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NOVIDADES
A comunidade científica reforçou o repúdio contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com a pasta das Comunicações, na audiência pública realizada nesta terça-feira, 24, na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT), do Senado Federal. Os senadores também se manifestaram, de forma unânime, contra a fusão e chamaram a medida de “insana” e “absurda”. O presidente da comissão, o senador Lasier Martins (PDT-RS), afirmou que encaminhará um ofício ao presidente interino, Michel Temer, pedindo o restabelecimento da autonomia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Temer alterou a estrutura administrativa do governo pela medida provisória (MP 726/2016), publicada no dia 12 deste mês, no mesmo dia de sua posse, na tentativa de reduzir gastos para equilibrar as contas públicas que registra déficit fiscal de R$ 170 bilhões. O consenso, porém, é de que a economia de recursos pela fusão surtiria baixo impacto nas contas públicas, porém, provocaria retrocessos ao desenvolvimento científico e tecnológico do País. Martins ainda não estipulou a data para o envio do ofício ao Palácio do Planalto, mas disse que será encaminhado “independentemente” do requerimento a ser entregue ao ministro Gilberto Kassab, titular da pasta unificada, para também falar sobre a fusão em audiência pública, nos próximos dias. Comunidade Científica contra a fusão dos ministérios. Créditos: Senado “Essa será uma das providências dessa Comissão, diante da unanimidade dos pedidos recebidos em defesa da autonomia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação”, disse Martins, que mediou a audiência pública. A comissão foi tomada por pesquisadores, cientistas e acadêmicos e marcada pela leitura de vários manifestos de sociedades científicas de várias áreas do conhecimento, como a Sociedade Brasileira de Melhoramento de Plantas (SBMP), a Sociedade Brasileira de Física (SBF), além da Fiocruz, endossando o manifesto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC) contra a fusão também presentes à sessão. A SBPC representa 130 sociedades científicas. Nader disse que, mesmo com poucos recursos, além de gerir a ciência, o órgão possui uma estrutura complexa, com muitos institutos vinculados que fazem a ponte com a área de inovação, como Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Ela mencionou o impacto positivo do MCTI na produção científica. Segundo disse, hoje o Brasil responde por 2,7% dos periódicos mundiais, ante 0,35% em 1985, ano de criação do Ministério. “Impacto desse Ministério é evidente a cada cinco anos”, observa. “No número de citações, a ciência brasileira aumentou e melhorou muito. Em todas as áreas do conhecimento há aumento no número de trabalhos e aumento na qualidade, por número de citações”, disse. Helena Nader disse ainda que a ciência brasileira, embora jovem, está bem em termos de interdisciplinaridade. No que se refere à inovação, entretanto, o País não mostra bons resultados por causa do número de patentes. Para Nader, no entanto, não é culpa da ciência o Brasil figurar entre os países com o pior desempenho na área de inovação; o problema deve-se ao ambiente de negócios do Brasil. Nesse caso, ela conta que a SBPC vem defendendo a derrubada dos vetos ao Marco Legal da CT&I para estimular a inovação, a criação de patentes e evitar a judicialização. A presidente da SBPC disse também que entende os problemas econômicos pelos quais o Brasil atravessa e os esforços para a retomada da atividade econômica. Acrescentou, porém, que não será a fusão do MCTI que salvará a situação. “O questionamento é sobre a fusão do MCTI, com história de 31 anos de contribuições para o País. Por que a fusão com o Ministério das Comunicações?”, questionou. De acordo com ele, é consenso de que a área socioeconômica global é fundamentada no conhecimento que o considera como imperativo motor do desenvolvimento. Ao longo de 30 anos, o MCTI teve trajetória bem sucedida e a descontinuidade dos processos na operacionalização e da intensificação dos investimentos do setor de CT&I implicará em atrasos perigosos, muitas vezes irrecuperáveis nessa área. “Isso é assustador na minha visão. Aumentou o número de pesquisadores, o número de pesquisas, mas o financiamento é o mesmo de 15 anos atrás”, disse. Enquanto isso, ela destacou que na China a ciência é o principal item da agenda do desenvolvimento. Segundo o representante da ABC, o Brasil aplica cerca de 2% do PIB em P&D. Na União Europeia, os recursos devem chegar a 3% do PIB em 2020. Na China, os recursos representam 2,5% do produto interno bruto, mas, as informações recentes, são de que o percentual deve aumentar para 3% até 2020. Já na Coreia os investimentos giram em torno de 4% do PIB. O representante da ABC discorreu ainda sobre a dificuldade do processo de operacionalização das políticas públicas. “Temos extrema dificuldade em nosso país de operacionalizar as políticas públicas”, disse. “São alguns exemplos da importância da CT&I para a soberania do País. Entendemos a necessidade da redução de ministérios; as medidas de ajustes fiscais e econômicas são necessárias. Contudo, são insuficientes como fundamentos para o desenvolvimento sustentável ao longo do tempo”, disse. Segundo Rech, os cortes de recursos do MCTI e a fusão dos ministérios estão causando sérios danos à imagem do Brasil no exterior, prejudicando tanto as pesquisas como a formação de pesquisadores, diante da sinalização da redução da área da ciência, tecnologia e inovação. Com a mesma opinião, o superintendente Científico, Tecnológico e de Inovação da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), Manoel Santana Cardoso, que representou o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), disse que a fusão entre os dois ministérios representa um risco à ciência e tecnologia no País. Para ele, a C&T precisa de uma agenda própria. “Não esperávamos estar discutindo, neste momento, a pertinência ou não do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Não existe economia desenvolvida e globalizada sem a área de C&T organizada”, destacou. Balduíno disse ainda que a fusão do MCTI com a pasta das Comunicações é preocupante e fez vários questionamentos. “Não estamos tratando de uma caixinha na Esplanada. Estamos tratando de uma política de Estado, de soberania Nacional”, disse, e acrescentou: “Será que o fato de cancelar três secretarias do MCTI e uma do Ministério das Comunicações vai resolver o problema do País? Nenhum de nós acredita que a fusão aumentará a eficiência do MCTI em suas finalidades”, disse. Balduíno disse ainda que o cientista Renato Archer (São Luís, 10 de julho de 1922 São Paulo, 20 de junho de 1996), primeiro ministro da pasta, “deve estar se revirando no túmulo, pela fusão do MCTI”, ironizado o fato de o Ministério ter sido criado pelo próprio PMDB, por José Sarney, ao assumir a presidência depois da morte de Tancredo Neves. Segundo ele, a autonomia do MCTI pode ser trazida por uma emenda aprovada pelo Senado Federal. “O que trouxe o Ministério da Cultura de volta foi a mobilização de atores. É preciso da mobilização da comunidade científica, de alunos, do setor produtivo”, disse. “Acho que precisamos fazer um pacto (na CCT). Estamos chocados e tomara que o bom senso prevaleça”, complementou. Por sua vez, o senador Cristovam Buarque chamou de “insana” a fusão. “Esse gesto tem sido justificado pela crise que o Brasil vive, por causa da economia de recursos. Mas se fizer as contas, a fusão, não vai resolver nada”, reforçou. JC. |
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