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O Brasil na inovação global.

Foi publicada, recentemente, a 6ª edição do anuário do índice da inovação global, elaborado pela Escola de Negócios para o Mundo (Insead França), Universidade de Cornell (EUA) e Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Wipo), tendo como base 84 indicadores que foram avaliados no universo de 142 economias mundiais. A Suíça, novamente, se consagra como o País de maior inovação mundial e europeia, seguida pela Suécia e pelo Reino Unido.


O Brasil não vai bem; ocupa a 64ª posição, tendo caído nas duas últimas edições da 47ª em 2011 para a 58ª em 2012, e estando abaixo dos Brics, com exceção da Índia (66ª), e dos países sul-americanos: Chile (46ª), Uruguai (52ª), Argentina (56ª) e Colômbia (60ª). No ranking apenas dos países latino-americanos e Caribe, o Brasil ocupa a 8ª posição, atrás de Costa Rica (1ª), Chile, Barbados, Uruguai, Argentina, Colômbia e México (7ª).

Os processos de inovação são consequências de ações integradas entre Governo, academia, indústria e mercado, principais agentes na elaboração de políticas para o desenvolvimento científico, tecnológico, industrial e dos serviços. Essa integração é marginalmente praticada no Brasil. A inovação tecnológica exige amadurecimento da ciência e da tecnologia com mecanismos ágeis de transferência do conhecimento ao setor produtivo de bens e serviços. É preciso um parque industrial forte e capaz de absorver as novas tecnologias, transformando-as em produtos com alto valor agregado. A pesquisa científica e tecnológica é fator imprescindível nos processos de inovação incremental ou radical e isso demanda recursos humanos altamente qualificados nas mais variadas áreas do conhecimento e que saibam trabalhar de forma cooperativa com os demais agentes.



Créditos: Protec.


A inovação incremental busca, essencialmente, agregar valor aos produtos. Quando comparamos o peso por valor agregado de alguns bens, vemos que o conteúdo científico e tecnológico é o diferencial. O peso de um tablete de minério de ferro é aproximadamente o peso de um celular iPhone 5, mas uma tonelada de minério de ferro custa em torno de US$ 140 no mercado internacional, enquanto uma tonelada de iPhone 5 custa US$ 1,7 milhão. Um grão de soja tem peso equivalente a um comprimido de viagra, mas, no mercado internacional, uma tonelada de soja é comercializada por US$ 550, enquanto apenas um quilo de viagra de 100mg custa US$ 1.367. A diferença é que os produtos primários são commodities com baixo valor agregado, enquanto os outros são inovações com muita ciência e tecnologia agregadas ao bem.

A geração de conhecimentos, no estágio mais avançado, passa por boa formação educacional, desde o ensino básico até a pós-graduação. A inovação tecnológica depende fortemente da pesquisa e da formação de recursos humanos, especialmente com doutorado. O Brasil, em sua melhor fase, deverá formar, em 2013, um pouco menos de 10 doutores por 100 mil habitantes, enquanto economias com maior desenvolvimento científico e tecnológico formam mais de 200 doutores na faixa etária de 25 a 29 anos, sendo acima de 500 em países como Suíça, Suécia e Alemanha. Levando-se em consideração que a média atual de formação de doutores no Brasil cresce 11% ao ano, sem considerarmos o crescimento populacional, o Brasil levará aproximadamente 28 anos para atingir a formação de 200 doutores por 100 mil habitantes. Esses números, por si só, indicam o quanto ainda temos que caminhar para ampliarmos a nossa capacidade de gerar idéias e inovações.

No Brasil, a pesquisa científica e tecnológica e a formação de doutores estão restritas a universidades e centros de pesquisa públicos, tendo baixa participação de doutores ou especialistas que atuam nos setores industriais ou de serviços. Um novo mecanismo precisa ser adotado para promover uma maior e melhor integração e cooperação entre a academia e o setor produtivo. Mas apenas isso não basta, é preciso também ampliar os investimentos na educação e, em particular, na ciência e tecnologia do País. Enquanto a média de investimentos em C&T das maiores economias do conhecimento é da ordem de 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil investe pouco acima de 1,2% do PIB, muito abaixo de economias como China (1,7%), Estados Unidos (2,7%), Japão (3,4%), Finlândia (3,8%) e Israel (4,4%).

Uma nova política precisa ser discutida e implementada para que possamos alcançar um patamar de integração capaz de permitir o desenvolvimento de processos de inovação sustentável, levando o País a se tornar uma economia com base em conhecimento, exportando tecnologias e não apenas commodities com baixo valor agregado.

Waldir L. Roque é professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Matemática Aplicada, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Nota do Managing Editor: Esta matéria foi primeiramente veiculada no jornal Correio Braziliense, de 27 de agosto de 2013 em http://www.correiobraziliense.com.br/.


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