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NOVIDADES
A bactéria Listeria monocitogenes, na origem da crise da listeriose, é difícil de controlar. Os passeios desse patógeno em uma peça de presunto, em uma fatia de bacon ou em um pedaço de queijo poderiam, de fato, se tornar rapidamente uma má lembrança... com a chegada anunciada de um novo "serviço de polícia" que desembarca de um outro universo: os nanosensores. Evoluindo no mundo do infinitamente pequeno, fragmentos de matéria anunciam há alguns anos uma pequena revolução nos produtos de consumo em geral e o setor da alimentação e da salubridade dos alimentos em particular. Extraídos do ouro, da prata, do cobalto ou ainda da platina, essas nanopartículas, como são chamadas, poderiam, por exemplo, encurralar uma bactéria, não importa em qual alimento - suco de laranja, embalagem com verduras, iogurte, prato preparado de carne -, mas também se tornar luminescentes no caso da presença do intruso, certificando assim a inocuidade, ou não, de um alimento. Science-fiction? Não completamente. Seguramente, esses elementos, invisíveis a olho nu - uma vez que medem um bilionésimo do metro -, ainda não entraram em uma mercearia perto de nossa casa. Mas sobre o balcão de um laboratório, não muito longe de nossos pratos, preparam calmamente o começo de seu reinado. Vários alimentos já contêm nanotecnologia. Créditos: Agência Reuters.
O interesse da indústria agroalimentar pelo nanomundo não é surpreendente, em função da quantidade de novos produtos que ele poderá inspirar. Não sem motivo! Na escala nanométrica, esses fragmentos de matéria não respondem mais às regras tradicionais da física. São regidos pela física dita quântica, podendo então adquirir propriedades extraordinárias, se transformando em sentinelas, se mostrando mais resistentes ao calor, melhorando sua condutividade elétrica, seu peso, sua elasticidade, sua capacidade de reter água... E a lista está longe de ser exaustiva. O retrato revela igualmente a presença no mercado de cerca de vinte produtos da área da alimentação, como o óleo de canola, vendido em Israel, que se torna solúvel quando em contato com produtos químicos gordurosos, o "nanotea", na China, que intensifica o gosto da planta ou ainda o refrigerador sul-coreano, de paredes "nanotratadas", para matar as bactérias, e aquela garrafa de cerveja americana cuja capacidade de conservação foi melhorada por uma nanosubstância, batizada Aegis. Entre outros. E isso não é senão um início. Nanotecnologias e alimentação estariam destinadas a se dar bem, já anunciam os promotores dessas partículas microscópicas que não hesitam em evocar o aparecimento no mercado de barras de chocolate que não se fundem com o calor, salgadinhos e pratos menos gordurosos, mas que continuam gostosos, embalagens antimicrobianas que aumentam em vários meses o tempo de vida de um produto, congelados capazes de sobreviver ao ar livre... tudo isso graças à nanociência. "As perspectivas são muito interessantes, reconhece M. Crawhall. Contudo, no momento, o desenvolvimento das nanopartículas é feito lentamente, com a maior prudência. E não se pode senão se regozijar." Uma dúvida: mesmo que a maioria das nanopartículas pareça não apresentar perigo, alguns desses entes nanométricos têm, de fato, capacidade de atravessar as barreiras de proteção dos organismos vivos. Essa característica pode ser um trunfo no momento em que chega o tempo de desenvolver novos medicamentos que podem agir diretamente numa célula humana. Mas pode, também, em outras aplicações, levar a riscos não planificados no código genético (DNA) de um consumidor, assim como de um animal ou de uma planta que vivem ao seu redor. "É preciso estar atento", diz Eric Darier, do Greenpeace, que estima que os nanocomponentes podem ter hoje um "potencial de risco 10 vezes maior que os organismos geneticamente modificados", uma vez que se propagam por todas as esferas de consumo. Há vários meses o grupo busca fazer das nanotecnologias seu novo "cavalo de batalha". "Centenas de produtos já começam a chegar ao mercado, e existe ainda muita coisa desconhecida, sobretudo um grande vazio em termos de marcos regulatórios para enquadrar o seu desenvolvimento." O Conselho das Academias Canadenses, que desde 2006 é encarregado de confrontar ciência e interesse público, parece, em parte, de acordo. Em um relatório coordenado pelo Ministério da Saúde do Canadá, em julho passado, um grupo de peritos reconhece, de fato, que o governo federal "dispõe de muito poucas informações para poder avaliar globalmente os riscos que apresenta, para a saúde humana e para o ambiente, a introdução de nanomateriais e nanoprodutos na sociedade." Mas acrescenta também, na mesma ocasião, que a "estratégia de gestão de riscos" vigente atualmente era suficiente para fazer face a uma eventual ameaça nanométrica. Todavia, essa estratégia o Canadá acaba de melhorar em fevereiro, tornando-se, assim, o primeiro país do mundo a exigir das empresas que informem ao governo sobre a utilização de nanomateriais nos produtos de consumo. Uma iniciativa, aliás, saudada pelo Woodrow Wilson International Center of Scholars e seu programa de vigilância do infinitamente pequeno que vê nisso "um passo importante" para estabelecer um quadro formal em torno das nanotecnologias, com base em "informações qualificadas". O ministério da Indústria do Canadá concedeu uma importante subvenção ao Conselho dos Consumidores do Canadá (CCC), a fim de permitir ao mesmo avaliar o impacto dessa revolução tecnológica sobre o ambiente e a saúde dos canadenses. Um relatório deverá ser produzido durante o ano. Já o Ministério da Saúde mantém o "olho aberto" sobre as nanotecnologias e estima que, no futuro, "uma nova abordagem (regulatória) poderá ser necessária, a fim de acompanhar o ritmo de desenvolvimento desse setor indicou Christelle Legaut, porta-voz do Ministério da Saúde canadense, ao LeDevoir. Tudo isso, aliás, agradou o presidente da Nano-Quebec, M. Crawhall. "Com as nanotecnologias, há um trabalho importante e transparente a ser feito", disse ele. "Não se pode esconder coisas do público, esta não é uma boa idéia." E isso, mesmo quando essas coisas têm um tamanho mais de 100.000 vezes menor que aquele de um fio de cabelo. LeDevoir, 16 de março, 2009 (Tradução - MIA). |
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