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NOVIDADES
No Brasil, as desigualdades em termos de riqueza são extremas em quase todas as medidas incluindo a educação. As escolas públicas são tão fracas que são evitadas por todos, menos as famílias mais pobres. Ainda recentemente, em 2014, apenas 57 % dos jovens de 19 anos do país haviam concluído o ensino médio. Apesar disso, há sinais de progresso, especialmente em ciência, tecnologia, engenharia e medicina. Em 2011, por exemplo, o Brasil criou o Ciência sem Fronteiras, um programa que tinha por objetivo enviar dezenas de milhares de alunos de graduação e pós-graduação com bom desempenho acadêmico para estudar no exterior. Porque os estudantes de famílias mais ricas têm, de longe, o melhor ensino primário e secundário, seria esperado que eles dominassem no processo de seleção. Mas, no final da primeira fase, neste ano, mais da metade dos 73,353 participantes tinham vindo de famílias de baixa renda. “Estas estatísticas realmente pegaram todos nós de surpresa”, diz Carlos Nobre, cientista climático que anteriormente dirigiu uma das fundações públicas que financiam o Ciência sem Fronteiras (Capes). Em São Paulo, por sua vez, a escola de medicina na prestigiosa Universidade de Campinas (Unicamp) dá preferência para admitir alunos que se destacam nas escolas públicas. O programa começou em 2004, depois que uma pesquisa apontou que aqueles com os resultados dos testes antes da admissão semelhantes aos seus colegas oriundos das escolas privadas, predominantemente alunos pobres de escolas públicas, tendiam a ter um melhor desempenho na Unicamp. Esses alunos representaram 68% dos ingressantes neste ano. Carlos Henrique de Brito Cruz, que lançou a iniciativa na Unicamp, quando era o reitor da Universidade, acredita que parte da resposta é bastante simples. “Esses alunos tiveram mais obstáculos a superar”, diz ele. “E quando você os coloca em um ambiente onde os obstáculos são mais ou menos os mesmos, eles tendem a atingir mais o seu potencial.” O Brasil também pode estar vendo os frutos do esforço do governo para melhorar o conhecimento científico e empurrar mais estudantes para as carreiras científicas, que ganharam força após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. Uma divisão no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação se concentrou totalmente na “inclusão social”, com programas para melhorar as escolas públicas e promover a pesquisa em domínios que afetam as comunidades locais, tais como nutrição e sustentabilidade. A baixa qualidade do ensino secundário continua a ser um grave problema que pode afetar uma geração ou mais, dizem os especialistas. No entanto, as iniciativas já existentes poderiam reforçar a qualidade das escolas públicas o suficiente para estudantes ambiciosos se sobressaírem, diz Nobre. A próxima questão, diz ele, é se esses alunos serão capazes de reforçar a inovação na ciência brasileira. “Agora que eles estão entrando no mercado, vamos ter de começar a avaliar muito rapidamente o que aconteceu com esses alunos”. A reportagem na íntegra, com os estudos sobre os outros sete países Estados Unidos, China, Reino Unido, Japão, Índia, Quênia e Rússia pode ser acessada, em inglês, aqui. Leia também o dossiê completo da revista Nature sobre ciência e desigualdade: Nature Science and inequality. |
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