|
NOVIDADES
Por que, uma vez seco, o cimento "cola" tão bem? Contrariamente ao que se poderia acreditar, embora esse material seja utilizado há séculos (os romanos já sabiam fazê-lo), não se sabe bem porque ele é tão sólido. Contudo, pesquisadores do MIT - Massachusetts Institute of Technology (EUA) dizem ter penetrado em um de seus mistérios, o que permitiria esperar um procedimento de fabricação com menor emissão de dióxido de carbono (CO2). Aqueles que sabem tudo sobre a fabricação do cimento podem pular os dois parágrafos seguintes... Bem esquematicamente, o cimento é obtido por cozimento de uma mistura de calcário e argila, a uma temperatura de 1450 oC. Nessa pasta quase líquida se desenvolve um grande número de reações químicas, as quais os "cimenteiros" estão longe de conhecer. O resultado é uma espécie de rocha a que chamam "clinker", a qual é triturada, adicionado gipso (sulfato de cálcio hidratado, o mesmo que gipsita) e, eventualmente, alguns outros ingredientes. É o cimento que, em seguida, será misturado a areia, cascalhos e água para fabricar o concreto. A água acrescentada ao cimento dissolve, em parte, o composto principal, o silicato tricálcico, o que libera íons (silicatos, hidroxilas e cálcio). Esses três componentes reagem para formar silicato de cálcio hidratado, o qual é chamado CSH, conforme a terminologia inglesa (calcium silicate hydrate). As propriedades do cimento seco devem bastante a esse CSH, que cola, literalmente, os grãos de areia e o cascalho do concreto. A equipe do MIT, em colaboração com o fabricante de cimento Lafarge (França), trabalhou sobre as propriedades mecânicas do CSH em escala microscópica, com uma instrumentação sofisticada, da qual não existem senão cinco exemplares no mundo. Primeira descoberta: o CSH se apresenta sob duas formas, de composições idênticas, mas estruturalmente diferentes. Georgios Constantinides e Franz-Josef Ulm, os dois autores, falam de duas fases, uma de alta e outra de baixa densidade. Essas duas densidades correspondem exatamente aos valores máximos teóricos conhecidos pelos matemáticos para o arranjo de objetos esféricos, segundo os dois métodos possíveis: jogando-os aleatoriamente em uma caixa e os empilhando cuidadosamente em pirâmide, como laranjas à venda num supermercado. Ao microscópio eletrônico, o cimento (após amassamento em água e a seco) revela estrutura granular. As partículas são de tamanhos variáveis (a imagem mostra um quadrado de 150 x 150 µm). Os autores do estudo mostraram que é possível caracterizar a estrutura do cimento estudando-se superfícies de 100 x 100 µm. Créditos: K. Scrivener
A compreensão das propriedades mecânicas do cimento e a melhoria das performances (tempos de secagem, resistência, elasticidade...) são temas que os fabricantes de cimento nunca se cansaram de pesquisar. Contudo, explicam os autores, poderia existir uma outra vantagem, dessa vez relativa ao meio ambiente. Até aqui, ninguém se preocupou verdadeiramente com o efeito estufa, quando da fabricação do cimento. Contudo, ele é significativo. Cada ano, a humanidade produz 2,3 bilhões de toneladas de cimento, seja: 1 metro cúbico de concreto por pessoa... Otimistas, os pesquisadores explicam que, se bem compreendido o mecanismo de aderência das nanopartículas, poderá ser possível encontrar ou fabricar um material diferente do silicato tricálcico, cuja fabricação necessitará de temperaturas inferiores a 1500 oC. A emissão de CO2 quando da combustão nos fornos de cimento será reduzida, "de 10% em escala mundial", afirmam eles. Franz-Josef Ulm explica que vem se debruçando atualmente sobre estudos que visam à substituição do cálcio pelo magnésio e acredita que seus pesquisadores chegarão a uma nova geração de cimento em cinco anos. MIT News, January 30, 2007 e Futura, 02 Fevrier, 2007 (Tradução/Texto - MIA). Nota do Scientific Editor: informações adicionais podem ser obtidas com a leitura do artigo: "The nanogranular nature of CSH", G. Constantinides and F-J. Ulm - Journal of the Mechanics and Physics of Solids, Volume 55, página 64, janeiro de 2007. |
© 2001-2020 LQES - lqes@iqm.unicamp.br
sobre o lqes | políticas | link o lqes | divulgação | fale conosco