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NOVIDADES
Uma equipe internacional de pesquisadores australianos, finlandeses e canadenses acaba de encontrar o que parecem ser traços do bombardeamento meteorítico ocorrido no Arqueano (Arqueano ou Arcaico é o éon que está compreendido entre 3,85 bilhões de anos e 2,5 bilhões de anos atrás) nos famosos comatiitas, lavas de uma fluidez excepcional. Tais traços explicariam porque sempre existe platina na crosta terrestre, quando a mesma deveria se encontrar no coração ferroso da Terra. Como o paládio e o ósmio, a platina faz parte dos elementos siderofilos (elementos de transição, de alta densidade, que tendem a se ligar com o ferro). Todos eles deveriam se encontrar "aprisionados" no núcleo da terra, formado de ferro e de níquel, no início da formação de nosso planeta, em algumas dezenas de milhões de anos. Para explicar a presença desses elementos na crosta e no manto terrestre é preciso que se trabalhe com a hipótese de um aporte tardio (late veneer, em inglês), quando do bombardeamento meteorítico intenso das primeiras centenas de milhões de anos da história da Terra. Mas, como testar essa hipótese? A resposta veio do estudo dos restos de derramamentos vulcânicos particulares que quase não são mais produzidos na Terra no fim do período chamado Arqueano, após o Hadeano. Esses derramamentos geraram lavas que existem ainda hoje sob forma metamorfizada: as comatiitas. Elas devem seu nome a um rio que corre na África do Sul, na célebre região de Barberton, o rio Komati. São já conhecidas lavas bastante fluidas que correm ainda hoje sobre o planeta, como as carbonatitas do Lengai (vulcão situado na Tanzânia), mas as comatiitas deveriam ser bem mais fluidas ainda. Sua composição química baseada em lavas básicas e ultra-básicas, portanto pobres em silício e muito ricas em olivina (mineral à base de silício, contendo ferro e magnésio). Elas contêm de 18% a 35% em peso de óxido de magnésio (MgO), enquanto os basaltos (rochas ígneas eruptivas) clássicos contêm menos de 10%. Para a surpresa dos pesquisadores, que inicialmente trabalharam com essas lavas para melhor compreender as condições de formação das grandes jazidas de níquel, freqüentemente associados às comatiitas, a quantidade de platina nessas lavas variou durante o Arqueano. As mais velhas comatiitas conhecidas eram pobres em platina, todavia, a quantidade desse metal precioso não deixou de aumentar gradualmente entre 3,5 bilhões e 2,9 bilhões de anos. Ora, como os basaltos fluidos do Havaí, as comatiitas parecem provir da subida de magmas saídos de uma zona na fronteira entre o núcleo e o manto. Tal enriquecimento progressivo em platina num manto bastante convectivo calha bem, portanto, com o conceito de late veneer. A contribuição de platina nova, durante o último período em que o bombardeamento meteorítico ainda era importante, se bem que declinante, atingiu progressivamente as camadas mais profundas do manto quente e fluido sob o simples efeito da gravidade. A platina é, de fato, um metal pesado e, como o ferro e o níquel, não foi possível impedir sua submersão lenta, mas certa, graças a seu próprio peso, nas entranhas da Terra. Comatiita datada de 3,5 bilhões de anos, proveniente da região de Barberton, onde corre o rio Komati (África do Sul). Créditos: Liz Johnson. À semelhança do ouro e dos diamantes negros, a platina da crosta terrestre parece realmente ser de origem extraterrestre... Futura-Sciences (Tradução - MIA/OLA). |
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