|
NOVIDADES
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, esteve na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC) no dia 16 de junho para uma conversa com cientistas e reitores de universidades do Rio de Janeiro sobre as perspectivas para CT&I. A mesa foi composta pelo presidente da ABC, Luiz Davidovich; o secretário executivo do MCTIC, Elton Zacarias; o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, o Acadêmico Jailson Bittencourt; o secretário de Inovação, o Acadêmico Alvaro Prata; e a vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Acadêmica Vanderlan Bolzani, além de Kassab. Participaram os reitores e representantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadal do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Estadual da Zona Oeste (Uezo) e Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Também estavam presentes o secretário estadual de Ciência e tecnologia do Rio de Janeiro, Gustavo Tutuca; o prefeito de Duque de Caxias e ex-secretário estadual de CT&T, Alexandre Cardoso; o presidente do CNPq, o Acadêmico Hernan Chaimovich; o presidente da Embrapii; o Acadêmico Jorge Guimarães ; o diretor da Coppe-UFRJ, o também Acadêmico Edson Watanabe, e outras autoridades e membros da ABC, incluindo o seu ex-presidente Jacob Palis. Jailson Bittencourt, Elton Zacarias, Gilberto Kassab, Luiz Davidovich, Vanderlan Bolzani e Alvaro Prata Créditos: ABC
"As duas áreas têm um ethos e uma práxis muito diferentes", afirmou. "O das comunicações envolve a empresa de correios e telégrafos, concessões de radio e televisão, são outras atividades. O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação purificava os políticos que passavam por lá, porque tinham contato com os cientistas e com projetos e propostas avaliados por comissões técnicas. Tinha uma agenda positiva para o país, suprapartidária, que faz bem para todos, porque, na teoria, ninguém contesta que CT&I fazem bem para o Brasil." Comentou, entretanto, que na prática é diferente e, nos últimos quatro anos, houve significativos cortes no orçamento desse setor. Afetou, principalmente, as áreas de pesquisa & desenvolvimento e inovação nas unidades de pesquisa e organizações sociais, o projeto Sirius, do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), as bolsas do CNPq e o projeto de radiofármacos da CNEN [Comissão Nacional de Energia Nuclear]. Davidovich afirmou, ainda, que a arrecadação para os fundos setoriais foi crescente de 1999 a 2012, mas houve uma queda vertiginosa de sua aplicação a partir de 2010. Kassab destacou que espera contribuir para atingir os objetivos pelos quais a comunidade científica tem trabalhado tanto. "Eu entendo que a questão dos recursos é a mais importante e cabe a nós, todos juntos, trabalhar para que possamos não apenas reverter, mas retomar a curva de crescimento. Vamos tentar estabelecer um cronograma, quem sabe até uma lei, para que os investimentos em ciência possam se aproximar dos 2% do PIB, pois essa bandeira eu comprei." Gilberto Kassab, em entrevista para a imprensa após o debate Créditos : ABC O ministro comentou que o presidente interino, Michel temer, já assumiu o compromisso de reativar o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. "A agenda já está sendo construída pelos secretários junto à Casa Civil." Ele falou, ainda, que vem trabalhando para tentar reverter os vetos feitos pela presidente afastada, Dilma Rousseff, ao Marco Legal de CT&I. Por apenas três votos no Senado, os vetos não foram derrubados. Para isso, Kassab está atuando em duas frentes - uma é tentar aprovar uma Medida Provisória e outra é o compromisso assumido pelos deputados de votar um novo projeto. "O que sair antes é melhor para nós." Kassab completou oferecendo disposição para trabalhar muito e pediu apoio da comunidade científica. "A ABC é referência para a ciência. A minha visita não é apenas protocolar, mas como um brasileiro que tem muito orgulho da nossa Academia. Quero encampar a bandeira de vocês." Álvaro Prata enfatizou que é preciso ampliar o benefício que a ciência e a tecnologia já traz para o Brasil em algumas áreas em que o país é competitivo, e disse que conta com a colaboração de todos no novo Ministério. Jailson Bittencourt, que já vinha atuando no MCTI há 