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Cientistas sintetizam primeiro material semicondutor por evolução genética.

Em um futuro não muito distante, cientistas podem ser capazes de usar DNA para o crescimento de materiais especializados, graças ao conceito de evolução dirigida. Cientistas da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (EUA), usaram, pela primeira vez, engenharia genética e evolução molecular para desenvolver a síntese enzimática de um semicondutor.

"No campo das tecnologias humanas, esta pode ser considerada uma técnica nova, mas é um enfoque bem antigo no reino da natureza", disse Lukmaan Bawazer, primeiro autor do artigo, "Evolutionary selection of enzymatically synthesized semiconductors from biomimetic mineralization vesicles", publicado no Proceedings da Academia Nacional de Ciências (PNAS). Bawazer, então estudante de doutorado, escreveu o artigo com coautores do Programa de Pós-Graduação Interdepartamental em Engenharia e Ciência Biomolecular, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara; Instituto de Biotecnologias Colaborativas; Instituto de Nanossistemas da Califórnia e Laboratório de Pesquisas de Materiais; Departamento de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento. A pesquisa foi supervisionada por Daniel Morse, professor emérito de bioquímica de moléculas genéticas.



Visão geral da plataforma de mineralização biomimética usada no estudo. (A) Imagens de microscopia eletrônica de varredura de espículas de biossílica (esquerda) e filamentos de silicateína polimerizados (direita), isolados da esponja marinha T. aurantia. [Reproduzido com permissão (© Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos)]. (B) Imagens de microscopia eletrônica de transmissão, de microestruturas de silicato formada [formadas] a partir de vesículas biomiméticas, revelando uma composição de grãos de silicato intacta (esquerda) e microesferas de poliestireno (PS), liberadas pela fratura da casca de silicato (direita). (C) Microesferas de poliestireno recobertas com silicateína" [por compartimentalização in vitro] reagem com pequenos precursores que contêm metal em emulsões de água-em-óleo, rendendo compostos minerais tais como os mostrados em B, que são então isolados por tamanho. (D) Sumário esquemático do acervo de genes usados em experimentos de seleção evolutiva. Genes recombinantes para duas isoformas naturais de silicateína foram digeridos e reagrupados por embaralhamento] de DNA recombinante, para produzir um acervo quimérico de diversas silicateínas, utilizadas então para identificar variantes mineralizantes, não descritas previemente através do processo apresentado em C. (© PNAS).


Usando silicateínas, proteínas responsáveis pela formação dos esqueletos de sílica em esponjas marinhas, os pesquisadores criaram uma nova arquitetura mineral, dirigindo a evolução dessas enzimas. Silicateínas - codificadas geneticamente -, servem como modelos para os esqueletos de sílica e controlam sua mineralização, participando assim em processos similares pelos quais ossos de animais e humanos são formados. O silício, um dos componentes da SiO2, é o principal material encontrado em semicondutores manufaturados comercialmente.

Nesse estudo, microesferas de poliestireno, revestidas com silicateínas específicas, foram postas numa reação de mineralização, tendo as esferas sido encubadas numa emulsão de água e óleo, a qual continha precursores químicos para mineralização: sílica ou titânio dissolvidos na fase óleo ou água da emulsão. À medida que as silicateínas reagiam com os metais dissolvidos, estas precipitaram, integrando os metais na estrutura resultante e formando nanopartículas de dióxido de silício ou dióxido de titânio.

Com a criação de um "pool genético de silicateína", através do que Bawazer chamou eufemisticamente de "sexo molecular" - combinação e recombinação de vários materiais genéticos de silicateína -, os cientistas foram capazes de criar uma população de silicateínas e, a seguir, selecionar as que possuíam as propriedades desejadas.

"Essa população genética foi exposta a dois ambientes de pressão, que deram forma aos materiais selecionados: as silicateínas, necessárias para produzir (na verdade, mineralizar) materiais diretamente na superfície das esferas, ou seja as estruturas minerais necessárias, passíveis de rompimento físico, para a exposição dos genes codificantes", disse Bawazer. As esferas que exibiram mineralização foram selecionadas das que não sofreram, depois fraturadas para liberar a informação genética que continham, que poderiam ser estudadas ou que poderiam sofrer novas evoluções.

O processo levou a formas de silicateínas não disponíveis na natureza, que se comportavam de maneira diferenciada na formação de estruturas minerais. Por exemplo, algumas silicateínas se auto-ordenaram em camadas e dispersaram as nanopartículas naturais, se opondo ao comportamento típico de aglomeração observado nas silicateínas naturais. Em alguns casos, materiais cristalinos também foram formados, demonstrando a habilidade de formar cristais, adquirida através de evolução direcionada, disse Bawazer.

Pelo fato de silicateínas serem enzimas, disse Bawazer, com cadeias de aminoácidos relativamente longas e que podem se moldar em formas precisas, existe o potencial para uma maior funcionalidade, diferentemente daquela que seria possível pelo uso de biopolímeros mais curtos ou abordagens sintéticas mais tradicionais. Melhor ainda, o processo pode potencialmente trabalhar com uma variedade de metais, podendo fazer evoluir diferentes tipos de materiais. Mudando os ambientes de laboratório controlados, nos quais a evolução direcionada ocorre, será possível fazer evoluir materiais com capacidades específicas, como uma célula solar evoluída de alto desempenho, por exemplo. "Aqui demonstramos a evolução da estrutura do material. Eu gostaria de dar um passo adiante e fazer evoluir o desempenho desses materiais em um dispositivo funcional", comentou Bawazer.

Universidade da Califórnia - Santa Barbara (Tradução - AGS).


Nota do Scientific Editor - O trabalho "Evolutionary selection of enzymatically synthesized semiconductors from biomimetic mineralization vesicles", que deu origem a esta notícia, é de autoria de Lukmaan A. Bawazera, Michi Izumib, Dmitriy Kolodinc, James R. Neilsona, Birgit Schwenzerb e Daniel E. Morse", tendo sido publicado na revista PNAS, volume 109, E1705-E1714, (2012). Pode ser acessado no link dx.doi.org/10.1073/pnas.1116958109.


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