Laboratório de Química do Estado Sólido
 LQES NEWS  portfólio  em pauta | pontos de vista | vivência lqes | lqes cultural | lqes responde 
 o laboratório | projetos e pesquisa | bibliotecas lqes | publicações e teses | serviços técno-científicos | alunos e alumni 

LQES
lqes news
novidades de C&T&I e do LQES

2021

2020

2019

2018

2017

2016

2015

2014

2013

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

2004

2003

2002

2001

LQES News anteriores

em foco

hot temas

 
NOVIDADES

A estória se repete : de veneno a medicamento !

Modificando ligeiramente um dos componentes do potente veneno "inventado" pelos cones, moluscos gastrópodes marinhos, pesquisadores obtiveram um potente antidor. Tão eficaz quanto a morfina, de menor dependência, a a-conotoxina vai, seguramente, se fazer conhecer.

Os cones e suas belíssimas conchas atraem o mergulhador e o colecionador de conchas, mas os conhecedores desconfiam desse gastrópode, de veneno perigoso. Os cientistas estão mesmo interessados no veneno, contido em uma espécie de dente que serve como arpão para o animal caçar suas vítimas e elaborar conotoxinas.

De fato, as a-conotoxinas são conhecidas por ter uma ação antidor, comparável àquela da morfina, com a vantagem de não provocarem dependência. Elas agem como inibidores dos receptores nicotínicos da acetilcolina em nível dos nervos e dos músculos.

Os médicos, há muito tempo, buscam utilizar as a-conotoxinas como tratamento analgésico, contudo, no momento, sua utilização é bastante modesta. Sua administração é complicada, uma vez que a molécula deve ser diretamente introduzida na medula espinhal dos pacientes.

Os pesquisadores do Institute for Molecular Bioscience, da Universidade de Queensland, Austrália, publicaram na Angewandte Chemie International Edition resultados que prometem à a-conotoxina um bom futuro. Conseguiram mostrar a eficácia de um peptídeo, derivado da a-conotoxina, utilizável por via oral. A idéia dos pesquisadores foi modificar a estrutura da molécula para torná-la, de algum modo, mais sólida.





a-conotoxina "circularizada" graças à adição de alguns aminoácidos. Em amarelo são representadas as pontes dissulfeto no interior da proteína.

Créditos: Angewandte Chemie International Edition.


Uma possível arma contra as dores neuropáticas

A estratégia consistiu na "circularização" do peptídeo, juntando as duas extremidades da proteína. Normalmente, os peptídeos não são (ou são pouco) utilizados como medicamentos por via oral, porque são muito instáveis e degradáveis no sistema digestivo, antes de terem feito seu papel. O fato da proteína ser circularizada, a torna resistente às exopeptidases (enzimas que atacam nas extremidades proteicas), mas também às endopeptidases (enzimas que clivam as ligações peptídicas internas) graças ao reforço de ligações hidrogênio internas.

As duas extremidades de uma proteína estão, frequentemente, localizadas muito próximas uma da outra: o acréscimo de alguns aminoácidos é suficiente, portanto, para juntar os dois extremos. Aqui, a ligação entre as duas extremidades é composta de apenas seis aminoácidos: 2 alaninas e 4 glicinas. Eles foram escolhidos devido às suas baixas reatividades. Além do que, seu baixo custo e facilidade de identificação por ressonância magnética nuclear (RMN), constituem as outras vantagens.

O peptídeo assim circularizado foi testado em ratos, nos quais as moléculas foram administradas oralmente. A eficácia antidor da a-conotoxina circularizada é impressionante: é tão eficaz quanto o medicamento habitualmente ministrado nos casos de dor fortíssima (a gabapentina), sendo suficiente administrar apenas um centésimo da dose habitual!




A a-conotoxina: uma esperança para as dores neuropáticas.

Créditos: Futura Sciences.

Seu pequeno nome, a a-conotoxina cVcl.l, deve ser guardado. Este peptídeo carrega consigo a esperança de pacientes atingidos por dores neuropáticas - dores devidas a lesões do sistema nervoso -, permanentes e difíceis de suportar. No momento, tais pacientes estão privados de tratamentos realmente eficazes.

Futura Sciences (Tradução - MIA).


Nota do Scientific Editor: o trabalho que deu origem a esta notícia, de título: "The Engineering of an Orally Active Conotoxin for the Treatment of Neuropathic Pain", de autoria de R. J. Clark, J. Jensen, S. T. Nevin, B. P. Callaghan, D. J. Adams e D. J. Craik foi publicado on-line no periódico Angewandte Chemie International Edition, 2010, DOI: 10.1002/anie.201000620.


<< voltar para novidades

 © 2001-2020 LQES - lqes@iqm.unicamp.br sobre o lqes | políticas | link o lqes | divulgação | fale conosco