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Micróbios comedores de Ferro na Antártida.

Num lago subterrâneo da Antártida, onde não existe oxigênio nem chega a luz, e onde os elementos mais freqüentes são o sal, o enxofre e o ferro, uma equipe norte-americana descobriu estranhas formas de vida. São micróbios que digerem ferro, graças a um metabolismo nunca antes descrito. A novidade foi publicada em abril, na revista Science.

O ambiente é um dos mais inóspitos da Terra: um pedaço de mar que ficou "perdido" entre o gelo de uma geleira da Antártida e a superfície rochosa do planeta. Ali não entra uma só partícula de luz há milhões de anos, não há oxigênio e faz um frio mortal. Contra todas as expectativas, aquela bolsa de água carregada de sal, de enxofre e de ferro contém uma diversidade de bactérias que se alimentam justamente destes elementos.

A extraordinária descoberta foi feita por um grupo de cientistas de vários centros de pesquisa dos EUA. De acordo com a equipe, este estranho ecossistema pode ser um bom modelo, não apenas para a busca de vida em outros planetas, mas também um laboratório moderno, com condições geoquímicas e biológicas da Terra há muitos milhões de anos, o que abre portas a novos e fascinantes caminhos de pesquisa.





Visão da geleira.

Créditos: DN.



Este mar subterrâneo fechado fica sob a Geleira Taylor, perto do Lago Booney, na zona Leste da Antártida, onde existe uma formação geológica que, já em 1911, chamou a atenção dos exploradores que se aventuraram até àquelas paragens. Chamaram a essa formação gelada Blood Falls (cataratas de sangue) devido à cor avermelhada. Esse material vermelho brota da geleira de tempos em tempos. Os descobridores das "cataratas de sangue" especularam sobre a possibilidade de a cor se dever à presença de algas vermelhas. Mais tarde confirmou-se que não eram algas, mas ferrugem, cuja origem se desconhecia.

A equipe liderada pela pesquisadora Jill Mikucki, da Universidade de Dartmouth, decidiu recolher amostras daquele efluente vermelho da geleira, mas para analisar seu conteúdo era necessário que as recolhesse quando elas estivessem saindo da terra. Como as cataratas não são regulares, foram necessários alguns anos para se obter as amostras necessárias.

A sua análise permitiu descobrir que o lago subterrâneo é rico em enxofre e ferro e muito salgado e tem uma enorme variedade de microorganismos.

Apesar do seu isolamento, que os pesquisadores estimam entre 1,5 a dois mil milhões de anos (os primeiros registros fósseis de vida têm 3,5 mil milhões de anos), estes micróbios são muito idênticos a algumas espécies microbianas hoje existentes nos habitats marinhos, mas desenvolveram uma estratégia única de sobrevivência, que nunca tinha sido descrita antes. Metabolizam enxofre e ferro para extrair energia deste último elemento, que existe nas rochas.

A descoberta destes "comedores de ferro" microscópicos também explica a cor dos efluentes que saem das profundezas da geleira. A ferrugem que dá o tom avermelhado àquela paisagem é o resultado das digestões daqueles microorganismos, que os cientistas acreditam serem descendentes de antigos micróbios marinhos que ali ficaram presos e se alteraram nas condições de isolamento prolongado, desenvolvendo então as estratégias necessárias à sobrevivência naquele ambiente.

Diário de Notícias (Lisboa), 17 de abril, 2009.


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