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NOVIDADES
O que deve ser priorizado na publicação de trabalhos científicos: Quantidade ou qualidade? Cientistas e pesquisadores costumam ser avaliados por sua produtividade, publicando em revistas científicas de impacto. Mas essa deve ser a única forma de apreciação do desempenho acadêmico? Existem, no entanto, alguns riscos importantes que surgem sempre que se busca colocar essa ideia na prática. O primeiro é quando se toma uma tendência geral uma correlação como válida e aplicável a situações individuais. Dados mostram que os melhores pesquisadores publicam muito e são muito citados, mas podem existir aqueles com muitas publicações desinteressantes, e outros com poucas publicações e trabalhos, mas de grande impacto. A única maneira de lidar com isso é entender que o dado estatístico, o indicador, é apenas um dado, que precisa ser interpretado caso a caso pelos pares. Quando pesquisadores ou departamentos de pesquisa são avaliados exclusivamente por seus indicadores, muitas vezes por pessoas ou instituições que nem sequer entendem do conteúdo dos trabalhos, a chance de erros é muito grande. O segundo problema, bastante geral nas avaliações, é quando o indicador passa a ser mais importante do que aquilo que ele deveria indicar. Se o que importa é o número de publicações e citações, e não o que está sendo publicado ou citado, isso abre a porta para manipular os indicadores dividir um artigo em três; dar preferência a projetos de curto prazo, em detrimento de projetos de duração mais longa; aprender como escrever para agradar os editores das revistas, sem correr riscos; e combinar com os amigos citações cruzadas eu cito você, você me cita, e nós dois subimos nos rankings. O terceiro problema é o chamado efeito Mateus, descrito pelo sociólogo estadunidense Robert Merton (1910-2003) anos atrás para descrever a concentração da pesquisa nos principais centros e ao redor dos nomes mais famosos (ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem Mateus 13:2). Como os que mais têm trabalham e publicam em inglês nas revistas mais famosas dos países centrais, então mais vale colocar um artigo mais bem comportado junto a esses do que publicar um artigo mais brilhante e criativo em uma revista que ninguém importante vai ler ou comentar. Publicar ou perecer ? Créditos: Physicsworld
Nada disso significa que os indicadores de produtividade não sejam importantes, mas sim que eles não podem ser aplicados de forma burocrática e automática. Em última análise, indicadores de publicações e citações não são dados objetivos, mas agregações das avaliações subjetivas feitas pelos editores das revistas e pelos leitores dos artigos. Essa subjetividade não pode ser ignorada, mas precisa ser ponderada pelo juízo crítico dos pares que têm a responsabilidade de decidir sobre a qualidade e o futuro profissional de seus colegas em cada caso. É como um médico que precisa usar de sua experiência e do conhecimento do paciente para avaliar o resultado de um exame de laboratório; uma responsabilidade que não pode ser transferida a indicadores de nenhum tipo, por melhores que sejam. Simon Schwartzman é sociólogo, cientista político e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade no Rio de Janeiro. Foi presidente do IBGE (1994-1998) e diretor para o Brasil do American Institutes for Research (1999-2002). Ciência Hoje Online. Nota do Managing Editor: Esta matéria foi veiculada primeiramente no Ciência Hoje Online de 31 de janeiro de 2014. A ilustração não faz parte da matéria original e foi obtida em www.google.com. Assuntos Conexos: |
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