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NOVIDADES
Três questões com grande apelo na atualidade − ética, assédio e boa práticas na produção científica − marcaram a sessão de retomada das atividades do Núcleo de Estudos Avançados (NEA) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), inciativa criada há mais de 15 anos pelo pesquisador Renato Cordeiro, então diretor do Instituto e atual coordenador do Núcleo. Realizado na manhã desta sexta-feira (01/09), o encontro teve a participação de Luiz Henrique Lopes dos Santos, coordenador das Áreas de Humanidades da FAPESP; Natan Monsores, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB); e Maurício Tuffani, jornalista científico e editor do site ‘Direto da Ciência’. Na abertura do evento, Renato Cordeiro destacou a necessidade de fomentar discussões sobre ética na ciência Créditos: FioCruz
Santos usou como exemplo a relação entre orientadores e estudantes. “Qual é o limite da intervenção do tutor no desenvolvimento do trabalho do tutelado? A formação de um pesquisador não se faz sem que ele aprenda a exercer a sua autonomia, exercendo-a de fato”, ponderou. “É nesse jogo entre orientação, supervisão e autonomia que se coloca a questão do assédio. Disputas de autoria e coautoria, por exemplo, trazem prejuízos para o andamento da pesquisa”, pontuou. Coordenador das Áreas de Humanidades da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Santos contribuiu para a elaboração do Código de Boas Práticas Científicas publicado pela agência de fomento em 2011 [clique aqui para conhecer]. “Há um estado de anomia em relação à avaliação da produção científica, no Brasil e no mundo. Por um lado, não faltam métricas e critérios para mensuração quantitativa, porém, não há o desenvolvimento, com a mesma sofisticação, de maneiras de avaliação qualitativa daquilo que está sendo produzido”, criticou. Luiz Henrique Lopes dos Santos (esquerda), Natan Monsores e Maurício Tuffani foram os convidados da edição de retomada do evento Créditos: Fiocruz Monsores pontuou também alguns tipos de assédio presentes no universo científico, que, muitas vezes, passam despercebidos. “Oferecer instruções confusas e imprecisas, dificultar o trabalho, atribuir erros imaginários, sobrecarregar com tarefas, fazer críticas ou brincadeiras de mau gosto, impor horários injustificados e restringir o uso de equipamentos e espaços são práticas que podem ser consideradas assédio. O profissional ou estudante que esteja passando por isso precisa encontrar ajuda dentro da instituição”, comentou o professor, ressaltando que outra conduta muito comum, mas que as pessoas não costumam enxergar como assédio, é o fato de um pesquisador querer se incluir como coautor de um determinado artigo científico na medida em que viabiliza acesso a equipamentos ou verbas para realização de experimentos. “Essas ações não podem ser vistas como naturais. Podemos mudá-las buscando saber quais mecanismos a instituição oferece para ajudar o oprimido a romper com essas formas de assédio. Precisamos criar mecanismos para nos proteger, sem esquecer de protegê-los também”, concluiu. Destacou, ainda, a discriminação envolvendo gênero, bem como episódios de assédio sexual. Nesse aspecto, enumerou situações de misoginia que podem envolver a insistência em repetir instruções de forma desnecessária (pressupondo que a interlocutora não as domina ou não as compreendeu), supostas brincadeiras que remetem aos benefícios estéticos da presença de mulheres nos ambientes de laboratório e uma tendência a interromper a fala da mulher durante diálogos. Com quase 40 anos de carreira, Tuffani atuou como editor-chefe da revista Scientific American Brasil e como repórter e editor do jornal Folha de S. Paulo. Ele destacou que a percepção pública da figura do cientista está diretamente relacionada à veiculação de reportagens na mídia. Sua crítica ao panorama atual do jornalismo científico é contundente: “há uma espécie ‘chapa branca’ no jornalismo científico. Muitas das reportagens que repercutem as recentes descobertas não contemplam mais de um ponto de vista, deixando de cumprir um papel essencial do jornalismo”, concluiu, destacando aspectos como a ausência de contraditório e o uso excessivo de fontes oficiais. Assessoria de Comunicação do Instituto Oswaldo Cruz. Posted: Set 04, 2017. Nota do Manager Editor: Esta matéria foi primeiramente veiculada no site do Instituto Oswaldo Cruz. As reportagens foram de Lucas Rocha e Kadu Cayres com edição de Raquel Aguiar. Assuntos Conexos: Segregação vertical impacta trajetória das mulheres cientistas, apontam especialistas. |
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