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Uma trajetória original.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é uma instituição jovem de ensino superior e de pesquisa que se destaca no cenário nacional ao lado de instituições mais antigas e mais tradicionais. Sua relevância se deve, em grande medida, à forma original de sua criação. Universidades como a de São Paulo (USP), a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Federal de Pernambuco (UFPE), entre outras, formaram-se principalmente nos anos de 1930 e 1940 a partir da fusão de faculdades ou escolas superiores preexistentes. A Unicamp começou do zero, tal como a Universidade de Brasília (UnB), mas o radical projeto do antropólogo Darcy Ribeiro e do educador Anísio Teixeira para a nova capital federal foi rapidamente reformulado, não sobrevivendo à radicalização do regime militar.



Unicamp: 50 anos !

Créditos: Comurb


Um improvável elo entre as duas experiências foi o médico parasitologista Zeferino Vaz. Figura onipresente nos anos de formação da Unicamp, Zeferino, como era conhecido, foi bem-sucedido na execução do projeto paulista por aliar uma visão inovadora de universidade com um ótimo trânsito político. Havia fundado e dirigido a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, modernizando o ensino da medicina ao dar ênfase em áreas como bioquímica e farmacologia, conta Simon Schwartzman no livro Um espaço para a ciência – A formação da comunidade científica no Brasil (MCT, 2001). Em 1964, foi nomeado pelo presidente Castello Branco para comandar a UnB, substituindo Anísio Teixeira, que deixou o cargo com a instauração do governo militar. Malvisto por muitos pela proximidade com o novo regime, prosseguiu com a implantação da estrutura inovadora da instituição. O projeto era resultado das ideias do Conselho Federal de Educação, onde despontavam nomes como Teixeira, Newton Sucupira (o “pai” da pós-graduação no País) e Maurício Rocha e Silva (um dos fundadores da SBPC). A UnB não adotou o sistema de cátedra, organizando-se em torno de institutos centrais responsáveis por ensino e pesquisa em determinadas disciplinas. Em 1965, Zeferino deixou a reitoria e logo depois foi indicado para presidir o comitê organizador da nova universidade estadual em Campinas.

Zeferino era próximo do economista João Paulo dos Reis Velloso, responsável pela criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em 1969, ano em que assumiu a pasta do Planejamento, da qual foi titular por 10 anos. De lá vinha a maior parte dos recursos públicos para pesquisa científica e tecnológica, o que tornava a aliança essencial para o estabelecimento da nova universidade. Reis Velloso participou pessoalmente desse esforço – foi à Califórnia negociar a volta do físico Sergio Porto ao Brasil, para assumir uma posição na Unicamp. Schwartzman também lista como importantes aliados da iniciativa nomes como Delfim Netto (ministro da Fazenda dos governos Costa e Silva e Médici) e José Pelúcio Ferreira (BNDE e Finep). O apoio federal complementava o significativo apoio estadual, representado pelo secretário de Finanças, Dilson Funaro (ver reportagem sobre a formação da Unicamp).

A criação das universidades brasileiras nas primeiras décadas do século XX foi justificada em nome da cultura e da civilização. No pós-guerra, a ciência passou a ser vista como ferramenta essencial para o desenvolvimento econômico do País. Para Schwartzman, a partir de então foram criadas algumas instituições de elite nos campos de pesquisa e ensino que serviram de modelo e inspiração para reformas mais amplas que foram tentadas nos anos seguintes. Iniciativas como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Unicamp e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe, da UFRJ) compartilhavam características como uma liderança pessoal bem definida (Zeferino, Coimbra e Richard Smith, primeiro reitor do ITA) e o fato de serem instituições novas (e não reformadas), o que as poupou de disputar espaços com interesses estabelecidos e rotinas institucionais.

A Unicamp não conseguiu escapar completamente da estrutura conservadora do passado, mas a trajetória original percorrida resultou em uma instituição cinquentenária vigorosa, como ilustram os números acima. O desafio é manter o equilíbrio entre seu caráter inovador e as rotinas institucionais, que por sua própria natureza privilegiam caminhos estabelecidos em detrimento da ousadia.

As 26 reportagens que compõem este suplemento especial, junto com os artigos do presidente da Fapesp, José Goldemberg, e de seu diretor científico, Carlos Henrique de Brito Cruz, não esgotam a rica história da Unicamp. A – difícil – escolha de alguns temas ou áreas não representa demérito ou desconhecimento de outras. A revista Pesquisa Fapesp, como diz o nome, tem como recorte o universo da investigação científica, o que a levou a uma concentração maior nessas atividades, sem desmerecer o ensino e a extensão, que com a pesquisa compõem o tripé em que a universidade se baseia.

Veja o suplemento completo: Revista Pesquisa Fapesp.


Nota do Manager Editor - Esta ilustração não consta da matéria original e foi introduzida pela Editoria do Boletim.


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