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Peixes semeiam a Amazônia.

A disseminação de sementes pelos animais não é uma descoberta, mas sabe-se que os peixes da Amazônia são campeões nisto. Eles podem levar as sementes consigo a distâncias maiores que 5 quilômetros da árvore de origem, deixando aos vegetais a possibilidade de "colonizar" rapidamente novos terrenos.

A dispersão das sementes é uma etapa crucial para a perenização das espécies vegetais, uma vez que determina a distribuição geográfica definitiva das novas gerações. Infelizmente, os vegetais, sendo imóveis e fixos no solo, não podem contar consigo mesmos para colonizar novos horizontes: eles aproveitam, portanto, da mobilidade de outras espécies para se difundir sem esforço.

Os animais frugívoros são assim conhecidos por desempenharem um papel ativo nessa atividade, graças a seu consumo de frutas, logo, de sementes, que transitam por seu sistema digestivo e são, a seguir, deixadas um pouco mais longe, por defecção. Cúmulo da coevolução, certas sementes não podem germinar a não ser que sua casca seja amolecida por enzimas digestivas de animais!


Os peixes praticam a endozoocoria...

Mas, enquanto o papel das espécies terrestres na endozoocoria (nome do mecanismo que se dá quando a dispersão é feita através da ingestão e posterior liberação, pelas fezes, das sementes dos frutos comidos pelos animais) tem sido bem-estudado - como nos pássaros, morcegos ou macacos -, não se sabe muito sobre o papel de outros vertebrados, como os peixes, que raramente interessam os biólogos. Este vácuo foi preenchido, em 2009, por uma equipe de biólogos americanos que tinha estudado os peixes gigantes da Amazônia: Colossoma macropomum ou Piaractus brachypomus (que podem atingir 1 metro de comprimento), em seu ambiente natural ou dentro da reserva nacional de Pacaya-Samiria, no Peru.



O Pantanal é uma das regiões amazônicas afetadas pelas inundações anuais.

Créditos: Claudyo Casares.


Eles perceberam a presença de milhares de sementes provindas de diversas espécies arborícolas (de árvores) no estômago destes peixes. Efetivamente, numerosos frutos caem diretamente na água, na estação das chuvas, quando a floresta amazônica é inundada. Os peixes frugívoros, nadando ao redor dos pés das árvores podem, pois, facilmente se aproveitar deles (os frutos).


Um modelo baseado em dois parâmetros biológicos

Se eles pudessem mostrar que as sementes não perdem sua capacidade de germinar após sua passagem no trato gastrointestinal, uma questão ainda ficaria sem resposta. A distância percorrida pelas sementes foi, então, abordada em uma nova publicação, na revista Proceedings of Royal Society B.

Durante três anos, os trajetos dos Colossoma selvagens foram gravados e a duração de retenção das sementes no sistema digestivo deste mesmo peixe em cativeiro foi finamente analisada. O modelo de predição, levando em conta estes dois parâmetros, indica pelo cálculo que as sementes podem ser disseminadas desse modo à distâncias muito grandes!


Até mais de 5 quilômetros!

Assim, a média seria de 337 a 552 metros, mas o modelo prevê que cerca de 5% de sementes poderiam se propagar a mais de 1.700, e mesmo de 2.100 metros, do local onde o fruto foi encontrado, portando, da árvore de onde as sementes provêm. A viagem poderia mesmo atingir um máximo de 5.495 metros, nas melhores condições. De geração em geração, as plantas podem, assim, rapidamente se difundir, se disseminar!




O peixe gigante Colossoma macropomum pode transportar as sementes a até 5 quilômetros de distância, relativamente a seu ponto de origem.

Créditos: Tino Strauss, Wikimedia, CC by-sa 3.0.


Os números são impressionantes, no sentido de que eles ultrapassam, e de longe, a maioria das distâncias alcançadas por outros animais frugívoros. Infelizmente, se o grande tamanho, e, portanto, a idade avançada é um dos fatores necessários a uma boa disseminação, a pesca desordenada, que desrespeita o ambiente, leva consigo a uma diminuição progressiva do tamanho médio dos peixes, logo, diminui a distância percorrida pelas sementes.

Futura Sciences (Tradução - MIA).


Nota do Scientific Editor: o artigo que deu origem a esta notícia: "Extremely long-distance seed dispersal by an overfished Amazonian frugivore", de autoria de Jill T. Anderson, Tim Nuttle, Joe S. Saldaña Rojas, Thomas H. Pendergast e Alexander S. Flecker, foi publicado on-line no periódico Proceedings of Royal Society B, março, 2011, DOI: 10.1098/rspb.2011.0155.


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