhares de camadas sucessivas em vários tipos de materiais de polímeros e formam um modelo real a partir do virtual. Jorge Vicente da Silva, pesquisador do CTI Renato Archer e coordenador da primeira reunião da Rede Biofab no Brasil, afirma que apesar da biofabricação ainda estar engatinhando, é plausível imaginar um desenvolvimento rápido para essa área. "Tem grupos que conhecem o comportamento da célula e sabem quais as condições necessárias para que elas se reproduzam; existem outros que pesquisam dentre milhares de materiais cerâmicos e polímeros, quais aqueles que são biocompatíveis. E para dar forma a tudo isto, aqui no CTI nós temos a prototipagem rápida aplicada na medicina e o software InVesalius, que constrói modelos virtuais e os produz. É possível pensar em juntar tudo isto, certo?", indaga. Financiada pelo Programa Iberoamericano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (Cyted, na sigla em espanhol), a Rede Biofab surgiu no final de 2007, fruto de um projeto idealizado por Paulo Bartolo, do CDRsp de Portugal. O objetivo desta primeira reunião foi o de equalizar os conhecimentos dos grupos de pesquisa dos 7 países da rede (Brasil, Argentina, Portugal, Espanha, México, Cuba e Venezuela), colocando todos eles a par dos resultados obtidos por cada um. Silva conta que este primeiro encontro foi bastante importante para que cada um dos membros da rede conhecesse detalhes das atividades realizadas pelos outros. As palestras abrangeram estudos de materiais, cultura de células e prototipagem rápida das diversas instituições da rede. Esquema das etapas relacionadas com a prototipagem rápida de materiais. Créditos: CTI Renato Archer
Jorge Silva exemplifica os porquês destas características. "Imagine que estivéssemos projetando um órgão, por exemplo, um fígado, ou um osso. Precisamos projetá-lo no computador e imprimir o modelo com a ajuda da prototipagem rápida. O scaffold é um molde, ou material de suporte sobre o qual as células devem se reproduzir, por isto ele tem uma série de requisitos. Sobre ele, as células irão ser depositadas, se reproduzir até ocupar toda a estrutura. Mas esta estrutura tem que ser biodegradável, ou seja, ela deve desaparecer para que este fígado, ou osso, exerça sua função. A imagem que usamos é a de uma impressora: para imprimir um órgão, precisamos de uma 'bioimpressora', que utiliza uma "biotinta", as células vivas, num "biopapel", os scaffolds", explica. A tecnologia ainda não atingiu esse estágio imaginado pelos pesquisadores da área. Atualmente, é possível cultivar células in vitro e até mesmo in vivo em materiais que atendem aos requisitos acima. Mas ainda não se consegue moldar um tecido complexo ou a função como a que um órgão possui. Entretanto, Silva se diz satisfeito com os resultados do encontro. "Este é apenas o início. É extremamente positivo promover o encontro e compartilhamento de pesquisas entre essas diferentes áreas do conhecimento. Só assim a biofabricação avançará e quem sabe se tornará realidade", sentencia. Nota do Managing Editor: este texto, de autoria de Luciano Valente, foi primeiramente veiculado na Revista Eletrônica ComCiência (http://www.comciencia.br/comciencia/), em 20 de agosto de 2008. |
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