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NOVIDADES
Há quatro anos, Oscar Pistorius viu recusado seu direito de participar da competição nas provas de velocidade dos Jogos Olímpicos de 2008. A decisão foi posteriormente corrigida, tendo sido ele autorizado a participar das qualificações. Não obstante não ter disputado as qualificações, participou, finalmente, dos Jogos Paraolímpicos, onde recebeu três medalhas de ouro. A história de Pistorius ganhou manchetes, mas "o caso Pistorius" é um caso isolado, melhor dizendo, é a ponta do iceberg? É preciso que se considere todos os novos materiais e tecnologias susceptíveis de "ajudar" os atletas a melhorar seus desempenhos. Afinal, de uma maneira ou de outra, a tecnologia não faz parte de qualquer esporte? Em tal circunstância, onde se encontra o limite entre o que é "justo" e o que é "injusto"? Oscar Pistorius Créditos: Wikipedia.
As nanotecnologias abrem, doravante, caminho à toda uma série de novas possibilidades, ainda mais sofisticadas: têxteis com sensores integrados; calçados capazes de seguir e controlar o desempenho de um atleta; adesivos (patchs) cutâneos que monitoram os parâmetros fisiológicos. Mesmo que a maioria destes equipamentos estejam ainda em estágio de elaboração, é completamente possível que se tornem realidade em um futuro próximo. E, nesse dia então, seremos obrigados a lidar com novas questões em matéria de equidade, por exemplo: se um atleta usa um adesivo cutâneo que muda de cor quando seu nível de desidratação se torna crítico, estaria ele se beneficiando de uma vantagem injusta? Jogos Olímpicos Créditos: Nanochannels.
Frequentemente se diz ser a nanotecnologia uma tecnologia capacitadora. E se ela permitisse transformar os Jogos Olímpicos em um mundo no qual os atletas pudessem vencer em função de sensores integrados às suas roupas, do tipo de camisa, do maiô de natação, de calças e de sapatos que eles usam? No fim das contas, a vitória significaria a quantidade de tecnologia que um atleta é capaz de usar. Por ocasião dos Jogos Olímpicos, os homens transpõem seus próprios limites para ver quem pode saltar mais alto, correr mais rápido e se concentrar melhor. Uma das razões disto é que o público se junta para assistir performances excepcionais, e ver batidos recordes mundiais: é bem isto que torna o esporte algo tão popular. Não é portanto surpreendente que, face à esta competição, nós nos coloquemos questões de ordem social e ética, tentando delimitar a fronteira (já frágil) entre o que é e o que não é aceitável no esporte, e definir o que conduz à "melhores performances" e o que leva a uma "melhoria humana". Sabemos que os nanomateriais estão em estudo na área médica para restabelecer funções perdidas e danificadas, tais como os nanomateriais para a regeneração óssea ou a regeneração neuronal. E se estes tratamentos forem utilizados para melhorar o corpo humano? Por exemplo, cientistas estão desenvolvendo dispositivos cerebrais miniaturizados para controlar os tremores de pacientes atingidos por infecções neurológicas. E se este tipo de dispositivo fosse usado para reforçar a concentração de atletas que praticam tiro? Pode-se, igualmente, imaginar o seguinte cenário: um atleta sofre um acidente que reduz em migalhas um de seus ossos e, então, segue um tratamento nos ossos que o torna "mais performante que antes", recebendo, por exemplo, um substituto ósseo mais resistente que um osso normal. Dever-se-ia impedi-lo de participar dos Jogos Olímpicos? Deveria ele, então, participar dos Jogos Paraolímpicos? Os Jogos Olímpicos poderiam se transformar em uma busca pela tecnologia mais performante e tratamentos médicos mais inovadores, destinados a permitir aos homens ultrapassar seus limites. De certo modo, isso já vem acontecendo. A nanotecnologia poderia permitir passar a um estágio superior, e tornar muito difícil a distinção entre uma "performance natural" e um "desempenho melhorado". Nanochannels (Tradução - MIA). |
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