14 meses, afirmou que Gilberto Kassab abraçou todas as ações que já estavam em andamento, como o programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs). Além disso, uma nova agenda de programas já vem sendo discutida para a recomposição do Ministério. Representando a SBPC, Vanderlan Bolzani argumentou que a ciência é a mola propulsora do desenvolvimento global, e que a comunidade está ansiosa para que as previsões colocadas pelo ministro aconteçam de fato. "Queremos exportar tecnologia e não apenas commodities, para sermos mais fortes." Roberto Leher, reitor da UFRJ, saudou Kassab por manter uma equipe que tem reconhecimento na comunidade científica, e afirmou que este é um momento importantíssimo para a manutenção do campo estratégico da ciência e tecnologia. "Temos elos frágeis, como a possibilidade de uma queda abrupta de recursos das universidades." Evento reuniu boa parte da comunidade científica do Rio de Janeiro. Créditos: ABC Roberto Lent, Acadêmico e professor da UFRJ, questionou de que modo se coaduna a ciência e a tecnologia com o congelamento dos orçamentos dos Ministérios. Kassab reconheceu que a área que mais perdeu nesse contexto foi a de CT&I, mas que buscará reconstruir o patamar em que o setor estava antes, para depois trabalhar em seu avanço. "Com certeza, isso vai ser traduzido, em termos brutos, em mais recursos." Luis César Passoni, reitor da Uenf, perguntou sobre o conflito de interesses entre o Ministério de CT&I com o das Comunicações e sobre o tempo dedicado a uma questão e a outra. Falou, ainda, sobre a situação precária das universidades estaduais fluminenses, "estranguladas e correndo risco de existência" com a queda de orçamento. Sobre a questão da incompatibilidade, Kassab afirmou que não tem visto problemas gerenciais. "Minha agenda tem sido 80% dedicada a ciência e tecnologia." Em relação ao orçamento estadual, o ministro afirmou que o governo federal é solidário com o momento difícil vivido pelo Rio de Janeiro, mas que a solução a ser encontrada envolve mais do que o mundo universitário. Antonio Carlos Campos de Carvalho, Acadêmico e professor da UFRJ, questionou sobre os recursos dos fundos setoriais que estão bloqueados e poderiam ser utilizados pela área de CT&I. Kassab respondeu que o contingenciamento é de caráter geral. Elton Zacarias acrescentou que todos os fundos estão sendo usados para recuperar o superávit primário. Jailson Bittencourt explicou, ainda, que o fundo voltado para a C&T é o CT-Petro, cuja arrecadação passou de R$ 10 bilhões. "Se conseguirmos utilizá-lo, poderíamos pagar R$ 2 bilhões de débito do FNDCT e haveria cerca de R$ 8 bilhões para investir. Outros fundos têm entre R$ 7 e 8 bilhões. Então poderíamos ter pouco mais de R$ 15 bilhões, mais do que o orçamento do MCTI. O problema é fazer esses recursos se tornarem realidade." Alberto Passos Guimarães, Acadêmico e pesquisador do CBPF, ressaltou que, em uma democracia, a ciência, para ser apoiada, exige que se façam os investimentos necessários. "É necessário fazer um trabalho de divulgação do que a ciência vem fazendo. Nós, pesquisadores, temos obrigação de prestar contas à sociedade, para que esta compreenda e contribua para a ciência." Em resposta, Kassab afirmou estar atento ao diálogo com a mídia e à importância da assessoria de imprensa. Edson Watanabe, Acadêmico e diretor da Coppe/UFRJ, disse ser preocupante ver o Poder Judiciário investir quase o dobro que a ciência e tecnologia. Kassab concordou e afirmou que é importante rediscutir as prioridades no Brasil. Avílio Franco, Acadêmico e pesquisador aposentado da Embrapa, comentou que o momento atual é de resiliência. "Temos dificuldade de formar equipes na fronteira da ciência e do país. Precisamos de muito investimento de longo prazo. O único projeto que temos de longo prazo é de corte e congelamento." Jerson Lima, Acadêmico e diretor científico da Faperj, lembrou que o MCTI foi responsável por "grandes revoluções", principalmente nas parcerias com os estados. Luiz Davidovich por fim, disse esperar que esse tenha sido o primeiro de uma série de diálogos do ministro com a Academia. "Vamos aprofundar o debate." ABC. |
© 2001-2020 LQES - lqes@iqm.unicamp.br
sobre o lqes | políticas | link o lqes | divulgação | fale conosco