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Fazer uma radiografia de raios X desenrolando uma fita adesiva: eis o que beira a uma dessas afirmações feitas, às vezes, por pesquisadores que se dizem independentes. Todavia, a proeza foi realizada por cientistas californianos, os primeiros a ficar surpresos com esse fenômeno profundamente misterioso. A triboluminescência é um fenômeno bem conhecido do qual cada um pode fazer uma experiência esfregando dois pedaços de açúcar no escuro. É visível, então, uma rápida emissão de luz. Não obstante, a descoberta feita por Seth Putterman, Carlos G. Câmara, Juan V. Escobar e Jonathan R. Hird, da Universidade da Califórnia (UCLA) parece, à primeira vista, pouco menos digna de crédito do que aquela da fusão a frio. Trata-se, na verdade, da geração de raios X pelo simples descolamento de uma fita adesiva! Fotografia realizada em 30 segundos de exposição mostra a luz visível obtida ao se desenrolar uma fita Scotch. Créditos: Carlos Camara e Juan Escobar.
Esse ceticismo não surpreende porque, nos aparelhos de radiologia clássicos, é preciso bombardear os átomos com feixes de elétrons muitíssimo energéticos para gerar um espectro contínuo de raios X, por "frenagem" de elétrons pelos núcleos de átomos pesados, como os da platina. Em princípio, o descolamento de uma fita adesiva não deveria fazer intervir a não ser fenômenos na escala das moléculas e das camadas eletrônicas externas dos átomos, sem que as camadas mais internas fossem afetadas. Nessas condições, se esperaria, pois, que a radiação emitida se desse em comprimentos de onda longos, ou melhor, na região do visível. Em a, a geração de uma luz por triboluminescência (vermelha). Em b, uma foto do dispositivo desenrolando sob vácuo a fita adesiva e, em c, seu esquema. Créditos: Nature.
Conseqüências potencialmente fenomenais Os pesquisadores não compreendem o que se passa, se isso não é senão uma separação de cargas, análoga àquela que se produz nas nuvens, devendo provavelmente intervir quando se descola o adesivo. Produzir-se-iam, então, espécies de mini-relâmpagos gerando "rajadas" de raios X. A imagem do osso de um dedo é visível graças ao dispositivo inventado pelos pesquisadores para emitir raios-X. Créditos: Carlos G. Camara, Juan V. Escobar, Jonathan R. Hird e Seth J. Putterman.
Entretanto, para fazer imagiamento médico, é preciso descolar a fita sob vácuo, sem o que o fenômeno não se reproduz. Trata-se de um meio extraordinariamente prático e pouco custoso de gerar raios X. Os pesquisadores atualmente se ocupam com descobrir todas as aplicações possíveis para esse estranho fenômeno, desafiando os cálculos teóricos. Como se está em presença de uma concentração espetacular de energia num pequeno volume, Putterman prossegue pesquisando. Ele estima que o dia em que forem encontradas as equações que descrevam esse fenômeno, as conseqüências poderão ser enormes, tão surpreendentes quanto a obtenção da fusão a frio à baixa energia, que continua sendo ainda uma das interrogações da Física. Futura-Sciences, 28 outubro, 2008 (Tradução- MIA). Nota do Scientific Editor: o trabalho que deu origem a esta notícia: "Correlation between nanosecond X-ray flashes and stick-slip friction in peeling tape" - de autoria de C. G. Camara, J. V. Escobar, J. R. Hird e S. J. Putterman - foi publicado na revista Nature, volume 455 (23 outubro) págs. 1089-1092 (2008). |
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